quarta-feira, junho 02, 2010
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sexta-feira, abril 10, 2009
A DERRADEIRA
Entre a ilusão e a resignação
Capítulo I
Este é o momento. A hora derradeira, onde tudo que foi feito vai ser analisado finalmente. E não é qualquer julgamento vão, cheio de preconceitos e idéias fracamente concebidas. Aqui se está a analisar a capacidade de aceitação, redenção e finalmente, o tão sonhado reconhecimento.
Capítulo I
Este é o momento. A hora derradeira, onde tudo que foi feito vai ser analisado finalmente. E não é qualquer julgamento vão, cheio de preconceitos e idéias fracamente concebidas. Aqui se está a analisar a capacidade de aceitação, redenção e finalmente, o tão sonhado reconhecimento.
É necessário entender que assumir não é a única coisa a ser feita. É necessário vestir o alvo e aceitar os tiros que virão. Se não vierem, esperar, e muito, para que chegue o dia do perdão. É a mudança. Anos serão analisados até aqui. E o passado? Sim, este monstro qual você tem se escondido por tantas décadas vai estar lhe esperando e você precisa conversar com ele.
No início da manhã, depois de mais uma vez mal-dormir assistindo filmes até a madrugada, resolveu finalmente ir ao trabalho. Mais um dia cansativo que lhe renderia as energias do dia.
A solidão da casa dava um vazio para a manhã. Os filhos já ali não estavam. A mulher, distante há um tempo. E ele mesmo, longo e enclausurado em suas neuras. Grosserias paliativas matinais apimentavam aquela solitária manhã, mas um sabor diferente estava pra vir. Eram os papéis.
Tão longamente esperados por todos. Tão certos e dignos de respeito. São os papéis da liberdade. A alforria que finalmente poderia ser assinada por aquele homem. Não um homem qualquer, mas o responsável pela desestruturada família e aquele casamento que já não cheirava a rosas há anos.
Pela janela do carro uma risada sem graça ao ler os ditos do envelope e a quem estava endereçado. Não havia mais tempo para pedir desculpas. Havia tempo para trabalho, para consumir sua mente com toda aquela decisão súbita. De alguma forma tentava se convencer, enquanto ultrapassava os carros, de que havia alguma salvação e que as coisas não estavam tão feias assim.
Tolice pensar assim, não só estavam irremediavelmente perdidas como era certo que daquele momento em diante tudo estaria a prova. O fardo de morrer sozinho poderia virar uma realidade imediata caso não aceitasse sua condição e as penosas conseqüências da vida que levara até então. Ao invés de se ajoelhar e esperar o castigo, resolveu utilizar mais uma vez suas táticas antigas de dominação, esperando que algo de bom acontecesse. Pobre homem.
Logo ligou para vizinhos e parentes. Disse que a mulher não podia de forma alguma fazer isso com ele. Que a vida toda dedicou a fazer o melhor para todos, que não lhe entendiam, que não haveria outra para viver a seu lado que não ela.
Categoricamente respondiam que ele fez por merecer. A arrogância e a auto-ilusão o invadiram imediatamente. Rapidamente disse que se ela não desistisse ele não daria um centavo e já a difamava, dizendo que haveria ela achado algum outro homem. Coisas do carnaval. Já estava ele a criar histórias e já começava a acreditar tanto nisto que ele já se sentia triste por se achar tão injustiçado a esta altura da vida.
Capítulo II
Não ligaria para seus filhos. Não conseguia enganar-se a este ponto. Ele sabia, no fundo no fundo, que eles não estavam na casa por sua causa. O mais velho, saiu já aos 18 anos, pois não suportava aquele tempestuoso ambiente. A mais nova, aos 17, foi também para outra cidade, pois não havia nada pior do que ver os maus-tratos a sua mãe e as descargas de violência verbal diária que recebia.
Capítulo II
Não ligaria para seus filhos. Não conseguia enganar-se a este ponto. Ele sabia, no fundo no fundo, que eles não estavam na casa por sua causa. O mais velho, saiu já aos 18 anos, pois não suportava aquele tempestuoso ambiente. A mais nova, aos 17, foi também para outra cidade, pois não havia nada pior do que ver os maus-tratos a sua mãe e as descargas de violência verbal diária que recebia.
Mas antes de sair oficialmente, o mais velho passou por situações extraordinariamente absurdas, e que, certamente justificam seu afastamento e, de tão intensas, justificam a tendência a ignorar fatos, deste pai de família mentalmente conturbado.
Quando tinha 13 anos de idade, seu pai lhe perguntou se ele por algum acaso amava ele. Estava bêbado o suficiente para ser ignorado, pois era escandaloso e não havia o mínimo de entretenimento naquela situação. Era mais um dia daqueles, onde a adrenalina subia por causa do medo. Poderia ser ele que apanhasse, poderia ser a mãe. Poderia vir uma tragédia naquela hora. O pai sempre foi imprevisível.
- Não, não gosto de você. Foi a resposta e seu primeiro surto de coragem. Já chorava, mas não voltaria nas palavras jamais. O pai logo retrucou “Se não disser o contrário vai ficar de castigo um mês”. O menino nada respondeu e deu de ombros. Logo ameaças de agressão física vieram, mais choro. A mãe interveio, temendo o pior, disse que era brincadeira.
O assunto acabou mas perturbou o homem por meses. O filho havia parado de lhe chamar de pai. Era o que mais lhe afligia. Era tão difícil entender que ele havia se portado mal e justificava essas atitudes? Mas não, era mais fácil enganar a si e aos outros. Inventava histórias. Dizia que seu filho lhe humilhou uma vez. Esquecia das humilhações e de tudo de mal que havia dito.
Com seis anos forçou o filho a ver filmes pornográficos, temendo um caso, para ele, vergonhoso, de homossexualidade na família. Com nove lhe deixou debaixo da cama revistar pornográficas. E ao longo do tempo o carinho foi se perdendo, dando lugar a gritos e ao medo. Por vezes achava divertido mostrar aos amigos que se soltasse um grito forte o filho choraria, e assim fazia, e os ‘amigos’ riam.
Além disso, outras cenas fortes permaneciam bem vivas sobre o passado daquela família. O pai trancava a porta para que a mãe não fosse trabalhar e, posteriormente acabou perdendo o emprego. Logo vieram as traições e o desespero quando não voltava. Chegou até a passar um natal fora de casa, a amante que morava longe lhe esperava e ele, preferiu-a. O filho agradeceu aos céus por esse dia, mas logo ele voltou e a paz findou-se na casa.
Depois, ameaças. Dizia a esposa que iria jogar o carro em alta velocidade no mar. Batia nela sazonalmente. Espancou-a na frente dos próprios pais. Era descontrolado com a bebida. Batia o carro repetidas vezes. Estava levando todos consigo. Estava destruindo tudo a sua volta.
Seu único lapso de consciência veio justamente num acidente. Depois de ter vindo certa vez com todos no carro a 180 km/h, resolveu tentar a façanha novamente e espalhar a desconfortabilíssima sensação de morte eminente na família que viajava nas férias. O asfalto molhado avisava-o para diminuir, mas os 140 por hora era o que ele precisava mais. Respondia magistralmente ‘eu sou piloto’, e ainda ignorava e repreendia o pedido, coberto de lágrimas, dos filhos. Desequilibrado como era, não se sabe porque, ignorou a estrada molhada a noite e qualquer caminhão que viesse no lado oposto da pista.
Os gritos logo vieram. O carro derrapara. Um penhasco convidava o carro. Nada mais justo. Beber, dirigir e correr tem seus riscos. Uma mureta rochosa beijou o carro. A filha projetou a cabeça contra a janela de trás e, o filho, apenas rodopiou no ar e bateu-se contra o banco do motorista.
Então o choro despertou o homem. Ele desesperou. Poderia ter matado alguém aquele dia. O que havia ele feito? Porque era incapaz de refletir sobre seus atos? Porque traia sua mulher? Logo, com muito pesar levou o carro pro acostamento. Chamou a mulher. Assumiu a amante que todos, inclusive os filhos, já sabiam o nome, Elizângela, moradora do distante Marback. Disse que iria mudar, que aquilo era um sinal divino. Infelizmente, isso durou poucas horas e aquele homem disposto a mudar morreu pouco depois do acidente, dando lugar ao que sempre esteve ali.
Pouco depois disso, voltamos a cena com o filho e a coragem. Passaram-se meses e ele chega em casa sem uma gota de álcool no sangue, o que era pra ser um bom sinal. Mentira pura. Mesmo sem estar entorpecido, o homem estava possuído aquele dia. Achou por bem descontar no filho o desconforto do desamor. O filho deveria lhe tratar como pai por bem ou por mal, mesmo que não quisesse.
Se justificou na cara escola que pagava e na comida que colocava a mesa. A mulher que ele fizera perder o emprego já não podia contestar tanto, pois temia uma represália maior aos filhos. Ele no entanto, justificava seus atos por sua infância. Seu pai lhe espancou com murros, sua mãe, com pedaços de pau. Tanto apanhou na infância que talvez tenha adquirido uma vontade de passar adiante esse legado violento. Alem disso, utilizou os estudos como refúgio, com o tempo começou a se achar melhor que os demais e daí vem seu problema com convicções e ilusões.
Ao chegar pediu a benção dos filhos. O mais velho logo pensou que não faria pois o pai não era digno de tamanha coisa. A filha, com medo, imediatamente fez e foi dormir. O filho ficou na cozinha, esperando que ele se distraísse. Subiu as escadas e deitou na cama, esperando dormir logo e que aquela noite estranha terminasse logo.
Não deu tempo de cochilar. Logo veio o medo intenso. Seu pai o chamava ‘venha cá seu moleque’. Ele haveria de descer as escadas. Haveria de confrontar com a violenta realidade. O monstro havia despertado. O amor não havia e o ódio era fundamentado cada vez mais.
‘Você pensa que eu sou besta? Você pensa que eu sou otário é?’ E logo o sermão da benção começou. Disse que tinha que ser respeitado pois acima de tudo era o pai. Era ele quem lhe sustentava. Ele lhe devia. Lhe devia tudo por causa dessa responsabilidade anterior de ter engravidado a mãe, mesmo que significasse ser humilhado durante toda sua vida.
O filho logo disse que não fez nada, tentando apaziguar, mas corajosamente disse que a benção não pediria. O pai gritava já. Dizia que sabia que o filho não gostava dele, mas disse que a partir daquele momento ia gostar, pois se não gostasse ia apanhar toda vez que demonstrasse.
Empurrou-o para o sofá e encomendou diversos socos na boca e no rosto do filho. Os braços magros não conseguiram diminuir o impacto daqueles gordos punhos. O aparelho dental que possuía piorava ainda mais. Seus lábios grudaram no aparelho, seu rosto ensangüentado e o rubor facial demonstrava o excesso de lágrimas que proferira.
A mãe unicamente dizia ‘já está bom’. A prima que lá morava o ajudou a limpar-se e a irmã só chorava. Era mais uma cena que o pai havia criado na casa. Mais uma atitude desequilibrada. O filho finalmente dormiu. Antes disso, cogitou ir embora dali e morar na rua. Cogitou fortemente. Mas essa hora chegaria, ele só precisava planejar.
O pai pediu desculpas sinceras pela ultima vez. O filho se sensibilizou, também pela última vez e alguns meses se passaram. Até o pior dia daquela casa, que ainda viria, o filho economizou cada centavo para o próximo dia tempestuoso que o seu pai certamente criaria. Mas antes disso as humilhações se intensificaram.
Capítulo III
O filho sempre fora bom aluno, pois era além de uma fuga, a única coisa que podia fazer, pois nunca deixavam ele sair com amigos. Ia fazer 15 anos ainda e não tinha uma única vez saído com amigos. E, por mais que fosse bem na escola, o pai chamava-o de vagabundo. Dizia que na idade dele já vendia coisas na rua, ‘se virava’, mesmo que o pai não deixasse e até o batesse por isso.
Capítulo III
O filho sempre fora bom aluno, pois era além de uma fuga, a única coisa que podia fazer, pois nunca deixavam ele sair com amigos. Ia fazer 15 anos ainda e não tinha uma única vez saído com amigos. E, por mais que fosse bem na escola, o pai chamava-o de vagabundo. Dizia que na idade dele já vendia coisas na rua, ‘se virava’, mesmo que o pai não deixasse e até o batesse por isso.
Repetia sempre a história de seu primeiro emprego, como radialista, sua bancada de frutas.
Em seguida chamava o filho de vagabundo. Dizia que quando ele fizesse 18 anos deveria se mandar, pois era o tempo. Independentemente das notas, dizia que o filho deveria estudar mais, que era a única coisa que deveria fazer, pois ele foi assim. Talvez visse na vida do filho uma projeção da sua, daí tanta incompreensão. Por fim, reclamava ainda mais e gritava ou castigava o filho sobre a sua única diversão, os jogos no computador.
E então o dia chegou. O pai bêbado, sentou-se ao lado do filho, enquanto esse ficava no computador. Ele desligou o monitor e fez o menino dar-lhe atenção. Disse que queria conversar. Disse que ele não o chamava mais de pai, que estava sendo ruim com ele, que ele, por mais paradoxal que pareça a afirmação, não merecia isso.
Passou-se um tempo e veio ele novamente, agora em um tom menos conciliador. Veio com gritos. Chamou-o para a varanda, pediu que o filho sentasse e a muito custo ficaram cara a cara. O bafo de cerveja era acompanhado de palavras lascivas. Repetiu toda a história mais uma vez. Contou que seu pai o bateu a vida toda e nem por isso ele deixou de gostar do avô do menino. Jogou na cara do menino que tudo que havia comprado foi com o suor dele.
O volume aumentava. Até que ele concluiu seu pensamento. ‘Se você não gosta de mim por bem, vai gostar por mau’, pegou-o pelo pescoço, apertou e disse que iria matá-lo. A mãe apareceu. Gritava desesperada. Ele se desconcentrou e o filho se desvencilhou. Pulou os móveis, saiu pela porta dos fundos. Ao chegar no portão, pediu desesperado que o vizinho abrisse. Iria dormir na rua aquele dia.
