sábado, abril 28, 2007

Isto não é um texto


Hoje eu não vou escrever. Não ficarei aqui gastando minha madrugada digitando, imaginando que uma possível solução ou conforto magicamente aparecerá neste papel virtual. Não vou, como andei fazendo por tanto tempo, amenizar minhas angústias de maneira fictícia e até ilusória. Não, não vou impregnar este papel de angústias. Talvez nem ele mesmo mereça isto.
Gostaria muito de fazer um texto bonitinho. Gostaria de ter motivos para fazer um texto bonitinho. Até mesmo, gostaria de ter mais do que meia dúzia cenas bonitinhas para simplesmente transpô-las ao papel. Ao invés disso estou aqui, pensando, somente isso.
Ok. Vamos tentar resolver tudo. O problema começa a partir do momento que eu dou importância pra certas coisas, caso contrário, eu nem o sentiria. 2, Que coisas são. As pessoas. Todas? Não. Algumas. Quem? Existem dois tipos. As que eu conheço e as que eu não conheço.
Primeiro, as que eu não conheço. Pessoas de direita, conservadores, alienados por opção, alienados simples, alienistas, egoístas exacerbados, egocêntricos exacerbados, pessoas que não sabem ouvir, oportunistas, falsos, medíocres, preguiçosos ao extremo, comodistas, comodistas ao extremo, infantis, manipuladores, idiotas e por fim os apáticos.
Se eles são um problema é porque fazem algo, isso é óbvio. As pessoas de direita são a favor de absurdos, absurdos porque agem a favor da elite, a elite é a minoria e pensar na minoria é, além de anti-democrático, egoísta. Alienados por opção estão impregnados de conformismo, que por sua vez sustenta os de direita, que sustenta o egoísmo, que sustenta a desigualdade. Os alienados simples são criados pelos manipuladores, que por sua vez são egoístas, já que tendencionam a opinião em favor de seus interesses, o que por sua vez sustenta o oportunismo, que sustenta a falsidade e que é sustentada pelos comodistas ao extremo, preguiçosos, idiotas, apáticos, egocêntricos e egoístas.
Seria muito fácil lidar com essas relações absurdas se elas fossem minoria. Infelismente isso é um absurdo. Digamos que a cada 1 milhão de pessoas, 2 não se encaixam neste perfil, o que é uma merda maior ainda.
Já quanto as pessoas que eu conheço, decidi não alimentar o assunto. Na verdade, decidi parar de pensar nisso. Continuarei aqui, ouvindo Dream Theater e esperando a merda do sono chegar. ♪ Another Day

sábado, abril 21, 2007

Porque Ele não chora?


- Pior que dizer que você não presta é ouvir de suas amigas e amigos a mesma coisa...
Eram quase duas da manhã e a rua movimentada impedia um diálogo coerente. Ela permanecia com sua apatia e Ele transformou toda sua agonia em raiva. Faltava pouco para que aquela rua se enchesse de sangue, muito pouco...
- Eu te disse que isso não ia dar certo, não porque eu queria algo com você mas porque eu sabia disso, eu te avisei...
- Me avisou? Tem mais de um ano que você me enche de falsas esperanças. Seria fácil se eu dissesse simplesmente que eu gosto de você e que isso é infundado. Mas não, você procurou isso, e agora que eu gastei todo esse tempo de minha vida, você, com a maior normalidade do mundo diz que já sabia?
Era triste a cena. O pé dele sangrava incessantemente e ele mal sentia isso. O álcool havia possuído seu corpo de tal maneira que seria impossível sentir qualquer tipo de dor. Nem mesmo a da perda completa daquilo que ele mais almejava.
- E você veio aqui pra que mesmo? Já são duas horas da manhã e eu já estava dormindo.
- Você já se arrependeu de conhecer alguém?
- Você se arrependeu de me conhecer?
- Claro, você não vale o que o gato enterra. Você se sente completamente feliz brincando com as pessoas. Eu já te disse isso, todo mundo diz isso.
- Então tá, você vai passar por mim agora e falar "oi" e pronto.
- Nem isso, eu não quero falar com você nunca mais. Você não merece nem o meu desprezo.

Mais de um mês atrás:

