sexta-feira, junho 30, 2006

Insônia

E se esse papo de dizer que a mente pode nos levar aonde quisermos ir as coisas vão mal pra mim. Imagina se realmente quando eu bater as botas eu for pra um lugar qual eu acho possível. Estranho... quer dizer... mais estranho seria se eu não fosse pra lugar algum e simplesmente puff! Desapareci.
Outro dia desses estava imaginando o quanto de coisas são meio que desperdiçadas descaradamente. Direto aqui em casa eu fico sozinho, pensando, etc. Só que do jeito que eu sou, as vezes falo sozinho e tal. Seria engraçado pra quem está vendo, se tivesse alguém vendo, mas eu to sozinho pô. Não consigo conceber a idéia de que ninguém está me escutando, muito egoísmo eu falar comigo mesmo.
Isso é mais engraçado do que coerente? Talvez, mas eu me sinto meio convicto da primeira afirmação que fiz. Se eu puder criar um sistema que acolha este aqui, sem preocupações para mim. E bem, sozinho em casa, você sabe: lava prato, varre a casa, essas coisas que as pessoas costumam fazer e acabam ocupando a cabeça com outras coisas...
Numa dessas idas às idéias eu primeiramente começo analisando as pessoas. Penso que tanta gente aí não deve nem ter essa capacidade, analisar as coisas. Esses por aí que sequer conseguem se comunicar com outras pessoas e nem doentes são. Daí eu parto pra o princípio que essas pessoas, como não pensam, desaparecerão. Puff!
Já eu, que penso que penso, nem sei muito bem da minha estadia próxima. Mas, me ocorre um lugar até interessante e, como todos os outros lugares, extremamente possíveis (ou não).
Um outro ambiente. Não se trata mais de corpos e coisas que existem aqui, nada disso. Só existe a sua mente. É como se você estivesse de olhos fechados - o cara morre, pá, olho fechadinho, todo mundo morre assim. Aí sim, aqueles momentinhos sozinhos meus terão algum sentido, eu acho. No meu modelo, também existem outras pessoas, claro, porque são outras opiniões e mentes que fazem com que isso não seja tão mórbido (tá certo que o cara morreu...).
Bater as botas é só a outra fase pô, como engravidar. Engravida, 1ª fase (Mete na menina 1ª fase). Depois que tu morre você sobe o degrau (não lembra não... sempre rola na tevê dizendo que o cara foi pro andar de cima...).
No outro degrau o corpo não pode subir, como eu disse. O sistema é mais ou menos o mesmo: mentes sem nada, cheias, fechadas, tristes, desinteressadas, alegres, idiotas e até as sem rótulos. E bem, como o centro agora meio que é o corpo, o próximo provavelmente serão as mentes né? Elas se olham e enxergam o que estava bem escondido.
Doideira isso né, eu admito... Eu também não estou nas minhas melhores condições. E ah, por via das dúvidas nem vou me agoniar mais com isso. Não lembro de ter conhecido alguém que tenha voltado.
Mas peraê... se por acaso as pessoas não voltarem? É estranho de qualquer jeito, eu não tenho certeza de nada - talvez esteja certo de que não estou tão sóbreo. Talvez nada disso seja importante. Talvez não exista importância...
Ai como eu queria ser uma pedra. Uma pedra não precisa ir pra lugar nenhum... Elas sempre estão ali, como só as pedras, lindíssimas e robustas, conseguem estar; paradas, inertes como uma pedra. Imagina só, eu nem sequer sentiria que seria uma pedra, pedras não precisam disso...
(Em compensação, pedras não sentem o resto. Pedras não dão risada. E bem, pedras não ficam fora de si nem tropeçam nas pernas...)
Se essa história de degrau (tropeçar no degrau, trocadilho, pá) for verdade, eu acho que eu era uma pedra hein? E sim, acabei de me lembrar que era uma pedra. Me arrependi, como só uma pedra idiota e parada no chão sabe se arrepender. Talvez seja melhor aqui mesmo, eu me conformo.
Mas pra que esse segredo todo? Porque não me disseram logo que ia ter outro andar no shopping center? Ia ser melhor pô... o passeio é bem mais divertido quando se tem uma idéia dos momentos de adrenalina e descanso que se passam pelo caminho. Se bem que um pouco de suspense pode cair bem né? Se o próximo passo for me conformar eu acho que daqui a pouco eu vou deixar esse piso hein... Se essa história de dizer que as pessoas eram pedras antigamente, eu acho que tem mesmo sentido. Elas voltam a ser o que eram antes, paradas como pedras e dentro de caixas de madeira. Pedras pedras... Tudo isso só porque tropecei em uma quando tava voltando pra casa. Pensando bem, acho que vou curar toda essa inconstância lá no quarto... (como só as pedras sabem).