Sorte que ainda tinha amigos. A amizade não duraria pra toda a vida, mas o reconhecimento sim. Marcele e Paulo eram os nomes. Se desesperaram pois logo souberam do sumiço. Foi ajudado, dormindo debaixo da cama de Paulo. Em seguida, foi morar com a madrinha, onde passou os melhores 4 meses de sua vida.
Suas notas aumentaram absurdamente. Estava feliz. Não era sua casa, mas era o melhor ambiente que tinha vivido até então. Achava que aquilo poderia durar pra sempre, mas infelizmente, realmente não era sua casa. O pai ainda foi lá algumas vezes, mas ele sempre fugia. A única vez que foi pego, o pai chegou, com o característico odor de cerveja e disse para ele voltar para casa. Pulou móveis novamente, pulou a janela, e esperou que a paz voltasse. Que fosse embora o homem.
Daí em diante muitas idas e vindas. Já aos 15 anos, após voltar pra casa teve uma intensa depressão qual se acostumou e nunca foi tratada. A violência nunca parou, mas sempre que algo grave acontecia ele amarrava suas trouxas e sumia por algum tempo.
A pior de todas foi quando finalmente entendeu que não dava pra morar em lugares qual ele não tivesse posse. Independente da boa vontade e da compreensão de todos, nunca poderiam ficar com ele pelo tempo que precisava. Não trabalhava, divertia-se pouco. Sua vida conturbada deveria ser repensada, fugir de casa já lhe trazia problemas demais, ir para casa dos outros pior.
Morou na rua então um tempo. Tomava banho na escola pela manhã. Acordava às 4 da manhã, para que os moradores não vissem que ele havia invadido um quintal. Sua cama era uma rede e o frio noturno diminuía suas horas de sono.
Morou na rua então um tempo. Tomava banho na escola pela manhã. Acordava às 4 da manhã, para que os moradores não vissem que ele havia invadido um quintal. Sua cama era uma rede e o frio noturno diminuía suas horas de sono.
Ainda assim, se sentia feliz, pois estava pela primeira vez conseguindo lidar com problemas de maneira certa. Antes de dormir, lembrava da cena que o fizera chegar ao fundo do poço. O pai lhe ameaçava espancar se não trabalhasse pra ele. Ele fez-se de humilhado, disse que trabalharia sim, chorando. Foi pra casa, pegou a rede, biscoitos, livros e sumiu.
Depois de tantas tempestades, mudou-se. Certa cidade universitária no interior virou seu porto seguro. A ausência daquela atmosfera absurdamente desagradável lhe proporcionou a possibilidade de começar a viver. No entanto as férias desagradáveis sempre vinham. O pai aparecia para lhe tirar a paz, ou ele, iria visitar sua antiga casa, e, mais uma vez, se entristecia.
Capítulo IV
Com o tempo, bem antes de se mudar, ignorou o ódio. Entretanto, a apatia e a incompreensão tomaram seu lugar. Tentou muitas vezes conversar e convencer o pai a tentar alguma reflexão. Inútil foram todas. Sempre respondia ‘isso é passado’, ‘quem vive de passado é museu’. Entre outras prontas e mentirosas frases.
Capítulo IV
Com o tempo, bem antes de se mudar, ignorou o ódio. Entretanto, a apatia e a incompreensão tomaram seu lugar. Tentou muitas vezes conversar e convencer o pai a tentar alguma reflexão. Inútil foram todas. Sempre respondia ‘isso é passado’, ‘quem vive de passado é museu’. Entre outras prontas e mentirosas frases.
Mentira era também um problema intenso. Mentia por tudo e se iludia mais uma vez, pensando que as pessoas acreditavam. Mas era mentira também, pois riam da cara dele e o achavam louco. Homem conturbado que sempre foi, justificava julgamentos, era o maluco, o desequilibrado e também o mentiroso.
Nos últimos tempos passou a mentir mais. Dizia que havia verdadeiramente melhorado. Que vivia tempos de luxo com a mãe do, agora, homem também, seu filho. Inventou que dormiam juntos todos os dias e não conseguiam caso seus corpos não se tocassem. Esquecia ele que todos sabiam que ele só dormia na poltrona e ela, nem no quarto aparecia, pois o volume da televisão não deixava sequer os vizinhos dormirem.
As agressões nunca terminaram naquela casa. A filha era agora o alvo de represálias. Herdou a vontade de ir embora, orava para que Deus tirasse aquele homem de sua vida, que deixasse sua mãe em paz. A incompreensão lhe maltratava, era uma adolescente que tal como o filho mais velho, não podia sair.
Os estudos vinham como problema agora. Milagrosamente o irmão conseguia se concentrar, mas ela não. Talvez não fosse um dom que ela possuía, apesar de ser muito inteligente, era pesado demais pra ela. Vivera então anos sozinha lá, na completa agonia. Começava a entender porque tantas vezes seu irmão havia saído dali. Não tinha coragem, era só isso que a impedia de seguir os passos.
A oportunidade surge. Ela vai morar com a tia em outro estado. Agora sim, agora tudo pode dar certo. Com todos longe, a mãe pode tomar a antiga e justa decisão. Separar-se desse homem que já provou que não consegue mudar. O homem que destruiu o sentimento que todos tinham. O conveniente sentimento.
Voltamos ao carro. A caneta dobrada em cima do envelope cobra uma resposta. Os familiares todos sabem, ele não pode enganar a todos. Não há mais a quem enganar. Talvez pense que exista alguma fuga com seus contatos no meio jurídico. Talvez... No entanto do que vale a partilha de bens se se morrerá sozinho?
Uma assinatura não está mais significando uma simples separação. Todos cobram a resignação. Assumir finalmente que errou. Assumir as conseqüências do erro. Não existe fuga aqui. Não tem como. É uma escolha que vale por todas as mazelas que criou. É a chance de provar que, apesar de muitos pensarem que ele é uma pessoa muito má, ele tem algo de bom que o torna melhor que um monstro.
Quem sabe, se a solidão imediata lhe fizer pensar, as coisas não melhoram. Com todos longe, e, com a capacidade dele de afastar a todos com sua arrogância e prepotência, a solidão final torna-se um fato. Mas, caso um novo surto de consciência surja, tal qual o dia que bateu o carro, as coisas podem vir a mudar.
O filho lhe escreveu tudo certa vez. O resultado foi uma resposta corrosiva. Quando o filho fizesse 21 anos ele não o sustentaria mais e só voltaria a falar com o mesmo quando o filho o pedisse desculpas. O filho desistiu de tentar, mas a história, quem sabe, pode fazer algo por si própria. Aquele envelope. A alforria. Ela pode libertar todos, inclusive, a maldade, mesmo que ingênua, presa por tantos anos, neste homem.
sábado, dezembro 13, 2008
Assuntos acadêmicos (só?)
Algo torna a universidade um dos piores lugares qual mantenho relações com pessoas. Em certos momentos uma fantasia estranha mascara isso, e eu repentinamente esqueço o mar de podridão qual eu estou nadando.
Uma coisa boa, fora a absurda fonte de conhecimento, é a capacidade de conhecer pessoas, perspectivas diferentes, idéias novas, tudo que se relaciona com certo engrandecimento do ser e de certa forma, algum amadurecimento.
No entanto, tenho me deparado nestes últimos dois semestres com uma dolorosa constatação do óbvio. Há uma guerra ridícula sendo travada aqui. Não há vencedores, nunca haverá. A única intenção deste joguinho ridículo é a maximização do ego, o sentir-se superior e uma vantajosa dose de egoísmo que vai sendo jogado no ventilador e cada um acaba absorvendo uma fração desta condensada merda.
Os alunos vivem num mundo estranho. A maioria acredita e defende que a universidade é um local onde nos comportamos como soldados. Seu único dever é estudar e mostrar para a sociedade quanto você vale. No caso, pra você valer algo que preste, você deve ter como cifra, pelo menos, um sete. A maioria dos que, por muitos motivos não alcançam esta 'meta' já são pré-rotulados como desleixados, burros, desinteressados, indecisos e uma infinidade de adjetivos, que de longe se percebe que nada têm de positivo.
Fora a questão da nota final em si, tem outros fatores como faltas e prazos. Eu sou muito suspeito pra falar sobre esse assunto, mas minha experiência de vida até agora me fez perceber que algumas coisas são baboseiras absurdas. Prazos e faltas tem pelo menos um pé nisso. Lembro que eu cobrava um amigo meu intensamente sobre isso. Ele nunca fazia os trabalhos em tempo hábil, raramente estudava para as provas entre outros fatores. Ainda assim, eu considerava ele como alguém muito inteligente (o que em na realidade não tem absolutamente nada a ver). O tempo fez eu acabar percebendo que eu estava sendo implicante demais, mas eu achava ele o máximo do desleixo ainda assim. Não demorou muito e ele morreu. A tragédia me fez refletir que porra de cobrança era aquela que todos faziam com ele. Tudo é muito efêmero, existem coisas que numa reflexão mais global não fazem o menor sentido.
No caso das faltas e prazos, eu tenho meu jeito de viver com isso. Por exemplo, eu me sinto muito mais a vontade estudando o assunto em casa do que ficando 4 horas olhando pra alguém explicando algo que eu mesmo posso aprender. Isso foi desde sempre. Eu não consigo me concentrar muito tempo nas aulas, logo começo olhar pra os lados, pra o relógio, e aquele ambiente se torna insuportável. Não é sempre, depende do professor e do assunto (até porque eu participo muito, as vezes até enche o saco), mas certo momento eu acabo me levantando, vou dar uma volta, bebo minha água, faço minhas necessidades fisiológicas e volto.
No entanto, essa conduta minha é meio que geral. Até certo ponto é plausível para a maioria, só que eu , no caso, acabo, para as outras pessoas, exagerando. Não é isso. É maneira pela qual meu ensino-aprendizagem flui. Eu não posso negar o que eu sou e, não posso mais ainda, fingir ser algo que de longe combina com meu jeito de vida. Eu odeio formalidades.
Quer me dar falta, me dê, agora me ouça. É o grande problema aqui. Ou melhor, são. Pouco se ouve, e os que ouvem possuem um problema seríssimo em se colocar no lugar dos outros, talvez por comodismo, convicção ou quem sabe, uma terrível conclusão de que sua maneira de enxergar a conduta das pessoas é a mais plausível, coerente, justa e ética. Como se não bastasse o sistema de notas, no qual meu valor é dado por números, eu tenho ainda que aturar uma cota de presenças de 75%, onde um número menor que isso significa que eu não sou um ser humano apto a ser aprovado em tal disciplina.
'Mas professor, eu já lhe disse. Eu fui bem honesto com você. Eu poderia ter invetado mil desculpas e dito que eu simplesmente fiquei doente. Poderia ter forjado laudos e atestados. Eu simplesmente disse o que aconteceu. Passei por uma cirurgia, tive problema de horário com sua disciplina em relação ao meu trabalho, tive que dar prioridade ao concurso durante um mês e ontem tive que viajar pra realizar o sonho de outras pessoas'
O discurso esmaece no vácuo. Um monólogo prossegue. A figura burocrática autoritária a frente usa os termos 'seu futuro', 'suas escolhas', 'suas prioridades' num tom de verdade absoluta e intencionalidade de culpa. Os argumentos para ele apresentados nada valeram, e 'suas desculpas' foi a forma como ele se referia aos mesmos. Num tom conciliador disse que não tinha intenção de dar nenhuma 'lição de moral' e que o dito aluno deveria 'rever o que estava fazendo com sua história na universidade'. Algumas conseqüências desagradáveis fizeram-no pedir desculpas ao 'mestre' e dizer o 'muito obrigado' mais falso de toda sua vida. A cabeça baixa passa pelo corredor a frente e um sentimento bizarro de fracasso preenche-o completamente.
A universidade é um tremendo fracasso justamente por causa da burocracia e outras coisas. É lógico que muitas pessoas sequer estudam, muito pouco aprendem e realmente não levam a vida em si a sério. Mas observe, tratar a instituição a mãos-de-ferro é a atitude das mais ignorantes. Primeiro porque se desconsidera a sinergia e a dialética, nem todos aprendem e e ensinam da mesma forma, ninguém é igual ao outro, cada ser humano é repleto de particularidades intensas e incomparáveis, pois são teias imensas que não se separam em essência. Como então impor um regime ridículo, movido por pseudos-boas-intenções? Pois em verdade a única finalidade desta merda maior ainda é suprir o mercado de trabalho e formar uma horda de mercado de reserva para os patrões.
E os imbecis entram nas salas, assistem as aulas como se estivessem fazendo a coisas mais certa e justa do mundo. Assistem por obrigação e não por vontade interior. Você pode pensar 'está dizendo isso porque não é você o professor!'. Balela! Eu serei, se tudo der certo, e eu, desde a primeira vez que comecei a dar aula (estágios e outras coisas mais) falei o óbvio. 'Assista minha aula se quiser, se não quiser pode assinar a lista de presença e sair. A única coisa que eu quero dos que ficarem aqui é respeito.'
Esperava mais disto aqui. O tempo passa e a única convicção que eu começo a construir é que eu estou cada vez mais interiorizando valores que não são meus. As vezes acabo para uma aula sem propósito algum pela onda dos outros. As vezes porque é a única coisa a se fazer no dia. Não sei, pode parecer boçalidade, mas eu não troco minhas horas de estudo sozinho por praticamente nenhum professor duas ou quatro vezes na semana numa sala repleta de seres egoístas qual eu não tenho absolutamente nada em comum a não ser o curso e o local onde estou.
Ainda assim, minhas notas vão bem obrigado. O que, incrivelmente não diz nada pra mim. Já passei com 9 em uma disciplina que não aprendi absolutamente nada, e já fui pra final de uma que acredito saber mais do que alguém que passou direto (o que me deixou indiscritivelmente puto!).
