sexta-feira, outubro 12, 2007

Purgatório



Não é muito difícil pensar em você todos os dias. Já faz algum tempo que isso vira algo constante e eu chego a pensar que alguma coisa louca anda acontecendo. Os embalos de Explosions In The Sky fazem meu coração dar uma acelerada e minha mente viajar de volta no tempo, até Nova Canaã, mais uma vez.
Gostaria de não sentir tanta saudade. Apesar de tudo, até que me consolo pelo fato de ter uma relação saudável até o fim. Triste fica a Epiphone, órfã, que não tocará mais Karma Police tão melancolicamente.
Fiquei lembrando daquele dia na praça da quadra, em Canaã. Um dia que tiramos muitíssimas fotos com meu antigo celular. Um dia de abraços. Isso foi em 2006. Já faz mais de um ano, mas a idéia que eu tenho é nossa despedida foi naquele momento. Engraçado foi dar risada a vontade, regada a conhaque e a um friozinho característico das 3 horas da madrugada. Nós voltando pra casa de sua avó e andando se equilibrando pelo paralelepípedo.
















Se você atendesse seu telefone agora, com aquele súbito "Alô" bem grave, eu com certeza relembraria as brincadeira no telefone, de te dar algum susto e fazer algum trocadilho com seu nome ou acrescentar o sufixo 'naldo'.
Eu lembro da vida toda. O dia que cheguei na sala e você estava conversando com Yuri. Eu, todo anti-social, sentado no fundo, e você me saudou com um 'I aí véi, deixa eu ver seu violão'. Era engraçado a relação, de longe dava até pra parecer que eu te conhecia a muito tempo.
Nem quero ser poético hoje. Na verdade, não pretendo ser poético quando falar sobre isso. Sentimentos são coisas esquisitas que nenhuma palavra consegue expressar. Eu sinto saudade claro, mas a minha agonia é por não ter você agora pra conversar. Esse ano, nos falamos muito pouco, mas eu sempre quis estar mais perto e te disse isso. Pena não ter dado tempo pra chegar no fim do ano. Quem sabe nós acabaríamos viajando juntos pra algum lugar e eu estaria praticamente satisfeito (ou o mais próximo disso).
Nunca fui muito paciente com você, me perdoe. Eu sou relaxado, isso eu sei, mas parecia que você não queria nada-com-nada e isso me causava alguma agonia. Mas, se era pra você nem completar 20 anos de idade, isso estava mais do que certo e eu sempre estive errado.
Nunca quis te magoar, mas sei que fiz isso algumas vezes. Talvez não tão acentuadamente, mas essas coisas acontecem entre as pessoas e, chegam a contribuir para a relação, até chegar ao ponto em que você me conhece completamente e eu idem. A idéia de não ter aproveitado muito as coisas é deveras agoniante.
Esse ano, a minha impaciência me fez ser um pouco ridículo quando viajamos no reveillon, pra ilha. Nunca assumi isso, mas eu poderia ter sido mais cordial.
Eu sei que um dia morrerei também, e deixarei na terra apenas alguns escritos e algum sentimento no coração de algumas pessoas. A idéia de não existir mais é muito intrigante e eu já não imagino como deve ser isso. Talvez a alma não exista, e tudo isso não passe de uma fuga perante o nada que seremos um dia. Já conversamos sobre isso um dia, e você nunca concordava comigo. Mais um vez, espero que você esteja certo, porque a idéia de que um dia possamos nos encontrar novamente transforma a palavra morte em reencontro, e isso é bom.
Os últimos anos que vivemos juntos eu sempre estive triste, com alguns picos de alegria extremamente breves. Pois, eis que eu chego a entender algo, depois de algum tempo. Geralmente, quando juntos, nós estávamos dando risada. Isso era bastante freqüente. Quando não, estávamos discutindo sobre o mundo e seus percalços. Hipocrisias e agonias. Vez ou outra a tristeza imperava, mas não era nada que durasse tanto.
Eu estou bem, continuo bem, e você não está aqui para ver isso. Na verdade, o fato de você não estar aqui é a única coisa que não torna minha existência plena. A idéia de que você foi um ser humano único, que deveria envelhecer comigo e conversar eternamente sobre tudo era a única coisa que eu acreditava nesta vida. Tantas coisas foram aprendidas, pra no final acabar nisso, eu aqui, sem você.
Enquanto isso, estou aqui esperando o eterno retorno. O dia em que nos encontraremos de novo, no próximo re-play desta vida, em que eu vou poder te abraçar de novo e você vai soltar um sorrizinho enquanto eu entro no busu e volto pra casa. De novo você ficara 2 horas no ponto de ônibus comigo, conversando sobre tudo e esperando mais um Praia do Flamengo. Mais uma vez que tocaremos no colégio, depois de vários ensaios alegres.
O essencial é invisível aos olhos. Eu só consegui entender isso agora.



Anderson Gomes Bastos