sexta-feira, junho 02, 2006

Unidos: Iludidos, Egocêntricos e um Maluco

Tem uma coisa que impera na índole dos seres humanos, que diz respeito a sua importância e dever sobre todas as coisas, com a qual eu não concordo. Vamos começar com um exemplo bem simples: Eu vou morrer assim que terminar de escrever esse texto. Minha possível importância? Eu acho que nenhuma. Várias explicações sobre essa corriqueira fatalidade.
Pra começar, o fato de que existir e bater as botas faz parte do processo. Acho que poucas pessoas discordariam de que é extremamente normal nascer e morrer. E onde está a simplicidade nisso tudo? É óbvio pra mim dizer e entender que ninguém é importante. Algumas convenções podem fazer você achar seus parentes, seu cachorro ou qualquer outra coisa importante, mas, se você não fosse você, o que seria importante?
Viajando um pouco, se você fosse uma planta, uma mato de jardim por exemplo. O que seria importante pra você? Como você é um ser humano provavelmente, não poderá responder a isso, mas, digo de antemão que a resposta é irrelevante.
Se você fosse um planeta, o que seria importante pra você? E se você fosse o Sol? Pode parecer que eu esteja me contradizendo, já que parece que eu quero dizer que as coisas são feitas de pequenas importâncias e, então, você ganhou o troféu "pequena-importância-existencial". Recolha-se a sua insignificância porque não é nada disso. Se eu morrer depois de escrever isso, o que acontecerá com o planeta? E com o Sol? Certo, eu não sou tão importante pra servir como comparação... mas se formos todos nós? NADA. Isso é a nossa influência no restante desconhecido do cosmos.
Está na história da humanidade achar que é a enviada divina e que sua importância é incontestável. Certo, companheiros terráqueos, vamos nos comparar então. O que é normal relacionado às outras espécies? Vamos dizer que seja o instinto. Instinto humano, não lembro de ser muito influenciado por ele. Acho que esqueceram de me ensinar essa matéria na escola. Opa! Instinto foi substituído por normas sociais? Digamos que uma porcentagem considerável (de instinto) foi abafada por algumas invenções da nossa inteligentíssima espécie. O pior de tudo isso é que historicamente não tivemos qualquer espécie de senso de importância...
Exemplo: O ser humano é importante. Seres humanos respiram. Logo: O ar é importante. Comprovação disso: Nós poluímos porque somos inteligentes.
Exemplo2: O ser humano é inteligente e importante. Outras espécies são inferiores. Logo: Só o ser humano tem direito incontestável à vida porque é o único importante pra tal. Comprovação disso: Grandes guerras mundiais, destruição da espécie por intolerância.
Somos (enquanto grupo ser humano) tão importantes que se deixássemos de existir, ninguém iria reclamar. Não estou recorrendo ao sistema metafísico, não é isso... Mas, considerando todas as outras coisas que já aconteceram, eu sei que as únicas pessoas que reclamam da des-existencia dos outros, são os próprios humanos (isso quando reclamam né?). No reino animal, acontece coisa semelhante, lógico, mas isso não diz muita coisa. As coisas continuarão existindo mesmo quando nossa importantíssima presença não se manter.
Agora vamos relacionar isso com o fato de eu deixar de existir quando terminar de escrever. Começando pelo contexto social. Familiares, lamentarão, amigos lamentarão, conhecidos lamentarão. Ponto. Duvido muito que o Sol se importe, ou que Vênus se importe. Será que pelo menos a lua, que está bem próxima se importará? De qualquer maneira, o fato dela se importar ou não é apenas uma lindíssima forma de eu me sentir menos insignificante, mas, ela continuará existindo, importando-se ou não.