Julgar, não julgar, dar valores errados, pré-conceitos e egoísmo estão todos no mesmo barco. O professor não se coloca na pele do aluno, que tem que trabalhar e estudar um bocado. Que não tem a comodidade de um carro pra ir e vir e gastar menos horas no seu dia. Que ainda, não tem empregada em casa e tem que se virar com a comida. Que pode ainda morar sozinho, e seu emprego não é uma escolha e sim, sua única opção. Ainda, desconhece e muitas vezes sequer fica curioso com o motivo da conduta do aluno.
'...não faltei porque quis desta vez. O sonho de outras pessoas dependiam de mim e eu tive que abdicar da aula ontem em prol disso'. A história foi a de um homem que nasceu pra música e também a faculdade o oprimiu. Uma seleção num festival deixou ele entre os 18 colocados de 100. Ele a banda não puderam ir por causa de provas, seminários e aulas de reposição para disciplinas quais se poderia perder por falta...
Ele, todo coração, saiu sozinho pra rodoviária, com um violão e foi se apresentar como solo. Foi para as finais. Todos deram um jeito de ir, e, eu não poderia ser o único a pensar só em mim. Talvez não fosse um egoísmo ter ficado, no entanto, acredito que teria sido um individualismo ruim.
Quando converso com alguém sobre isso. Sobre as faltas, as decisões, a minha maneira de enxergar a realidade eu sou muito crédulo do que digo e sinto. Cada ação que eu faço vale a pena. Cada coisa que eu faço vai refletir no meu futuro de uma maneira que eu sequer sei. Pode ser algo bom, pode ser algo ruim, mas eu quero que seja sempre algo que não me faça ser algo que eu abomino. Não quero ser mais um que bate continência, que é repleto de dogmas e preconceitos, que aceita o prato posto como se tudo fosse muito lindo e muito correto. Não! Está tudo errado sim e eu não vou ser mais mais um a dizer 'não se pode fazer mais nada'.
Desde criança que me dizem que eu iria mudar meu jeito de pensar. Não quero virar meus pais, ou os pais dos outros. 'Apesar de tudo, tudo que vivemos ainda somos os mesmos?' Amadureço, endureço, a ternura sempre perto, mas, jamais, conformado. As conseqüências eu aceito. Minha dignidade, meu eu, o que eu tenho de mais precioso que é a maneira como eu vivo e julgo a vida, trocada por uma comodidade ridícula numa inexistente igualdade é a coisa mais idiota que eu poderia fazer.
O tempo há de passar. Acredito que o mundo não vai durar o suficiente pra eu ser velho o quanto espero, ou que possivelmente morrerei jovem por algum motivo desconhecido. Mas ainda assim acredito que no fundo no fundo, que sejam 10 ou 1 ano, eu vivi do jeito que havia de viver. Não tiro uma vírgula do meu passado. Nenhuma. O que disse, e o que fiz me tornaram quem eu sou hoje e eu estou muito satisfeito (mas não completo). O que fizeram comigo, principalmente as piores coisas, são, pra mim hoje, o meu maior legado. Nos momentos de mais dificuldade eu amadureci e passei a dar valor a coisas que são em essência importantes pra mim. Então, você, não venha me dizer como se vive a vida e nem quantos títulos acadêmicos você tem. Cada um vive a vida da maneira que conseguir, e, até você se colocar no lugar do outro, pra mim, você não passa de algo menos importante do que a menor merda que possa existir neste planeta.
Uma coisa boa, fora a absurda fonte de conhecimento, é a capacidade de conhecer pessoas, perspectivas diferentes, idéias novas, tudo que se relaciona com certo engrandecimento do ser e de certa forma, algum amadurecimento.
No entanto, tenho me deparado nestes últimos dois semestres com uma dolorosa constatação do óbvio. Há uma guerra ridícula sendo travada aqui. Não há vencedores, nunca haverá. A única intenção deste joguinho ridículo é a maximização do ego, o sentir-se superior e uma vantajosa dose de egoísmo que vai sendo jogado no ventilador e cada um acaba absorvendo uma fração desta condensada merda.
Os alunos vivem num mundo estranho. A maioria acredita e defende que a universidade é um local onde nos comportamos como soldados. Seu único dever é estudar e mostrar para a sociedade quanto você vale. No caso, pra você valer algo que preste, você deve ter como cifra, pelo menos, um sete. A maioria dos que, por muitos motivos não alcançam esta 'meta' já são pré-rotulados como desleixados, burros, desinteressados, indecisos e uma infinidade de adjetivos, que de longe se percebe que nada têm de positivo.
Fora a questão da nota final em si, tem outros fatores como faltas e prazos. Eu sou muito suspeito pra falar sobre esse assunto, mas minha experiência de vida até agora me fez perceber que algumas coisas são baboseiras absurdas. Prazos e faltas tem pelo menos um pé nisso. Lembro que eu cobrava um amigo meu intensamente sobre isso. Ele nunca fazia os trabalhos em tempo hábil, raramente estudava para as provas entre outros fatores. Ainda assim, eu considerava ele como alguém muito inteligente (o que em na realidade não tem absolutamente nada a ver). O tempo fez eu acabar percebendo que eu estava sendo implicante demais, mas eu achava ele o máximo do desleixo ainda assim. Não demorou muito e ele morreu. A tragédia me fez refletir que porra de cobrança era aquela que todos faziam com ele. Tudo é muito efêmero, existem coisas que numa reflexão mais global não fazem o menor sentido.
No caso das faltas e prazos, eu tenho meu jeito de viver com isso. Por exemplo, eu me sinto muito mais a vontade estudando o assunto em casa do que ficando 4 horas olhando pra alguém explicando algo que eu mesmo posso aprender. Isso foi desde sempre. Eu não consigo me concentrar muito tempo nas aulas, logo começo olhar pra os lados, pra o relógio, e aquele ambiente se torna insuportável. Não é sempre, depende do professor e do assunto (até porque eu participo muito, as vezes até enche o saco), mas certo momento eu acabo me levantando, vou dar uma volta, bebo minha água, faço minhas necessidades fisiológicas e volto.
No entanto, essa conduta minha é meio que geral. Até certo ponto é plausível para a maioria, só que eu , no caso, acabo, para as outras pessoas, exagerando. Não é isso. É maneira pela qual meu ensino-aprendizagem flui. Eu não posso negar o que eu sou e, não posso mais ainda, fingir ser algo que de longe combina com meu jeito de vida. Eu odeio formalidades.
Quer me dar falta, me dê, agora me ouça. É o grande problema aqui. Ou melhor, são. Pouco se ouve, e os que ouvem possuem um problema seríssimo em se colocar no lugar dos outros, talvez por comodismo, convicção ou quem sabe, uma terrível conclusão de que sua maneira de enxergar a conduta das pessoas é a mais plausível, coerente, justa e ética. Como se não bastasse o sistema de notas, no qual meu valor é dado por números, eu tenho ainda que aturar uma cota de presenças de 75%, onde um número menor que isso significa que eu não sou um ser humano apto a ser aprovado em tal disciplina.
'Mas professor, eu já lhe disse. Eu fui bem honesto com você. Eu poderia ter invetado mil desculpas e dito que eu simplesmente fiquei doente. Poderia ter forjado laudos e atestados. Eu simplesmente disse o que aconteceu. Passei por uma cirurgia, tive problema de horário com sua disciplina em relação ao meu trabalho, tive que dar prioridade ao concurso durante um mês e ontem tive que viajar pra realizar o sonho de outras pessoas'
O discurso esmaece no vácuo. Um monólogo prossegue. A figura burocrática autoritária a frente usa os termos 'seu futuro', 'suas escolhas', 'suas prioridades' num tom de verdade absoluta e intencionalidade de culpa. Os argumentos para ele apresentados nada valeram, e 'suas desculpas' foi a forma como ele se referia aos mesmos. Num tom conciliador disse que não tinha intenção de dar nenhuma 'lição de moral' e que o dito aluno deveria 'rever o que estava fazendo com sua história na universidade'. Algumas conseqüências desagradáveis fizeram-no pedir desculpas ao 'mestre' e dizer o 'muito obrigado' mais falso de toda sua vida. A cabeça baixa passa pelo corredor a frente e um sentimento bizarro de fracasso preenche-o completamente.
A universidade é um tremendo fracasso justamente por causa da burocracia e outras coisas. É lógico que muitas pessoas sequer estudam, muito pouco aprendem e realmente não levam a vida em si a sério. Mas observe, tratar a instituição a mãos-de-ferro é a atitude das mais ignorantes. Primeiro porque se desconsidera a sinergia e a dialética, nem todos aprendem e e ensinam da mesma forma, ninguém é igual ao outro, cada ser humano é repleto de particularidades intensas e incomparáveis, pois são teias imensas que não se separam em essência. Como então impor um regime ridículo, movido por pseudos-boas-intenções? Pois em verdade a única finalidade desta merda maior ainda é suprir o mercado de trabalho e formar uma horda de mercado de reserva para os patrões.
E os imbecis entram nas salas, assistem as aulas como se estivessem fazendo a coisas mais certa e justa do mundo. Assistem por obrigação e não por vontade interior. Você pode pensar 'está dizendo isso porque não é você o professor!'. Balela! Eu serei, se tudo der certo, e eu, desde a primeira vez que comecei a dar aula (estágios e outras coisas mais) falei o óbvio. 'Assista minha aula se quiser, se não quiser pode assinar a lista de presença e sair. A única coisa que eu quero dos que ficarem aqui é respeito.'
Esperava mais disto aqui. O tempo passa e a única convicção que eu começo a construir é que eu estou cada vez mais interiorizando valores que não são meus. As vezes acabo para uma aula sem propósito algum pela onda dos outros. As vezes porque é a única coisa a se fazer no dia. Não sei, pode parecer boçalidade, mas eu não troco minhas horas de estudo sozinho por praticamente nenhum professor duas ou quatro vezes na semana numa sala repleta de seres egoístas qual eu não tenho absolutamente nada em comum a não ser o curso e o local onde estou.
Ainda assim, minhas notas vão bem obrigado. O que, incrivelmente não diz nada pra mim. Já passei com 9 em uma disciplina que não aprendi absolutamente nada, e já fui pra final de uma que acredito saber mais do que alguém que passou direto (o que me deixou indiscritivelmente puto!).
Julgar, não julgar, dar valores errados, pré-conceitos e egoísmo estão todos no mesmo barco. O professor não se coloca na pele do aluno, que tem que trabalhar e estudar um bocado. Que não tem a comodidade de um carro pra ir e vir e gastar menos horas no seu dia. Que ainda, não tem empregada em casa e tem que se virar com a comida. Que pode ainda morar sozinho, e seu emprego não é uma escolha e sim, sua única opção. Ainda, desconhece e muitas vezes sequer fica curioso com o motivo da conduta do aluno.
'...não faltei porque quis desta vez. O sonho de outras pessoas dependiam de mim e eu tive que abdicar da aula ontem em prol disso'. A história foi a de um homem que nasceu pra música e também a faculdade o oprimiu. Uma seleção num festival deixou ele entre os 18 colocados de 100. Ele a banda não puderam ir por causa de provas, seminários e aulas de reposição para disciplinas quais se poderia perder por falta...
Ele, todo coração, saiu sozinho pra rodoviária, com um violão e foi se apresentar como solo. Foi para as finais. Todos deram um jeito de ir, e, eu não poderia ser o único a pensar só em mim. Talvez não fosse um egoísmo ter ficado, no entanto, acredito que teria sido um individualismo ruim.
Quando converso com alguém sobre isso. Sobre as faltas, as decisões, a minha maneira de enxergar a realidade eu sou muito crédulo do que digo e sinto. Cada ação que eu faço vale a pena. Cada coisa que eu faço vai refletir no meu futuro de uma maneira que eu sequer sei. Pode ser algo bom, pode ser algo ruim, mas eu quero que seja sempre algo que não me faça ser algo que eu abomino. Não quero ser mais um que bate continência, que é repleto de dogmas e preconceitos, que aceita o prato posto como se tudo fosse muito lindo e muito correto. Não! Está tudo errado sim e eu não vou ser mais mais um a dizer 'não se pode fazer mais nada'.
Desde criança que me dizem que eu iria mudar meu jeito de pensar. Não quero virar meus pais, ou os pais dos outros. 'Apesar de tudo, tudo que vivemos ainda somos os mesmos?' Amadureço, endureço, a ternura sempre perto, mas, jamais, conformado. As conseqüências eu aceito. Minha dignidade, meu eu, o que eu tenho de mais precioso que é a maneira como eu vivo e julgo a vida, trocada por uma comodidade ridícula numa inexistente igualdade é a coisa mais idiota que eu poderia fazer.
O tempo há de passar. Acredito que o mundo não vai durar o suficiente pra eu ser velho o quanto espero, ou que possivelmente morrerei jovem por algum motivo desconhecido. Mas ainda assim acredito que no fundo no fundo, que sejam 10 ou 1 ano, eu vivi do jeito que havia de viver. Não tiro uma vírgula do meu passado. Nenhuma. O que disse, e o que fiz me tornaram quem eu sou hoje e eu estou muito satisfeito (mas não completo). O que fizeram comigo, principalmente as piores coisas, são, pra mim hoje, o meu maior legado. Nos momentos de mais dificuldade eu amadureci e passei a dar valor a coisas que são em essência importantes pra mim. Então, você, não venha me dizer como se vive a vida e nem quantos títulos acadêmicos você tem. Cada um vive a vida da maneira que conseguir, e, até você se colocar no lugar do outro, pra mim, você não passa de algo menos importante do que a menor merda que possa existir neste planeta.
sábado, setembro 20, 2008
Entendendo-se o maior imbecil do mundo em duas horas
Você já imaginou que muitas coisas neste mundo são falsas? Você já imaginou que muitas coisas falsas são planejadas?
Observe. Há dois textos atrás eu criticava a bíblia, por inumeráveis absurdos. Hoje descobri que jesus cristo sequer existiu. Isso soa incisivo pra você? Bem, eu posso falar por mim, pois já estou na linhagem agnóstica há alguns anos. Mas, esperando que você ao menos veja o filme (zeitgeist), a história de jesus é exatamente a mesma história de outros deuses (coisa que eu já tinha ouvido falar antes mas não dei a atenção devida). A história é o horóscopo. O Deus que vem todas as manhãs. O sol. O sol e suas 12 casas. Os meses.