Ele estava completamente livre daquele sentimento vão. Ele a amava, isso era óbvio. Mas esse sentimento era tão infundado, ou melhor, inútil, que ele por tantas vezes se viu sem saída.
Semanas antes ele resolveu se livrar disto. Impensadamente acabou se relacionando da maneira mais intima com uma amiga Dela. Foi estranho:
- Olha, Ela ta ficando com um cara ali ó...
- É, eu já imaginava...
Enquanto conversava com a Amiga, seus olhos mantinham-se fixados e vez ou outras seus narizes tocavam-se.
- Quer saber, eu nem quero ver essa desgraça...
- Hahahaha, para com isso moço!
Por um segundo seus lábios estavam tão próximos que a Amiga resolveu lhe beijar ternamente.
"O que é isso? - Pensou Ele - Eu sinto vontade, não há muito o que pensar sobre, a Amiga vale muito mais a pena do que Ela"
E aquilo aconteceu. Foi completamente impensado, pelo menos da parte Dele. Enquanto se beijavam, Ela passava mal e mantia-se sentada em uma cadeira.
- Peraí, você meio que namora com meu amigo. como que vai ser se ele souber?
- Se ele descobrir não estou nem aí.
Ele foi pra aquela festa imaginando que sua única solução seria gastar toda sua agonia com latas e garrafas. Em momento nenhum imaginou estar naquela situação. Tanto pela sua falta de expectativas quanto pelo desprezo que geralmente lhe era aplicado.
Gastou as todos os últimos minutos com a Amiga. Enquanto isso Ela, sentada em uma cadeira plástica, parecia não estar muito bem. Vez ou outra pensava que Ela iria vomitar. A Amiga chegou a dar-lhe algo para beber e conversar um pouco.
- Desculpa!! Ele é tão legal, desculpa!
- Vocês tão ficando... que engraçado...
Engraçado mesmo era aquela cena. Ela acabou ficando sozinha e foi amparada pela Amiga e por Ele. Ambos foram se dirigir a casa Dela, imaginando o que seria feito em seguida.
- Quer um cigarro? - disse a amiga.
- Pode ser, vamos ficar aqui na calçada...
- Vocês estavam beijando na boca... eu vi. – Disse Ela.
- Eu também, hehehehhe - disse Ele naturalmente.
Fumaram e conversaram sobre qualquer normalidade. Ela, vez ou outra, fazia alguma observação, Ele ria.
Depois de certo tempo, a Amiga resolveu ir ao banheiro. Ela aproveitou o momento para dar a Ele um selinho e justificá-lo com:
- Se ela ver isso vai ficar com ciúmes.
Ele nada respondeu, já entendia sua forma de se relacionar com as pessoas. Era total perda de tempo.
Por três semanas aquela situação se manteve. O único absurdo era a submissão da amiga. O Amigo Dele mantinha uma relação completamente desigual. Ele tinha completa certeza da sacanagem que imperava nisso. Estava disposto a esquecer Ela e continuar se relacionando com a Amiga normalmente, mas isto era impossível. Da mesma maneira que Ele muitas vezes fez escolhas absurdas e cegas por causa Dela, a Amiga fazia igualmente por causa do Amigo.
Findada as três semanas, a Amiga e Ele continuaram se falando com freqüência, mas o meio-romance havia se terminado.
Sozinho e sem muito que fazer a não ser continuar a esquecer Ela, resolveu aleatoriamente beber um litro de vinho sozinho.
Estava na calçada de sua casa, com uma outra amiga conversando. Eis que Ela aparece. Não é nenhuma novidade aquela cena. Ela se mantém a vontade, como se eles não tivessem nenhum problema e nunca houvesse acontecido nada entre eles. O vinho apareceu em cena e a outra amiga acabou indo embora.
Sozinhos, a coisa mudava completamente de figura. Quando o vinho acabou Ela disse algo terno pra ele. Ao abraçá-la, o inevitável aconteceu.
Caiu em tentação mais uma vez. Ela era a serpente e ele estava comendo a maçã naquele instante. Imaginando que se arrependeria de não aproveitar aquele momento, limpou sua mente e continuou a beijá-la.
- Moço, eu já fique com 50 caras, e você é o único que eu digo que amo.
- Eu amo você também. Só tenho medo do...
- Do amanhã, eu sei. Amanhã eu quero ficar com você também...
Aquilo era inalcançável. Tanto pelo cheiro que Ela tinha na boca quanto pelo fato dele ter esperado por tanto tempo para sentir aquilo novamente.
Ela praticamente declarou-se durante toda a noite. A única coisa que Ele imaginava era que desta vez tudo seria diferente. Será que Ela havia mudado? Difícil acreditar. O mais importante era aproveitar o resto da noite que lhes agurdava.
Subitamente a luz que iluminava a calçada se extinguiu. As estrelas mostravam-se mais evidentes e a lua mais clara. Tudo mantinha-se perfeitamente. Uma pontinha de otimismo Lhe preencheu, não acreditava naquilo. Ela realmente lhe amava... A escuridão, eles a sós, o que mais faltava?
Saíram da calçada e foram para a cama. O sono imperava ambos e acabaram dormindo. Era como se um fosse o encaixe do outro. Tão rapidamente o sol se levantou que nem perceberam. Tudo era maravilhoso mas durou pouco tempo. Ela se levantou, foi para casa e Ele foi cuidar dos seus afazeres diários.