O erro nisso tudo que eu disse é que fica parecendo que a Lua, o Sol etc... É que são importantes. A realidade destruidora é uma só, e provavelmente, ninguém concordará. Nada é importante. O que é preciso pra ser importante? Bem... importância é uma coisa inventada pelos seres humanos. O oxigênio pode ser importância pra alguns seres existirem e tal, mas isso não chega a ser um absurdo. As coisas existem, isso é normal, ponto. Esse lance de comparação é uma coisa muito humana, as pessoas fazem isso consciente e inconscientemente. Eu fiz durante boa parte desse texto, você continuará fazendo enquanto lê e vai fazer o restante da sua normalíssima existência.
Você poderia pensar: Se nada é importante, porque existimos? Resposta: Sei lá. Mas o fato de existirmos não nos dá nenhuma importância, sinto muito. Você, provavelmente, impregnado de valores sociais, deve pensar que uma formiga não é tão importante. Uma formiga existe, certo? Porque então ela não é tão importante quanto você já que ambos pertencem ao mesmo conjunto? Resposta: Humanos adoram estar no topo da pirâmide. Imagina que complexo de inferioridade seria da nossa espécie se de uma hora pra o presidente respeitadíssimo da gloriosa ONU dissesse: - Amigos da nossa unidíssima humanidade, somos tão importantes quanto as baratas de nossos esgotos, as formigas de nossos jardins e as bactérias de nossas bocas.
Um ser humano não faria isso. É um valor tão impregnado esse de "endeusar" as coisas que existem, querer dar muito sentido nas coisas que ficam diante dos seus olhos. Eu faço isso, é óbvio. Eu sou um ser humano (ó que descoberta...) . Só que eu tento dissociar de mim alguns valores, e, cheguei a essa conclusão...
Mas diante de tudo isso, ocorre um probleminha só. Se todas as pessoas pensassem assim, mesmo que não completamente conscientemente, a vida seria meio quadrada por aqui. Seres humanos acabaram se habituando a se iludir e tal. Imagina se as pessoas não acreditassem em uma teoria sobre o paraíso, ou sobre reencarnação... Vai muito além de teorias serem verdadeiras ou falsas, não estou discutindo nada disso. O lance de se iludir é uma coisa tão impregnada que quase ninguém percebe isso.
Aquela velha história, parece até um joguinho; Nasce, estuda, dinheiro, filho, morre. Entre uma vírgula e outra existem ações que prendem os humanos cada vez mas, fazendo-os acreditarem em sua sociedade incontestavelmente. Exemplo: Acreditar que dinheiro é importante. Isso lhe prende a estudar (ou qualquer outra coisa que lhe leve às verdinhas), que irá influenciar seus filhos. Entre outros valores que se relacionam às moedinhas (não vou me prender a isso, senão eu só irei falar de dinheiro daqui pra frente).
O que eu questiono em suma, não é nem as clássicas "De onde viemos?", "O que somos?" e "Pra onde vamos?". O fato de nossa sociedade ser praticamente cem por cento do tempo baseada na ilusão, causa uma valorização a coisas banais que acontecem sempre, continuarão acontecendo e, você acredita completamente nisso. Observação: você é só 1 milionésimo de um resto de poeira no universo.
Quem sabe até isso tudo tenha sentido e eu sou o maluco que é do contra e não concorda com a simplicidade. Mas, no mundo que eu vejo e nas coisas que acontecem por aqui, eu não consigo acreditar que as coisas sejam tão idiotas assim. Se as pessoas conseguem valorizar o dinheiro e considera-lo um Deus, com a existência pode ser a mesma coisa. Seu eu for maleável, e você (caso discorde de tudo que eu disse) for um pouquinho também, vamos chegar mais ou menos a essa conclusão: Existir é tão importante assim? Nem tanto hein...
"Oh meu Deus, dê valor a sua vida, você só tem essa". Não é mais uma questão de dar valor a alguma coisa, é algo como achar que tem alguma importância. E como eu sou um nada em relação a tudo que existe, e, sabendo que se eu deixar de existir depois de terminar de escrever isso continuarei não sendo muita coisa, vou voltar a minha vidinha humana a qual estou habituado. Quem sabe eu consiga me iludir o suficiente pra acreditar no dinheiro e na vida, quem sabe até um dia eu seja tudo aquilo que eu sempre critiquei, mas, pelo menos inconscientemente eu sou o mesmo resto de poeira que fica lá no fundo do universo e que não tem muita importância pra o todo. Um nada pensante que tenta dar sentido a alguma coisa.