O detalhe maior é que Hórus nasceus 3 MIL ANOS ANTES de Jesus Cristo. Um plagio que só não foi apagado por causa dos hieroglifos egípcios e outras histórias idênticas.
Hórus nasceu dia 25 de dezembro, seguido por 3 reis, apontados por uma estrela brilhante. Foi crucificado. 3 dias depois ressucitou. Eu disse Hórus.
Se isso soar absurdo e conspiratório. Se prepare pra o pior. ISSO É SÓ A PONTA DE UM ICEBERG BRUTAL.
Eu seria incapaz de escrever um texto melhor do que esse filme que penosamente acabei de assistir. Você nunca vai ver ele na sua banca de dvd e jamais verá passar em televisão alguma. Daqui há alguns anos provavelmente haverá censura na internet (já existe em alguns paises) e você terá perdido a oportunidade de saber QUÃO LONGE DO COCÔ DO CAVALO DO BANDIDO você está. É LONGE PRA CARALHO, ACREDITE.
Depois dessa, vou descansar por alguns meses, eu acho. De forma alguma esse mundo pertence a maneira qual eu pretendo viver. Gosto de música, gosto de sossego, gosto de pessoas. No entanto, de uma forma incomparável, eu gosto de liberdade. E ser livre é algo que atualmente eu estou tentando alcançar.
No entanto, nada disso aqui é real. Absolutamente nada. O mundo é uma farsa.
O escrito abaixo é igualzinho a algo que pensei desde os 15 anos e não mudou muito. Caímos aqui para uma pequena viagem, e esquecemos um pouco da viagem, em detrimento de diversos e perversos costumes sociais.
"A vida é como uma viagem num carrossel. E quando lá vais pensa que é irreal por causa do poder das nossas mentes. A viagem sobe e desce anda às voltas, tem emoções fortes, brilhantes e coloridas. Há muito barulho e é divertido por um bocado. Alguns já andaram nessa viagem há algum tempo e começam a colocar questões: Será isto real? Ou é apenas uma viagem?
As outras pessoas lembram-se, viram-se pra nós e dizem: Ei, não se preocupem, não tenham medo. Isto é só uma voltinha.
E matamos essas pessoas.
- Calem-no! Eu investi imenso nesta viagem, calem-no!
Olhem para minha cara de chatedo. Olhem para minha conta bancária e a minha família, isto tem que ser real...
É só uma voltinha.
Mas matamos sempre aquelas boas pessoas que tentam nos dizer isso, já repararam?
E deixamo-nos entregar à bicharada...
Mas não importa, porque é só uma viagem e podemos altera-la sempre que quisermos.
É apenas uma escolha.
Nenhum esforço, nenhum trabalho, nenhum emprego, nenhuma poupança de dinheiro. Apenas uma escolha agora mesmo. Entre medo e amor.
Bill Hichs"
terça-feira, setembro 02, 2008
Humilhação
Terça-feira, dia de branco. Dia do cidadão trabalhar. Um trabalho ímpar, lecionar num cursinho do governo. Do governo? Sim, um cursinho público. Publico alvo? Pessoas que tiveram educação regular na escola pública.
Há alguns meses, esse esforçado trabalhador vem preparando suas aulas. Conciliando faculdade, namorada, animais de estimação e, logicamente, seu trabalho feliz em sala de aula.
A vontade de integrar uma escola, não exatamente um cursinho, veio da coerente idéia de que a educação é uma boa via reparadora, ou atenuante, da desigualdade social. Pensa ele também, que não é exatamente otimismo ou esperança do mundo que se instala nesta idéia, mas sim, satisfação de tentar fazer algo bom pelo mundo, ou o máximo que o mundo lhe dá oportunidade de fazer.
Trabalhar em cursinho é complicado, no sentido de mudar alguma realidade. Simplesmente faze-los passar no vestibular e inclui-los no cerne do sistema, onde as informações começam a fazer sentido, ou não, e a nata 'intelectual', habita (em tese), a universidade, para satisfazer as espectativas do governo e modificar estatísticas não dizem absolutamente nada.
Ou seja, nosso querido professor está numa situação complicada desde o início. Outro atenuante é o fato dos alunos serem majoritariamente de difícil relação. Alguns simplesmente sentam-se de costas pra ele, ficam em pé conversando, gritam, correm, deixam seus celulares gritarem a cada cinco minutos, quando não atendem o mesmo e só faltam mencionar que estão na aula do 'otário' do professor de língua estrangeira.
Mas tudo se acerta, o tempo passa e as pessoas começam a tomar conta do seu papel e das coisas que fazem. As salas começam a ficar mais vazias, e o silencio e a compreensão começa a surgir. De alguma forma, pensa ele, seu esforço para criar um ambiente pelo menos coerente começa a, sutilmente fazer efeito. O único problema insolucionavel é o grande barulho externo modulado por um forro inexistente. Um peido do lado de fora atrapalha, mas ainda assim se leva.
O tempo passa. Algumas semanas preparando um simulado, um final de semana inteiro corrigindo-o, e um stress começa a surgir. Alguma satisfação começa a aparecer também, pois apesar do baixo rendimento, muitas notas foram favoráveis às espectativas.
Terça feira, seu dia de cansaço, 4 aulas a noite, 2 turmas, barulho e sono juntos. Depois de uma batalha nórdica na primeira turma, segue ele, impávido, confiante no seu trabalho e na melhora que pode proporcionar àqueles desafortunados, num país onde a mobilidade social é complicadíssima pelas vias lícitas.
Ao entrar na sala, os alunos que não querem assistir vão saindo a prestação. Mesmo com o pedido dele para que saiam os que quiserem, para ajudarem os que querem permanecer, pouco a pouco, a cada 5 minutos alguém levanta e resolve sair. O professor apenas estava corrigindo o simulado com os alunos que o fizeram.
Uma gritaria infernal atrapalha-o a traduzir aquele primeiro texto. Ele, com alguma pressa foi ao lado de fora e se deparou com três pessoas deitadas do lado da porta:
- Os senhores poderiam fazer silencio, estão atrapalhando...
- Atrapalhando como? Estamos quietos.
- Se estivessem eu não estaria aqui...
Voltou, e continuou a ler. Minutos depois, uma música começa a tocar do lado de fora. O que era? Um celular moderno, daqueles que se pode baixar música, tem infravermelho e até espaço para muitas mp3 têm.
- Pelo amor de Deus hein? Vão lá pra frente. Saiam dai, tá impossível ler esse texto.
- O que professor, estamos aqui sentados só.
- Estão e o celular sou eu quem to ligando pra você pra que toque né? Por favor, saiam...
Eis que um homem (eram um homem e duas meninas) fala:
- Pra eu sair você vai ter que pedir com educação...
- Então senhor, por favor saia daqui porque você está atrapalhando consideravelmente.
- Quero saber se você é homem de me tirar daqui.
- Tio, me de seu nome aí então por favor. Vai me ameaçar agora é? Você está errado filho...
- Meu nome? Meu nome é VÁ TOMAR NO CU.
***
A noite corre. Em casa, uma dor de cabeça animal. Uma tristeza incomparável a qualquer outro dia lecionando. Esperança de um mundo melhor? Esperança de mudança vinda de mim? O exército de um homem só? Nada disso existe. Eu não faço o que faço pra provar nada pra ninguém, nem muito menos pra ser economicamente estável. Eu tento fazer o meu melhor, tento ser uma força contrária a esse lixo que se tornou a modernidade. Sou melhor que meu aluno? Logicamente que não.
Tomarei no cu sim, tomamos todos, a cada dia que passa. A cada dia que acordamos e seguimos o mesmo caminho de sempre, sendo mais um que nasce, mas um que se desenvolve numa sociedade com caminhos predefinidos, e morrem, em jazigos previamente comprados. Até nosso epitáfio é predefinido. No meu, podem escrever "Tomou no cu" ou "É tudo culpa do sistema". Pouco importa. Agora independente do escrito, eu posso te dizer, se eu for assassinado por algum aluno insatisfeito, que eu simplesmente não me arrependo de algum dia ter me motivado a mudar o mundo. De algum dia ter tido consciência de que humildade, felicidade e desapego são essenciais.
Ninguém carrega o mundo nas costas, da mesma forma que ninguém é melhor que o outro. É muito diferente viver o mundo, ou passar por ele. Dançar conforme a música. Se estiver de passagem apenas, abaixe a cabeça e encoste a bunda na parede. Até a próxima, se houver.
"Todos estes que estão aí
Atravancando o meu caminho
Eles passarão
E eu passarinho...."
Mario Quintana
segunda-feira, agosto 18, 2008
Punição eterna
- Isso que você está falando é um pecado!!! - disse a senhora, depois de turbulentos 60 minutos de conversa, recheados de réplicas.
Tudo começou porque meu gato estava no telhado dela. Um amigo meu estava bêbado e quis pega-lo. Ela começou a dizer que odiava gatos e tudo mais. Quando comecei a ensaiar um "não mate meu gato", ela disse que só não dava chumbinho porque não o vendiam na rua.
Até aí foi tudo normal, e até previsível. Uma senhora simpática, apesar de aparentar ser um pouco 'cri-cri'. Logo ela perguntou-me algo, que apesar de bem simples, viria com uma resposta não muito amistosa, mas eu preferi ser um pouco moderado, até porque ela é minha vizinha. "Você frequenta que igreja?"
De imediato veio um turbilhão de pensamentos em minha cabeça. A pergunta soava como um 'todo mundo DEVE frequentar uma igreja', que logo foi sendo substituida por um 'todo mundo DEVE ser servo de deus para que não sofra a punição eterna'. Eu poderia ser um arrogante e dizer tudo que penso num único parágrafo, mas fui sucinto no:
- Já fui batista e adventista, mas hoje em dia estou conformado com minha situação.
- Então você se desviou dos caminhos de deus? Tenho seis filhos, até são pastores da adventista, todos bem de vida. Olhe pra você, seus pais lhe dão tudo, você estuda, você deveria ser mais generoso com deus e servi-lo. Às sextas feiras...
- A questão é que o mesmo motivo que me levou a igreja me afastou dela. Eu não concordo com algumas coisas da biblia - e pensando; pra não falar do posicionamento de deus em relação a existência, pelo menos a que eu entendi - então eu acho que eu não conseguiria levar uma vida religiosa, se é que a senhora me entende. Tenho lido alguns livros que apontam para uma outra visão do cristianismo...
- Não concorda? Lógico, a bíblia foi escrita por homens inspirados em Deus, mas que outro livro seria mais verdadeiro que a biblia? Você pode ver, eu moro sozinha aqui, eu e Deus, nunca me faltou nada.
- Mas observe a senhora. Que é que eu tenho a ver com adão e eva terem pecado? Uma menina na rua me disse que eles pecaram e por isso eu era um pecador, então por isso eu deveria servir a Deus, porque ele deu seu filho para que os pecados fossem perdoados. Isso é um pouco malígno, não? - pensando; o que seria o mesmo que dizer que o filho de um criminoso, é um criminoso, e que se ele não assumir os (crimes)'pecados' e ser um escravo da justiça, qual deve arrebatar outros criminosos, ele deve ser condenado a prisão perpétua, quizá à morte.
- Mas meu filho, não se pode dizer uma coisa dessa. Deus é tão bom. Eu vejo em você uma pessoa boa, pegou gatinhos na rua pra cuidar, você é bom. Só precisa de mais deus em sua vida. Porque saiu dos caminhos de Deus?
- Foi o que eu disse pra senhora, eu não concordo com a procedência do julgamento de Deus. Não estou dizendo que sou maior que ninguém, mas algumas coisas não são cabíveis. A punição eterna, por exemplo. Não importe quão bom a pessoa seja, se ela não estiver nos caminhos de Deus, deve queimar no inferno infinitamente...
- Meu filho, isso que você está dizendo é um pecado...
- A questão, minha senhora, é que eu gosto de questionar as coisas, e, ao meu ver, eu jamais poderia conviver com algo, tendo em questão essas pendências - pensando; servir a Deus por medo seria o cúmulo da falta de reflexão. - E pensando bem, o mundo da gente está jeito que está porque as pessoas se esquecem de questionar o que acontece ao seu redor.
- Meu filho, questionar, com gente como a gente, de carne, é uma coisa, é certo. Agora questionar O Pai, que é Espirito Santo, isso sim é um pecado...
- Bem, eu vou ter que ir aqui, o gato está miando um bocado, como a senhora ja deve ter percebido...
- Tudo bem meu filho, depois pode passar aqui que a gente conversa mais...
- Está certo, e por favor não mate meu gato...
- Pode deixar...
***
Religião não se discute? Opa opa. Tudo se discute. Lembro-me há muito tempo, quando disse que aceitava Jesus como meu Deus e meu salvador e das coisas boas que isso me proporcionou. O tempo e a pouquíssima maturidade que tenho, aos 21 anos de idade, que na época, quando saí da igreja eram apenas 13/14, me levaram a imaginar que a existência e a eterninade, com um Deus punidor ao extremo, não me convém.
Eu vim reparar nisso quando uma pastora falou sobre o Titanic, logo depois que o filme foi lançado. Aquela frase que o cara fala no filme 'Nem Deus pode afundar este navio'. Eu no meu máximo de cegueira disse 'BEM FEITO'. Mas que absurdo louco é esse? Estamos falando de 1,517 pessoas que morreram do nada, em teoria, porque alguém 'blasfemou'. Soa um pouco injusto não? Se não soa, imagine o seguinte. Você tem três filhos lindos, seu marido está vindo da Inglaterra para os EUA, e todos morrem congelados no meio do caminho. Seu Deus misericordioso que fez isso.
"Não é bem assim". Ok, obra da natureza, um iceberg que estava no meio do caminho, e blábláblá. Sim, quem fez a natureza?
Quem fez adão e eva e permitiu que eles pecassem? Se eu fosse fazer um filme, baseado na gênesis, eu pensaria que Deus era um ancião barbudo, daqueles que acha que sempre está certo. Depois de algum tempo cansou de ficar só e construiu uns bonequinhos para dar mais movimento a tudo. Depois disso entregou ao mundo eles, como se fossem mais uns animais no meio da selva (o que somos em verdade). Do nada, os trovões começam a rasgar o céu e ele aparece na cena do crime. Adão e eva fazendo alguma coisa que ele disse que não era pra fazer. O tal fruto proibido, que certamente não era uma maçã nem uma banana.
Seria o fruto o questionamento? Pra eu ir pro inferno e ficar o resto da eternidade lá com alguma justificativa, só desta forma. Se Deus criou o homem e a mulher, e sabia, por ser ONItudo, que eles fariam alguma besteira, porque não deu uma segunda chance, ou não educou?
'Deu-lhe este preceito: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente.” '(Gênesis 2,16).
Morrerás uma ova. Mentir também não é pecado? Pois então, a serpente levou toda culpa, por ter convencido Eva, que levou de brinde a dor do parto e a menstruação...
'Disse também à mulher: Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio.”
E disse em seguida ao homem: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa.
Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida.
Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra.
Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar.”(Gênesis 3,16-18) '
Quanta misericórdia. Por fim, meu último argumento e justificador. Quem criou a serpente? Responda você. Não sou intolerante, só sou claramente questionador, e se tem algo que não concordo é a crença pela crença, a crença pelo medo, a crença pela convenção e principalmente, a crença pela ignorância.
Não é porque eu não sei absolutamente nada do que se passa além do planeta Terra, que eu vou ser um servo d'um Deus que puniu meus antepassados por um deslize previsível. Não estou querendo, como disse a senhora que conversei, 'me igualar a Deus'. Não é isso. Mas se existe um, digamos assim, 'regente universal onisciente e onipresente', essa tal história de pecado original e punição eterna não soa nem um pouco harmonioso. E se por acaso a existência não for harmoniosa, temos uma bagunça por aqui, cuidado.
***
- Você tem que arrebatar almas da sua minha família para Deus, já que por um tempo foi você o unico servo fiel - A senhora disse, e eu vim refletindo. Me falaram que o diabo quer minha alma. Deus quer também. De alguma forma parece que existe uma disputa eterna nisso. Se o diabo é tão maligno assim, porque não manda-lo pra outro mundo? Liquida-lo? Acho que pode existir nisso também algo relacionado ao perdão. Ou então, porque, Deus não divide o trono? Eles estão brigando a tanto tempo que deveriam dar trégua. É tudo culpa do diabo? Porque ele não vai pra o fogo eterno, ao invés dos infelizes que já estão por aqui.
Sei não... essa história de se conformar com o que tá escrito na bíblia e dizer que aquilo é a verdade absoluta, não me cheira muito bem. O inferno é aqui... deveria ter dito isso a ela...
sexta-feira, abril 25, 2008
ALIENS
Olá. Meu nome é A., tenho 20 anos e curso Ciências Biológicas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Pensei em escrever algo sobre como os estudantes são apáticos em relação a situação da Universidade e quão absurdo foi o não comparecimento dos mesmos num ato há três dias atrás no meu campus.
Me ocorre agora que a maioria deles estão apressados e não darão importância ao que quero dizer. Uma parte é egoísta o suficiente para ler e se manter imutável, ou até, de justificar com o velho ‘isso não vai dar em nada’.
Em seguida eu acabo pensando sobre a pequena Jequié, onde a política ainda é movida a desvios monstros de verbas, compra de votos e campanhas movidas a não-merenda escolar. Nada foi feito por aqui e a população sustenta a unhas e dentes o velho argumento conformista.
Imagino que existam pouquíssimas pessoas burras neste mundo. A maioria ou é egoísta, ingênua ou é escrota mesmo. Não me preocupo mais em saber quando foi que a aceitação e o comodismo dogmático virou regra, mas eu sinto que isso é absurdo e eu devo desabafar aqui.
Nem a UESB, nem a Bahia, nem a América do Sul está em bom estado. E olhe que não somos africanos. Mas da mesma forma, andam montando no lombo da gente nos últimos séculos. Sacanearam seus avós, seus pais e você é o próximo. E você é o próximo a se ajoelhar e reverenciar?
Não é o julgamento das pessoas que está em questão aqui. Só que se você é mais um que vai pra casa e dorme achando que tudo está ótimo, me desculpe mas a culpa é sua. Entretanto, diferentemente do conformista, eu não vou cruzar os braços e dizer que nada vai mudar porque a maioria das pessoas ou acha que ta tudo bem, ou se contenta com o mais ou menos. Eu ainda acredito nas pessoas, algumas...
Apesar de ajudar, você não precisa saber de onde veio o sistema nem o que é o sistema. Não precisa entender as leis de mercado, o banco mundial, e a hegemonia dos EUA. Não interessa de onde eu vim, qual é o meu nome, que curso eu faço, onde eu moro e pra onde quero ir. O mundo está ficando cada dia pior e você vai ficar sentado esperando alguma bomba explodir tudo por aí?
Todos vamos morrer um dia, e realmente não sei qual é o sentido disso aqui. De porque me colocaram num mundo tão apático e vergonhoso. Não estou me vangloriando, longe disso, também estou carregando a culpa nas costas. Só que ir pra casa satisfeito, isso não dá.
Quem quer que seja você, seja qual for sua história de vida, com sofrimentos ou euforias demais. Cheia de dinheiro no bolso, bem casada, bem vestida, bem acompanhada, se diga a verdade, não minta para você e diga que você anda tentado melhorar alguma coisa nesse planeta. Não que você tenha que carregar todas as dores do mundo, mas se você sustenta o sistema e não tem consciência disso, meu deus!, comece a pensar nisso.
Se tudo sempre esteve ruim e o povo sempre existiu, por que diabos que o povo não mudou essa maluquice toda? Será que eles estavam estudando para serem mais um que montam no lombo dos outros? Ou será que sempre foram mais um preguiçoso que só reclamava e nada fazia?
Não falo de revolução alguma aqui, não estou bradando ‘Vamos para as ruas fazer alguma coisa’, é a imobilidade que me incomoda. A imobilidade dessas cabeças cheias de fórmulas, métodos, carros e roupas. Cabeças movias a cifras$ e músicas com duas frases. A cabeça dos alienados. E é isso que a maioria das pessoas são, Aliens. Porque se você não se preocupa com a saúde e bem estar do seu planeta e seus habitantes, me desculpa, mas você não deveria estar aqui.
Até a próxima.
terça-feira, abril 22, 2008
A vida que temos não vale ser cantada
Crítica
Colligere
Composição: Rodrigo Ponce
Onde buscarei paixão para conceber novas idéias?
De que inferno trarei palavras com algum calor?
Um mar de cinismo engoliu meu chão e encheu as ruas de
entulho.
Mas nossas fragéis construções caíram com o primeiro
vento.
Se esta música deve expressar uma vida diferente
É porque a vida que temos não vale ser cantada!
O que você procura aqui?
Somente na imagem, a felicidade. Só na palavra, a
verdade.
Se toda idéia responde a uma vontade de viver, por que
não viver?
Matar a fome. Destruir a idéia. matar a fome. Minha
promessa de felicidade.
O dinheiro não me livrou dos remédios. As idéias não
me dão certezas. Minha fé não me livrou do medo.
Onde buscarei paixão para conceber novas idéias? De
que inferno, trarei palavras com algum calor?
quinta-feira, fevereiro 07, 2008
Lição de casa.
Estou aqui mais uma vez sem saber como começar e indo pra lugar algum. Agoniado estressado, P. da Vida. Não gosto da forma como a vida se desmancha (e deslancha) na minha frente. Algumas coisas parecem conspiratórias e, apesar de eu estar relativamente bem hoje em dia, uma coisa nunca mudou. As coisas geralmente não dão certo.
Na verdade, meu grande problema, a vida toda foi com as pessoas. O que não é uma descoberta tão incrível assim, e mesmo sendo tão óbvia, eu ainda mereço o nobel. Claro. Todos os problemas podem acabar rapidinho pra mim se eles não estiverem por perto, no caso, as pessoas.
Já vivi muitos anos relativamente sozinho. Já fugi de casa inúmeras, já fugi de pessoas e situações. Creia que, em todas essas vezes, pelo menos na maioria, deu certo quando eu estava relativamente longe. Só não foi melhor, porque as pessoas continuaram existindo e algum dia o universo conspiraria para que ambos estivessem praticamente no mesmo lugar no espaço.
Outra conclusão óbvia seria matar todos ou boa parte. Mas, eu sou da paz, e ainda não descobri a minha vocação para o homi/genocídio. Se bem que algumas vezes eu já desejei muito mal a alguém, algumas não me arrependo até hoje, mas eu imagino que não seja um sentimento bom para se ter dentro de si. Mas não se preocupe, não falarei sobre o cabeça branca.
É bem fácil correr de alguém, eu por sinal, sou um ótimo fugitivo. Mas cara, correr atrás de alguém é algo extremamente chato. Principalmente quando você precisa desse alguém. Qualquer que seja o motivo, é muito chato velho. São inúmeras situações que conseguem me tirar do sério. Pior quando você começa a construir teorias na cabeça pelo fato de você não conseguir falar com a pessoa ou não receber a atenção devida.
Meus últimos dias têm sido exatamente assim. O que você imaginaria se você tentasse ligar para uma pessoa X e ela não atendesse o dia todo, e quando você pedisse pra alguém ligar, ela conseguisse falar de primeira com esse mesmo X? Pois bem, isso aconteceu umas duas vezes já.
Incrivelmente, eu recuperei a capacidade de acreditar um pouco mais nas pessoas, e ainda estou dando ao tempo a possibilidade de me fazer pensar que eu não estou sendo enganado.
Sendo que, este não é o único fator, mas, de qualquer maneira, depender de outra pessoa é uma merda. Se você já trabalha, paga suas contas e no fim do mês não está devendo a ninguém, parabéns. Na verdade, eu acho que neste mundinho medíocre aqui, esse aí é uma das questões básicas a serem resolvidas.
De tanta semi-complexidade, eu acabo por ficar comparando a forma como vivemos com The Sims. Sim, o joguinho (só que o jogo é mais fácil). Imagine. Temos uma cidade, com vizinhos, cada um fazendo alguma coisa. Todos tentando subir na vida para comprar a televisão que proporciona mais diversão > > > > >, a geladeira que enche mais a barriga, a banheira que promove mais conforto > > > > > e higiene > > > > > >. Tudo isso, pra no fim a energia ser consumida na velocidade que os seus simoleons saem do bolso.
Agora uma coisa que em The Sims é perceptivelmente complicado, como na vida real, é fazer amigos. Eu só tive saco para fazer 11 amigos uma vez, quando investi numa carreira de jogador de futebol, e felizmente, quando eu fosse um Superstar (ultimo nível de promoção) eu não precisaria mais me preocupar com as amizades.
Isso de ficar correndo atrás das pessoas não é comigo, nem no virtual nem no mundo real. Se pudesse, moraria sim, numa tribo bem distante daqui onde só precisasse me preocupar em acordar para caçar, regar a horta e proteger os habitantes. Vida simples porra. Simples e atualmente impossível já que não conheço nenhuma aldeia que recrute homens da cidade por qualquer motivo.
Eu sou adepto da teoria de que o mundo é algo extremamente humilde, extremamente. E nós, na capacidade de imbecis que se acham superdotados resolvemos complicar tudo. Observe a super clareza universal em um parágrafo.
Cabe todo mundo no mundo, certo? Todos os seres vivos. Sobra espaço até. Tem comida pra todo mundo, sabia? Ou melhor, tem comida de sobra. Ou pior, tem tanta comida de sobra que a produção excede e muito no consumo (sem contar com o pouquinho que você joga fora depois do almoço).
Mas acredite que, se todo mundo tivesse comida e lugar pra morar, não estaria tudo resolvido. E eu, na situação de que dependo de outras pessoas para melhorar o mundo um pouco, me sinto frustrado por não ver uma saída para tudo isso. As pessoas além de bastante egoístas, não têm consciência de uma coisa tão simples, que da raiva quando encontro algum intolerante por aí. Quer ser alguém melhor? Só precisa fazer duas coisas. Pare e pense.
Com calma, serenidade, e um pouco de reflexão (e auto reflexão) tudo se ajeita. Outro dia desses fiquei tão triste com a falta de capacidade das pessoas em conseguirem refletir um pouco, nem que seja pra entender meu ponto de vista. É uma merda.
Tinha postado um texto, pela primeira vez no mídia independente. Não imaginava que análises de conjuntura não seria apagados. Mas bem, ?seja a mídia? acabou funcionando comigo e, sem nenhuma repressão o artigo ainda esta lá.
Bem, os comentários começaram a aparecer. O texto se chamava ?Vou te ajudar a deixar de ser imbecil !?, e eu, sinceramente, me declarei para humanidade ali. Uma profunda compaixão, por trás das palavras ásperas e da agonia. Um simples ?Iai velho, tudo bem? Ta uma merda aqui né? Vamos conversar??. Tão simples, era só um debate sobre pequenas ações e responsabilidades.
Parafraseando homem aranha, grandes poderes, grandes responsabilidades. E acredite, existir é um poder e tanto. Você é praticamente deus. Segundo os hindus, cada pessoa é um deus. Eu sou quase adepto desta teoria, mas neste caso, basta ter em mente de que você, e somente você é responsável por seus atos.
Falar sobre isso é tão óbvio para mim, entretanto aceito opniões controversas. O que, é algo também claro, e, simples de ser resolvido.
Voltando ao texto no mídia independente, alguns comentários confirmaram meu texto, e é por eles que escrevo agora, apesar de não serem maioria. É tão possível a compreensão entre duas pessoas, por mais diferentes que ela sejam. E a merda toda é quando a intolerância está completamente inserida na relação. Pode não parecer ter sentido, mas o meu graças a deus, quando ACM se foi, veio daí.
Velho, o cara simplesmente tem consciência (acredito que ele tivesse neurônios suficientes para isso) de que ele era um cara mau. Penso que alguém que manda matar outras pessoas, coage, ameaça, bate entre outros delitos, deve no mínimo refletir, mesmo que com uma sensação amarga de vitória, de que aquilo não é exatamente legal.
Tirando a loucura que se passa pela minha cabeça, ou melhor, pela cabeça de boa parte dos baianos (que sou), de que ELE além de um bom homem, corretíssimo, santo e feliz, dava a vida pela Bahia e que tudo eram flores com ele, a maioria esmagadora consegue não discutir sobre ele e seus atos civilizada e reflexivamente. Alguns já começam com ?política e religião não se discute?, ou ?é tudo mentira e inveja?, entre milhares de outros discursos vazios (ele trouxe a ford, ele fez isso, aquilo outro e pêpêpê).
Sem discutir sobre ele, mas discutindo os discursos, você consegue entender porque que um cidadão de direita consegue incrivelmente não conversar com um de direita? Respondo pra você, ou melhor, já respondi. Pare e pense.
Eu, atualmente, considero um crime alguém ser de direita, mas aceito a condição. Converso e tudo mais, não discrimino, mas tento conversar sempre, além de aprender, posso estar errado.
Agora, crime mesmo, é você defender algo que você não sabe. Como a maior parte de metade dos baianos, que não fazem idéia de quem seja Toninho malvadeza, mas venderam sua crença por uma cesta básica ou um asfalto na rua.
Acredito que você é inteligente o suficiente pra saber que asfaltar, dar moradia e capacidade para uma população conseguir um sustento para se alimentar é terminantemente obrigação de quem dirige a nação, estado ou município. Daí, não discutirei sobre os feitos ou não dele.
(Não argumentei sobre os de direita, porque também acredito que você sabe que um cidadão de direita está preocupado com o capital e não o social, em resumo. E se não sabe, acredite, é o cúmulo do egoísmo. E olhe que eu não sou de esquerda! Nem de centro!)
Mas, mesmo que fossemos discutir agora sobre isso, só lhe pediria uma coisa meu/minha jovem. Pare e pense. Quer melhorar um pouco mais esta merdinha aqui? Então vamos nós dois, pelo menos. Tenha calma e não seja intolerante. Tenha principalmente calma. E se você for daqueles que anda de carro por ai com o som alto, mais calma ainda, quando te criticarem, ouça e aprenda, você pode estar errado.
E acredite mais ainda quando digo, você não sabe como foi difícil dar esta volta toda, correr atrás, só pra dizer que eu preciso de você para me sentir melhor. Não estou de joelhos aqui, mas se fosse necessário, o faria. É simples, acredite.
sábado, dezembro 29, 2007
Apenas mergulho...
É, ele não vai me ligar hoje.
Nem hoje, nem depois. Ele não é mais feito de matéria, então, ele não tem como pegar no telefone e discar meu número.
Se eu voltar um pouco no tempo, eu consigo ver todas as coisas que fizemos juntos. Tantas coisas foram, que eu não consigo imaginar que o que estou vivendo agora é verdade. Isso é inaceitável, eu não me despedi dele velho, nem um abraço sem graça, como quem sabe que seria o último. Não sei de quem é a culpa, mas eu realmente não gostei disso.
Todas as lágrimas que derramei, e a que derramo agora, tem um pouco de raiva, agonia, e falta de compreensão. Eu tive milhões de chances de não ter conhecido ele, de não ter me aproximado, de tantas coisas outras, e, depois do contrário se mostar correto, a coisa mais absurda acontece. Uma curva em 'S', um carro que vinha descendo a ponte, e uma colisão que destruiu o ser humano que eu mais estimava.
Ha algum eu estava com ele, numa moto, andando num lugar sem nada. O vento batia em meus olhos e eles lacrimavam a todo instante. Depois eu estava na ladeira com ele, vendo estrelas cadentes. Em seguida, na praça, tocando violão, ele cantava e eu tocava. Depois, na fazenda, ouvindo um vinil e vendo a lua.
Aquela risada, aquele rosto. Aquela voz, aquele discurso. Aquilo tudo que eu admirava mas achava que não era tanta coisa assim. Aquele cara que eu traí, que eu briguei, que eu fui grosseiro, e que eu não pedi desculpas.
Ele não é só uma pessoa. Não é só um estado físico morto. Não é uma estatística. Ali é uma memória, um abraço, um beijo, um perdão.
Nada disso faz sentido. A vida nem é tão coerente assim, mas de toda ela, a morte dele foi a mais insensata possível. Não preciso ser o mais sábio ou entendedor de coisas metafísicas para concluir que ele, e toda sua história, não deveriam acabar com o rompimento de uma aorta numa pista oleosa.
Não é assim que as histórias acabam.
Poderia ter sido eu. Preferia que tivesse sido eu.
Todo aquele sangue que escorria pela boca, aqueles olhos azuis, abertos. A sombrancelha enorme que ocupava boa parte do rosto, os pés que, de tão grandes, era a única coisa visível no caixão. Aquela boca aberta e o maxilar quebrado. Os dentes amarelos e o coração que não mais batia. Nada disso deveria existir. Deveria ser só mais um sonho horrível depois de uma noite muito mal dormida.
O que prevalece aqui é a não aceitação. Não posso me esconder, não posso fechar os olhos. Nada é permitido. Não existe fuga, apenas mergulho.
Trocaria tudo, por uma última conversa.
Nem hoje, nem depois. Ele não é mais feito de matéria, então, ele não tem como pegar no telefone e discar meu número.
Se eu voltar um pouco no tempo, eu consigo ver todas as coisas que fizemos juntos. Tantas coisas foram, que eu não consigo imaginar que o que estou vivendo agora é verdade. Isso é inaceitável, eu não me despedi dele velho, nem um abraço sem graça, como quem sabe que seria o último. Não sei de quem é a culpa, mas eu realmente não gostei disso.
Todas as lágrimas que derramei, e a que derramo agora, tem um pouco de raiva, agonia, e falta de compreensão. Eu tive milhões de chances de não ter conhecido ele, de não ter me aproximado, de tantas coisas outras, e, depois do contrário se mostar correto, a coisa mais absurda acontece. Uma curva em 'S', um carro que vinha descendo a ponte, e uma colisão que destruiu o ser humano que eu mais estimava.
Ha algum eu estava com ele, numa moto, andando num lugar sem nada. O vento batia em meus olhos e eles lacrimavam a todo instante. Depois eu estava na ladeira com ele, vendo estrelas cadentes. Em seguida, na praça, tocando violão, ele cantava e eu tocava. Depois, na fazenda, ouvindo um vinil e vendo a lua.
Aquela risada, aquele rosto. Aquela voz, aquele discurso. Aquilo tudo que eu admirava mas achava que não era tanta coisa assim. Aquele cara que eu traí, que eu briguei, que eu fui grosseiro, e que eu não pedi desculpas.
Ele não é só uma pessoa. Não é só um estado físico morto. Não é uma estatística. Ali é uma memória, um abraço, um beijo, um perdão.
Nada disso faz sentido. A vida nem é tão coerente assim, mas de toda ela, a morte dele foi a mais insensata possível. Não preciso ser o mais sábio ou entendedor de coisas metafísicas para concluir que ele, e toda sua história, não deveriam acabar com o rompimento de uma aorta numa pista oleosa.
Não é assim que as histórias acabam.
Poderia ter sido eu. Preferia que tivesse sido eu.
Todo aquele sangue que escorria pela boca, aqueles olhos azuis, abertos. A sombrancelha enorme que ocupava boa parte do rosto, os pés que, de tão grandes, era a única coisa visível no caixão. Aquela boca aberta e o maxilar quebrado. Os dentes amarelos e o coração que não mais batia. Nada disso deveria existir. Deveria ser só mais um sonho horrível depois de uma noite muito mal dormida.
O que prevalece aqui é a não aceitação. Não posso me esconder, não posso fechar os olhos. Nada é permitido. Não existe fuga, apenas mergulho.
Trocaria tudo, por uma última conversa.
quinta-feira, dezembro 13, 2007
Você, imbecil. Você tem ‘conserto’
1. Foda-se
Em primeiro lugar, foda-se. Isso mesmo, eu, aqui que estou escrevendo, estou exatamente agora mandando você se fuder. Estou sendo áspero porque quero e tenho motivos pra isso. Não sou nenhum “revoltadinho”, “revolucionáriozinho” ou “o cara que gosta de se aparecer”. Não, sou.
Não ligo se você acha isso, mas você merece uma resposta há algum tempo e só hoje minha indignação chegou ao ponto de eu gastar algum tempo lhe respondendo. É com você mesmo que eu estou falando. Você que é cheio de preconceitos e se julga liberal. Você que é cheio de preconceitos e tenta mascará-los numa postura moderada e sem afirmações diretas.
Você, pessoa, deveria se envergonhar de ser assim. A culpa não é exatamente sua, mas você teve instrução suficiente pra conseguir ser melhor que isso.
2. Preconceito (você achava que eu estava brincando só por causa do primeiro parágrafo)
Uma pessoa parecida com você, uma vez, falou pra o filho dela pra parar de andar comigo porque eu fumava maconha.
Sabe qual é o erro nisso tudo? Não é o fato de que eu não fumava maconha. Não era o fato de eu ter cabelo grande e as pessoas associarem isso a narcóticos. O errado de tudo isso é que ela não sabia de nada e julgou que eu não era uma companhia favorável para a formação de seu filho.
Sabe quando foi que eu fumei maconha pela primeira vez? DOIS anos depois. Sendo que eu fumei porque eu quis e mudei completamente minha idéia sobre isso. Sim, mudei, e acho que se não tivesse mudado eu seria igual a você hoje. Não sou Deus nem o dono da verdade, mas se você tiver um pouco de paciência e deixar seu preconceito um pouco longe daqui, você vai entender o que digo.
É de praxe, quando fala-se de drogas dizer “Não é que eu esteja fazendo apologia as drogas, mas...”, sendo que este imbecil sequer sabe o que é apologia. Como você também não sabe pedi ajuda e Aurélio me disse o seguinte:
“
1. Discurso para justificar, defender ou louvar.
2. Encômio, louvor, elogio.”
Logo, eu ESTOU fazendo apologia a maconha. Estou sim, e tenho plena consciência disso. Faço porque já refleti sobre tudo isso, ao contrário de você, que julga mal minha atitude sem ter construído algum pensamento, sem ter gastado míseros 10 minutos de reflexão. Mediante a tudo isso, volto a repetir o primeiro parágrafo.
3. Liberdade holística e harmonia
E sabe por que eu estou certo em fazer isso? Não é porque estou transgredindo às regras arcaicas impostas por um pacto internacional silencioso. Não é porque a maconha é natural. Não por nada disso. É simples. Os burocratas, os legislativos, a polícia federal, os juízes, todos esses aí, eles são humanos. E, eles comparados a mim, na condição de humanos, só têm uma relação. São exatamente iguais. Não importa se ele tem um braço e eu não, se ele tem uma cor diferente, ou se ele tem um patrimônio maior. Ele é, em relação a mim, igual.
Considerando que, cada um desses aí que, mediante a forte interação social que têm (o que a maioria das pessoas chamam de poder), no fundo no fundo, in natura, não passam de pessoas iguais a mim, NADA, eu disse, NADA, nenhuma coisa, lhes dá o direito de me dizer primeiramente que eu não posso fumar maconha e outra, que eu não posso justificar, defender, ou louvar ela. Não louvo porque não quero, não porque eles dizem que não posso.
Se você não conseguiu entender meu pensamento, pegue agora qualquer objeto cortante e arranque sua cabeça. Você não tem que exatamente concordar comigo, porque isso seria uma imposição, mas o que falo é a única verdade que eu considero universal. Eu sou livre.
Não importa se daqui a um mês eu receberei uma carta com aviso judicial, dizendo que eu serei preso por fazer apologia a maconha. Não me importa se receberei as ameaças mais hediondas que existem, não me importa nada disso. Posso ser preso, sacaneado, morto, estuprado, mas, nada que qualquer ser humano faça contra mim para me calar ou me impossibilitar de viver irá destruir essa verdade, irá dizer que eu não sou mais livre.
Posso ser preso e viver o resto dos meus dias numa solitária. Nem assim eu deixarei de ser livre. A liberdade ultrapassa os valores terrenos. A minha liberdade é uma verdade holística. Eu sou, assim como aquele que me prendeu, um fragmento do universo, e isso nunca vai deixar de ser. Posso ser carbonizado e partido em mil pedaços. Cada pedaço ir para um canto do universo, pois bem, ainda serei parte deste todo.
E o problema disso tudo sabe qual é? Eu, na condição de um ser humano, igual a você, pensei isso tudo sozinho, e você, enquanto ser humano igual a mim, ficou todo esse tempo me julgando, como se soubesse de alguma coisa.
O que falta em você é a reflexão. Isso é uma crítica sim, mas eu não faço isso sem esperanças, não faço isso porque quero que você seja igual a mim. Faço isso porque quero um mundo melhor pra nós, e, infelizmente, esse mundo não pode ser melhor se você continuar sendo como é agora.
Enquanto você sustentar este mundo qual você acredita em tudo que os ‘socialmente influentes’ te falam e, achar que tudo se resume a dinheiro, o mundo vai continuar esta mesma merda e, você vai continuar sendo esse fragmento do universo que cheira a merda.
A solução não é começar a fumar maconha repentinamente. Se quiser fume, mas isso não é o foco da discussão. Na verdade, seria impossível criar um manual de “atitudes legais para todos”, porque isso, além de absurdo e tendencioso, seria sem graça. Aprender é bom, com os erros principalmente. Mas você sabe, só se aprende tentando (e refletindo).
Se você, na condição de ser humano igual a mim, pelo menos, começar a questionar a maioria de suas ações, as coisas começarão a dar certo. Eu poderia dar mil exemplos, mas eu vou começar com alguns bem fáceis, e depois é com você, ok?
Bem, você poderia começar sendo mais compreensivo com erros alheios, quando você percebo que este ‘alheio’ está se esforçando e merece algum crédito, ou simplesmente porque ele é humano e tem esse direito. A compreensão pode vir com uma cordialidade, então, eu darei o bom exemplo agora. Me desculpe por ter mandado você se fuder, anteriormente, me desculpe realmente, não imaginava que você teria a capacidade de ler até aqui e se esforçar pra melhorar as coisas para nós.
Existe outra coisa simples, que todos nós fazemos e sequer pensamos muito sobre. Sabe o lixo? Aquela coisa que quando você coloca do lado de fora de sua casa você não sente mais nada depois. Sabe? Pois é, pra maioria esmagadora, a responsabilidade com o lixo acaba quando o caminhãozinho de lixo pega e o fedor dele vai junto.
A pessoa que pensa assim é um imbecil, mas, isso tem conserto, assim como o seu preconceito com a maconha.Observe, você comprou o produto ou ganhou, certo? Se aquele produto é um lixo em potencial, esse lixo é seu, ele vai ser seu pra sempre, sabe porquê? No nosso país não existe uma política inteligente sobre o lixo. E sabe porquê? Por que o carinha que foi eleito para resolver isso é igual a você, um imbecil. A sorte é que pelo menos você tem jeito.
Eu vou dizer algo óbvio agora, mas, como você ainda é um imbecil talvez não ache. Boa parte do lixo que você produz é reciclável.
Pense por dois minutos e continue lendo.
Está vendo, agora me diga, se você tem 20 anos de idade, quanto lixo foi que você deixou de reciclar? A culpa não é exatamente sua, mas agora que você já sabe, ela é completamente sua, não importa o que você diga.
Aquele copo de vidro que você quebrou enquanto lavava os pratos (sim, cacos de vidro são recicláveis). As 500 latinhas de cerveja que você consumiu durante sua vida toda, as embalagens de refrigerante que você jogou fora depois do almoço, fora os sacos de supermercado que você guardou pra usar, mas acabou indo pro lixo também.
A lista é enorme, entretanto, você não tem idéia do desperdício que você produziu. Você e seu pai. Sua mãe e toda sua família. Jogando coisas recicláveis no lixão de sua cidade, e tudo isso sabe porque? Porque você, seu pai e sua mãe não tiveram o mínimo de responsabilidade com aquilo que fazem.
Não venha se justificar. Você gosta de lixo? Você come lixo por acaso? Se você gosta de lixo ou come ele, você não é imbecil, você só tem problemas mentais graves ou fetiches incompreensíveis e nojentos (mas isso também é um direito seu). Pois bem, se o lixo é ruim e você sabe disso, como é que você não teve o mínimo de reflexão sobre pra onde ele vai? Por isso você ERA um imbecil, agora você não é mais.
Sabe por quê? Agora, toda latinha de refrigerante que você comprar, você vai ter a inteligência, ou melhor, a coerência de levá-la a um lixo reciclável (aqueles coloridos), que funcione é claro, pois a maioria não serve pra nada, ou você vai vencer a preguiça e procurar a cooperativa da sua cidade (sua cidade tem com certeza, ligue pra 102 ou use a internet) e pedir pra passar na sua casa uma vez por semana ou ainda, levar pra casa e esperar aquele mendigo que você menospreza e que passa com um carro enorme cheio de tralhas, pra ele reciclar e dar o que comer aos seus filhos.
E sabe porque você vai fazer isso? Porque você não é um imbecil, e só os imbecis jogam essas latinhas no lixo normal. Só os imbecis são egoístas o suficiente pra achar que não têm responsabilidade com o que fazem. Você pode fazer o que for, certo ou errado não importa, mas você é eternamente responsável por isso.
Então, você viu como é simples refletir e mudar algo? Pois bem, a parte mais difícil é você se adaptar a tudo isso. Depois, você vai começar a entender porque que a mídia convencional não tem nenhuma valia e porque o sistema político que você vive não presta. Vai entender que você não precisa fazer uma faculdade e se submeter ao vestibular pra ser um ser humano normal, e até, que o dinheiro não é exatamente o que você precisa. Vai entender tantas coisas que vai se emocionar quando pensar sobre. Vai ficar viciado nisso e vai até se arrepender por pensar tanto. Mas, é bem melhor não ser um imbecil certo?
Quando, neste mundo em que vivemos, na condição de que somos humanos e iguais, o número de imbecis for menor, você vai ver uma verdadeira mudança nisto tudo, e, vai se orgulhar por participar disto tudo.
Não importa a língua que você fale, a religião que você siga, e de que planeta você vem. A verdade é que uma sociedade coerente com a nossa situação, enquanto iguais e livres, é um sistema horizontal (em que todos são socialmente iguais) e pronto. É só isso que basta. Você não precisa de um sistema em que alguém pode se favorecer ou controlar as coisas. Você não precisa de nada disso. Sabe o que nós precisamos? Harmonia. É isso que precisamos.
E sabe o que é harmonia? Música. O som e o silêncio abraçados. E sabe o que temos? Só som. Um barulho agoniante que acaba me deixando triste. Mas agora que você mudou um pouco, esse barulho diminui, eu percebi que sim, em breve você perceberá também. Quando seu vizinho mudar também, o barulho diminuirá ainda mais. Quando você não ouvir mais nada, pode ter certeza de que as coisas estão dando certo. Só não se esqueça que seu filho também vai ter que entender tudo isso, senão, nada adiantará e os imbecis surgirão novamente. Não é isso que queremos certo?
Informe-se, pense, duvide e faça. Eles podem te prender, mas, o seu tesouro, a ideologia que está completamente protegida em seu crânio, esta aí JAMAIS poderá ser molestada. E, ela é com certeza mais importante que qualquer cifra que esteja em sua conta bancária. Só os imbecis pensam ao contrário. Cuidado com eles e boa sorte.
Abraço companheiro(a).
sexta-feira, outubro 12, 2007
Purgatório
Não é muito difícil pensar em você todos os dias. Já faz algum tempo que isso vira algo constante e eu chego a pensar que alguma coisa louca anda acontecendo. Os embalos de Explosions In The Sky fazem meu coração dar uma acelerada e minha mente viajar de volta no tempo, até Nova Canaã, mais uma vez.
Gostaria de não sentir tanta saudade. Apesar de tudo, até que me consolo pelo fato de ter uma relação saudável até o fim. Triste fica a Epiphone, órfã, que não tocará mais Karma Police tão melancolicamente.
Fiquei lembrando daquele dia na praça da quadra, em Canaã. Um dia que tiramos muitíssimas fotos com meu antigo celular. Um dia de abraços. Isso foi em 2006. Já faz mais de um ano, mas a idéia que eu tenho é nossa despedida foi naquele momento. Engraçado foi dar risada a vontade, regada a conhaque e a um friozinho característico das 3 horas da madrugada. Nós voltando pra casa de sua avó e andando se equilibrando pelo paralelepípedo.
Se você atendesse seu telefone agora, com aquele súbito "Alô" bem grave, eu com certeza relembraria as brincadeira no telefone, de te dar algum susto e fazer algum trocadilho com seu nome ou acrescentar o sufixo 'naldo'.
Eu lembro da vida toda. O dia que cheguei na sala e você estava conversando com Yuri. Eu, todo anti-social, sentado no fundo, e você me saudou com um 'I aí véi, deixa eu ver seu violão'. Era engraçado a relação, de longe dava até pra parecer que eu te conhecia a muito tempo.
Nem quero ser poético hoje. Na verdade, não pretendo ser poético quando falar sobre isso. Sentimentos são coisas esquisitas que nenhuma palavra consegue expressar. Eu sinto saudade claro, mas a minha agonia é por não ter você agora pra conversar. Esse ano, nos falamos muito pouco, mas eu sempre quis estar mais perto e te disse isso. Pena não ter dado tempo pra chegar no fim do ano. Quem sabe nós acabaríamos viajando juntos pra algum lugar e eu estaria praticamente satisfeito (ou o mais próximo disso).
Nunca fui muito paciente com você, me perdoe. Eu sou relaxado, isso eu sei, mas parecia que você não queria nada-com-nada e isso me causava alguma agonia. Mas, se era pra você nem completar 20 anos de idade, isso estava mais do que certo e eu sempre estive errado.
Nunca quis te magoar, mas sei que fiz isso algumas vezes. Talvez não tão acentuadamente, mas essas coisas acontecem entre as pessoas e, chegam a contribuir para a relação, até chegar ao ponto em que você me conhece completamente e eu idem. A idéia de não ter aproveitado muito as coisas é deveras agoniante.
Esse ano, a minha impaciência me fez ser um pouco ridículo quando viajamos no reveillon, pra ilha. Nunca assumi isso, mas eu poderia ter sido mais cordial.
Eu sei que um dia morrerei também, e deixarei na terra apenas alguns escritos e algum sentimento no coração de algumas pessoas. A idéia de não existir mais é muito intrigante e eu já não imagino como deve ser isso. Talvez a alma não exista, e tudo isso não passe de uma fuga perante o nada que seremos um dia. Já conversamos sobre isso um dia, e você nunca concordava comigo. Mais um vez, espero que você esteja certo, porque a idéia de que um dia possamos nos encontrar novamente transforma a palavra morte em reencontro, e isso é bom.
Os últimos anos que vivemos juntos eu sempre estive triste, com alguns picos de alegria extremamente breves. Pois, eis que eu chego a entender algo, depois de algum tempo. Geralmente, quando juntos, nós estávamos dando risada. Isso era bastante freqüente. Quando não, estávamos discutindo sobre o mundo e seus percalços. Hipocrisias e agonias. Vez ou outra a tristeza imperava, mas não era nada que durasse tanto.
Eu estou bem, continuo bem, e você não está aqui para ver isso. Na verdade, o fato de você não estar aqui é a única coisa que não torna minha existência plena. A idéia de que você foi um ser humano único, que deveria envelhecer comigo e conversar eternamente sobre tudo era a única coisa que eu acreditava nesta vida. Tantas coisas foram aprendidas, pra no final acabar nisso, eu aqui, sem você.
Enquanto isso, estou aqui esperando o eterno retorno. O dia em que nos encontraremos de novo, no próximo re-play desta vida, em que eu vou poder te abraçar de novo e você vai soltar um sorrizinho enquanto eu entro no busu e volto pra casa. De novo você ficara 2 horas no ponto de ônibus comigo, conversando sobre tudo e esperando mais um Praia do Flamengo. Mais uma vez que tocaremos no colégio, depois de vários ensaios alegres.
O essencial é invisível aos olhos. Eu só consegui entender isso agora.
Anderson Gomes Bastos
sábado, julho 07, 2007
De Volta ao Asteróide B-612
Jamais esquecerei o dia mais triste de toda minha breve existência. A destruição que cada lágrima produzia dentro de mim. A minha incapacidade de acreditar em absurdos. A minha perplexidade de olhar pra você e não dar risada. De olhar pra você e não te achar irresponsável. De não ter nunca mais o desprazer de esperar suas 2 horas de banho. E pior, depois disso ver que seu cabelo continua horrível.
São tantas lembranças que eu me sinto incapaz de chamar isso de texto-homenagem ou despedida. Você sabe que vivemos juntos por alguns anos. Arrisco dizer que em algumas épocas, eu vivia mais com você do que com minha própria família. Se bem que, durante algum tempo você foi minha família. Meu pai, meu filho e meu irmão.
Parece que toda uma vida passou diante dos meus olhos. Vi você crescer. Vi você praticamente deixar de ser um menininho-de-apartamento. Mesmo quando você virou alguém que eu achava fabuloso, continuei te chamando assim, mas era mentira.
Lembro que foi com você meu primeiro porre de vinho. A primeira vez que sentei numa mesa de bar pra tomar cerveja. O primeiro cigarro que consegui tragar. O primeiro baseado que fumei e por sinal, não bateu onda.
Melhor foi aquela madrugada no ‘portal’. Aquela ladeira mágica em Nova Canaã, onde deitamos com 2 garrafas de vinho Dom Bosco e ficamos vendo as milhares de estrelas cadentes que passavam e você me apontava, ou eu apontava pra você. As melhores eram as que nós víamos juntos.
Me arrependo amargamente dos 4 meses que passamos sem nos falar. Eu só queria ter mais um dia pra dizer que amava você, mais uma vez. Pra te dar mais um abraço, igual aquele que você me deu quando eu fui em Vitória da Conquista te chamar na sua sala. De poder tocar só mais uma vez O Ultimo Romance ou Casa pré-fabricada com você. De ficar ouvindo Explosions In The Sky na varanda da casa de sua avó e ficar conversando sobre a vida.
Só mais um dia pra esperar você ficar 2 horas no banho. Pra ouvir seus casos amorosos e contar o meu mais recente (que só lhe contei o princípio). Só mais um diazinho, pra eu dizer que você não é o Rei do Mundo, por me apresentar as melhores bandas existentes (mas você sabe que eu estava mentindo né?).
Só mais um dia pra te mostrar como eu estou conseguindo tocar As Blood Runs Black. Pra mostrar como o meu Harmônico Artificial está progredindo, sendo que o seu supera o meu milhões de vezes e eu nunca disse isso. Queria também que você me ligasse de madrugada mais uma vez, bêbado de preferência, e com sua voz triste me contasse alguma coisa. Depois, mandasse uma mensagem pra meu celular com alguma frase bonitinha que viesse de sua cabeça.
Só queria que você tivesse mais um dia pra eu mandar outra carta (que você não me responderia, provavelmente). Contar-te todos os detalhes da nova fase da minha vida. Eu estive feliz? Sabia? Te contar coisas legais e te mostrar os mais novos textos que eu provavelmente faria. Nenhum seria angustiado.
Lembro que você me disse que estava atrasado nos meus textos e que iria lê-los depois. Nossa última conversa você disse também que iria entrar no msn de novo pra conversarmos. Odeio o fato de que isso nunca vai acontecer.
Vou sentir falta da promoção da Oi, qual você usou por um bom tempo pra ligar aqui pra casa. Vou sentir falta, principalmente, dos seus trocadilhos ridículos e de suas caretas mais ridículas ainda. De você de touca na cabeça, acabando de sair do banho, parecendo um Playmobil e fazendo a brincadeira de mostrar a cabeça na parede, sumir, e mostrar em outro lugar, como se fosse um teletransporte.
Vai ser muito foda ver que não vamos envelhecer juntos (como eu sempre idealizei). Eu vou ter 40 (talvez) e você vai continuar com 19.
Não vou mais poder brigar com Amandinha sobre seu apelido. Ela acha Bebê, ridículo. Eu gosto.
Pior vai ser ouvir Radiohead e não pensar em você. Ouvir Explosions, The Mars Volta, As Bood Runs Black. O cd do Deftones que você me apresentou.
Mogwai, que eu também consegui dormir por 6 minutos de música, achando que tinham se passado 2 horas.
Vai ser foda ver um skate e não pensar em você. Ver um homem alto e não pensar em você. Um tênis gigantesco também. Não poder te chamar bêbaca por causa de você estar sendo feito de gato e sapato por alguma menininha. Vai ser foda ouvir o The Artist In The Ambulance, do Thrice, e não lembrar da gente no grêmio do ISBA, conversando sobre movimento estudantil e pelegagem.
Passar pela pituba e não lebrar de você é impossível. Vitória da Conquista ideem.
Pensar numa Gibson sem você em mente, não existe. Na palheta Big Stubby (joguei uma no seu túmulo, pra você também ter uma minha). Na caixa Marshall que eu comprei e é igual a sua. Nietsche, Schopenhauer. O seu apelido no mIRC de mil anos atrás que você não quis vender e se fudeu por isso, Shotgun.
Aquela tarde horrível no seu prédio. Aquelas tardes. A que você não deixou eu comer a pizza grande e queria me convencer que eu deveria me empanturrar de pizza brotinho. Eu saí estressado de sua casa. E a que íamos tocar juntos e você preferiu ficar na piscina com Ana Clara. Foi por isso que paramos de nos falar, basicamente =/.
Ouvir Fuck The Fashion de Vinny.
Ler o Pequeno Príncipe de novo pra mim será um tormento. Lembrar de como você falava mal do meu primeiro celular, o Patagônia.
Ninguém nunca vai superar a sua risada do msn, maiúscula e minúscula e rápida. Suas goiabices também são inimitáveis.
A palheta que eu te roubei e depois você me deu oficialmente, jamais será perdida (eu ainda me pergunto por que eu não a perdi ainda, depois de 2 anos com ela).
Pegar o ‘Praia do Flamengo’ sem lembrar das nossas gastações no ônibus. Velho, você foi embora sem eu te contar qual o significado de ‘dormir de calça jeans’ que você falou pra mim o ano todo que era maluquice de pessoas stellamarenses.
São tantas coisas nesses anos que eu nem sei mais o que escrever. Eu te conhecia o suficiente pra prever suas ações. Você também.
Eu nunca chorei no seu colo. Você chorou uma vez, incessantemente.
A imagem que vai ficar na minha memória é você fazendo caretas horríveis. Ou você comendo aquela estampa da sua camisa ridícula. De você e seu cabelo todo quebrado.
A praia e um vinho nunca mais terão o mesmo significado sem você.
As discurssões políticas sem você não terão o mesmo sentido. Jogar The Sims e lembrar das suas péssimas imitações serão completamente angustiantes.
Eu nunca te disse isso, mas lembro de uma conversa sobre estar satisfeito com quem somos. Eu estava satisfeito comigo, mas eu achava você uma pessoa invejável. Se eu não pudesse ser eu, eu ficaria feliz em ser você.
Amigo, irmão. Doeu tanto segurar a alça do seu caixão que eu não sinto mais nada. Pensei que depois da morte do meu gato Fidel eu nunca mais choraria. Me enganei absurdamente. Parecia uma criança. Ainda agora, enquanto escrevo, alguma lágrima se dispõe a descer pelo meu rosto e eu sou obrigado a tirar os óculos.
Espero muito que você não tenha simplesmente deixado de existir. Que você olhe pra mim de onde quer que esteja e me conforte agora. Me dê um abraço. Que me veja crescer e ficar velhinho, quem sabe.
Eu quero parar de sofrer, sério mesmo. Quero só lembrar de tudo e dar risada. Rir como você fez naquele dia no ponto de ônibus. Chorou e tudo mais.
Não vou te esquecer não velho. A rosa do pequeno príncipe agora sangra incessantemente. Você ficará em minha mente e ela em minha costas, em breve.
Forte abraço.
Anderson
sábado, maio 12, 2007
Ao Som das Ondas Uma Hesitante Navalha
Por mais que eu critique e até mesmo condene a situação humana, existem coisas qual posso encaixar entre o magnífico e o curioso. Às vezes até beiro a convicção de que não existem problemas e que todas as singularidades da humanidade são o brilho de toda a História.
Claro que sentimentos confortantes passam rapidamente, da mesma forma que acontece com a felicidade. Seria muito conveniente se a imundice se desintegrasse com devaneios noturnos. Eu não consigo me conformar, ainda, e espero que isso não aconteça tão rapidamente.
Estava lembrando sobre uma conversa que tive há um tempo atrás. Me falavam que talvez a mente humana subestime o entendimento. Dizia-se que talvez não tenhamos a capacidade de entender o sentido daquelas já malhadas perguntas (Quem somos? Porque? Onde?) e que eu morrerei com interrogações em minha cabeça (ou pelo menos irei ignorá-las até chegar lá).
Eu creio que consigo entender algumas coisas. Acredito que por mais absurdo seja a vertente do pensamento de uma pessoa, esta poderia chegar a uma conclusão parecida ou entender meu ponto de vista. Acredito também sobre uma mudança. Acredito até que exista uma unidade universal, e que somos as engrenagens, ou seja, cada peça é indispensável. Ainda assim, as interrogações mantêm-se espancando dia e noite minha frágil consciência.
São muitas dúvidas. De início eu gostaria mesmo é de tentar entender meus semelhantes, depois posso pensar no andar de cima.
Não sei porque, mas acabei me lembrando de algo que ouvi sobre uma pessoa chamada Kodak. Se não me engano é o mesmo dos filmes de máquinas de fotografar. Segundo ouvi, ele dizia que ia pra guerra, mas sem armas. Seus soldados diziam palavras de amor e fraternidade. Claro que perdeu a guerra, como era de se esperar, tratando-se dos seres humanos. Mas eu ainda pude sorrir por uns instantes enquanto pensava que em algum lugar existe alguém que imagine que o amor ainda pode salvar-nos.
Sinto muito. Atualmente nenhuma brecha tem sido disponível para o otimismo, por mais fantasioso que ele seja. Mas, se tem algo que se encaixa no extraordinário entre os homens são as relações que eles mantêm entre si. Mais especificamente as relações amorosas. Todas as vertentes, da fraternidade à ágape. E em meio a tudo isso, existe as atitudes equivocadas ou esquisitas, o que me remete às coisas "curiosas".
Sentimentos são estranhos às vezes. Mas as pessoas conseguem ultrapassar e se distanciar absurdamente da linha do entendimento. Por esse motivo mesmo eu vou fazer a minha dedução mais previsivelmente sem sentido que possa ocorrer. Na verdade, eu ainda segmentei a humanidade pra fazer essa observação e, se for pra generalizá-la realmente, ela só equivale a no máximo 40% das pessoas. O sentido do homem é a mulher. Infelizmente.
****
"Já fazem alguns anos que eu penso sobre isso. Talvez, na época eu tivesse cerca de 17 anos, quem sabe 16, mas o que importa mesmo é que minha mente e todas as minhas convicções ainda estavam em construção. Um pouco de argila molhada, tomou-se forma pouco tempo depois da ultima vez que nos falamos realmente e alguns pedaços se encaixaram depois.
Não existe a possibilidade, ou a capacidade, de conseguir lhe explicar como me senti nos dois anos seguintes. Você não faz idéia de como tudo aquilo modificou minha vida. Pior mesmo foi quem eu virei.
Com você eu tinha aprendido a ser menos introspectivo. Você bem sabe, eu estava morrendo. Uma hora ou outra eu acabaria sendo alguém frio o suficiente pra nunca mais sentir nada. Ia virar alguém sem expectativas nenhuma, me privaria de todas as necessidades básicas e provavelmente eu seria um suicida efetivo (não que atualmente não me encaixe nesses parâmetros, mas acredite, seria muito pior sem você).
Eu ainda fico me perguntando se você e tudo que consegui sentir não se relacionam apenas no plano imaginário. Não sei, mas de uma forma ou de outra penso que o universo conspirou pra que todas as coisas acontecessem no lugar e hora certa pra que me encontrasse com você (ou comigo mesmo). Foi tudo fruto do acaso, não sei se você se lembra... Acho que eu deveria agradecer isso a alguém, um dia.
Mas, uma pena que todas essas coisas não valerem nada atualmente. Eu e você somos pessoas diferentes. Tanto pelo que éramos individualmente quanto juntos. O mais estranho realmente é que, mais uma vez, tudo que lhe falo não é sobre quem você é, mas sobre quem você foi. E na verdade, quem está falando não sou eu, mas o que restou de quem eu fui.
A musa da tragédia, como lhe chamava, esqueceu de me ensinar o pior sobre as pessoas. Elas mudam. Eu só vim aprender isso depois que outras pessoas como você aparecem casualmente em meu caminho.
Mas ainda assim, eu lhe devo certa gratidão. Não fosse pelo grande vazio que você deixou e, consequentemente, a incapacidade de sentir mais dor, todos os outros relacionamentos teriam sido mais difíceis.
Não sei se cheguei a lhe contar, mas depois daquela noite, eu só consegui chorar novamente dois anos depois, quando consegui meio que te esquecer.
Claro que nem tudo ocorre perfeitamente. Caso fosse, não estaria te contando isso agora.
Olha, eu juro que tentei. Quando você me falou que eu era alguém maravilhoso e que as pessoas só não enxergavam isso, eu juro que tentei acreditar, pensar um pouco a frente e apenas deixar as coisas acontecerem.
Infelizmente eu não sou das pessoas mais pacientes. Depois que você e tudo que supostamente tivemos se foram, o que sobrou me foi tirado aos poucos. Meu sono, meu sossego, meu lar, meus amigos...
Eu ainda consegui gostar de alguém depois. Tive até bons progressos. Ouvia o mesmo que você me dizia sobre ser importante em sua vida, sobre ser correspondido, você sabe.
Mais uma vez, aquele parâmetro importantíssimo foi ignorado. As pessoas mudam. As vezes, drasticamente.
Bem, você já deve estar percebendo que eu não ando muito bem não é? É uma pena que você vá conseguir decifrar o que quero dizer tão tarde.
Não vale a pena. Não é mais nada que tenha a ver com otimismo. Me sinto só realmente. Me sinto decepcionado por não ter virado um morto-vivo insensível. Tudo seria mais fácil e você não precisaria passar por isso.
Sabe? Mesmo estando nesta situação, não me arrependo. Voltaria no tempo pra viver aquilo de novo. A sua atenção e o que você sentia.
Bem... O dever me chama. Lembra-se do local qual marcamos o nosso ultimo encontro? Numa pedra, na praia... É uma pena que isso vá acontecer agora, depois de tanto tempo, e sem você.
E ah, claro. Não posso esquecer de lhe confortar sobre isso. Apesar de tudo, não se culpe. Eu me fiz a pergunta que talvez você me fizesse, se tivesse tempo. "Vale realmente a pena?". E eu me respondi: Não faz falta nenhuma.
Quem você acha que sentirá falta? Meus vizinhos? Parentes? Amigos? Laços convenientes não contam.
Eu falhei em todas as questões. Não tive sucesso com você e com as outras. Não tive sucesso com a humanidade como um todo, eles não me ouvem. Na verdade, eu sequer consegui fazer com que minha voz se ecoasse o suficiente.
Também não quero ficar o resto de minha vida tentando pra ter que anotar mais uma coisa no meu caderno de frustrações.
Na verdade, acho que nem me importo mais tanto com isso. Talvez eu esteja mudando. O que, por sinal, é mais um bom motivo para ir até aquela pedra, hoje.
Eu consigo ver além. E acho que até se eu tivesse comigo uma bomba atômica de poder incalculável, as pessoas não se importariam o suficiente. As pessoas mudam, cada um ao seu modo e ao seu tempo.
Creio ainda que mesmo que eu tivesse uma bomba, e consertasse tudo, ia chegar uma hora que alguém mudaria e todo o trabalho seria em vão.
Os humanos não nasceram pra viver em sociedade. Não nasceram para serem muitos. São conflituosos e absurdamente incompatíveis com a organização.
Isso é um adeus realmente. Queria poder ter mudado como você e ser um pouco menos crítico quanto ao nosso mundo, ou talvez extremista. É uma pena, mesmo.
Esqueça o "E se eu...?". É um questionamento horrível e sem solução. Contente-se com minha convicção. Já foi foda suportar o mundo e suas doenças, sozinho então, fica insuportável.
Amei você. Nos vemos da proxima vez que o universo voltar a ser o que é exatamente como hoje (o eterno retorno, lembra?)."
Mais uma vez dobrou o papel, depois de reler esta espécie de despedida e como de costume, quando ia se dirigindo a caixa de correio, rasgou-a.
Se não era a coragem, era o que? Ele sabia da imutabilidade de sua vida. Via o passado se refletir a sua frente. Via a apatia das pessoas. Porque então adiar isso?
"- Não sei... Mas tenho medo de que não existir seja pior do que isto. Na verdade mesmo, tenho medo de que não exista a inexistência. O que seria potencialmente o maior fracasso de todos."
Mais uma vez, resolveu deixar aquilo de lado. Era a quinta vez esta semana que fazia uma carta e desistia no último instante. Todas as vezes ele escrevia para pessoas diferentes e escolhia critérios diversificados para escolhe-las.
"- Se eu for vencido pelo cansaço, um dia ou eu desisto, ou eu..."
"- Quer saber? Estou determinado a mudar novamente. Talvez eu não precise deixar de existir para morrer. Sim. É isso. Eu só preciso parar de sentir."
Virou a esquina e voltou em direção a casa. Sua mãe o aguardava para lhe fazer o almoço. Resolveu não comer aquele dia. Mais importante que isso era resolver a forma mais coerente de levar sua vida dali em diante, e é claro, sozinho. Viva ao retrocesso!
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