Esta estranha relação que Ele resolveu se privar (por auto-proteção) manteu-se por mais três dias. Ele entendeu perfeitamente porque não deveria prosseguir com aquilo no mesmo dia em que dormiram juntos. O absurdo foi-lhe esclarecido por uma amiga dela. Ela estava "namorando" com uma outra pessoa.
À noite, Ele chegou a questionar isso. Ela foi passiva, dizendo que o Outro era legal.
"Legal? E tudo aquilo sobre dizer que me amava, ontem? Será que ela realmente se sente bem brincando com as outras pessoas?"
A destruição estava impregnada em seu ser. Ele havia perdido toda sua autonomia, não conseguiria escapar dela tão facilmente assim. Precisaria de tempo e de muitos bons motivos (além dos que ele já sabia).
Depois do terceiro dia Ele afastou-se um pouco. Passou-se uma semana. A Amiga deixou evidente que preferia viver na submissão injusta com o Amigo, mesmo sabendo que a possibilidade dela estar sendo sacaneada fosse grande. Pura alienação.
Caindo em tentação novamente, Ela foi a sua casa. Não chegou a dormir em sua casa, mas não houve pudor em suas atitudes.
- Está vendo como é difícil me afastar de você? Você não ajuda...
- Deixa disso moço.
E esta foi a última vez.

Até o dia fatídico, às duas da manhã, Ele se pôs a avaliar toda a situação. Todos falavam que Ela não merecia metade do que ele sentia. Aquilo era tão evidente quanto o azul do céu. Então porque ele fazia aquilo? Pelo mesmo motivo qual a Amiga mantinha-se submissa. Falta de reflexão e sentimento em demasia.
Era a hora de arrancar o que lhe restava no coração. Passou da hora Dele assassinar aquele assunto. A verdade mesmo era que Ela o usava. Nem se pode afirmar nada sobre a realidade dos sentimentos. Ela provavelmente não queria perder o que Ele sentia e por isso, vez ou outra, dava pequenas doses paliativas para manter a chama acesa.

Foram mais de três grades de cerveja. Ele já estava no nível de começar a falar dos problemas. Quando falou com um amigo seu, este lhe mandou a verdade absoluta.
- Não presta mesmo. Eu fiquei com Ela e foi Ela quem me queixou. Eu não te contei antes porque não sabia que você gostava tanto assim dela.
- Cara, você não é o primeiro que fala isso e não é o primeiro amigo meu que ela fica.
- Ah, aquilo não merece nada não rapaz...
- Filha da puta!
Munido de muita agonia misturada com raiva e arrependimento foi, ás 01:48 para casa Dela. Mandou ainda que ligassem pra Ela e avisassem que estava se dirigindo pra lá.
"Puta que pariu. Tão fácil ser enganado. Ela não sente nada por ninguém. A única coisa que ela não quer é perder a simpatia que os outros têm por ela. Ela não gosta de mim. Ela gosta de minha atenção. Filha da Puta!"
Pedalava agressivamente. Mal percebia que estava descalço e que o pedal estava meio-quebrado. Isso só iria fazer algum sentido depois que o efeito alcoólico cessasse.

- Então ta, você vai passar por mim agora e falar "oi" e pronto.
- Nem isso, eu não quero falar com você nunca mais. Você não merece nem o meu desprezo.
- Ta, então a agora a culpa é toda minha...
- Na verdade, você faz isso com todo mundo. Vou embora daqui e você vai dormir sem nenhum ressentimento, como se eu nem existisse.
- AH! Eu já cansei de não dormir pensando em você!
- Pensando em mim? Filha, você não pensa em ninguém. Você não sente porra nenhuma por ninguém.
- Olha, eu vou entrar viu!
- Pode entrar. Falta de argumentos. Falta de tudo. Você é a desgraça que me fez perder mais tempo do que eu deveria.
- Boa noite viu.
- Boa o caralho!
E voltou da mesma forma que veio. Aquilo estava aniquilado. Pensava não sentir mais nada por Ela, só arrependimento. Quando voltou para a festa, para contar sobre o ocorrido percebeu que havia sangue.
Não havia dor, mas aquilo foi muito bem feito. Nunca havia feito besteiras depois de alguns copos, mas aquela valeu muito a pena. Estava livre e queria muito que Ela sofresse. Não valia a pena gastar mais nada com aquilo.
Estava sozinho novamente. Por já ter se acostumado com aquilo nem fez tanto efeito. A única preocupação é quanto a sua coragem. Será que Ele vai novamente esquecer todas as verdades para novamente sentir a inutilidade que Ela lhe proporciona?
Desta ou de outra maneira, Ela acaba de ser interrada. Pena ter demorado tanto para perceber que nada disso valeu a pena. Por mais feliz que tenha sido, o que Ela sentia (se sentia) não supre metade do Ele quer. E o pior, vai ser tão fácil esquecer isso que é como se eles não se conhecessem.
"Que seja. A satisfação de não me sentir idiota supera a falsa-alegria de estar perto dela. Por mim morre agora. O que realmente importa é não me deixar ser possuído por qualquer sentimento. Esse é o grande mal."
E esta foi a última lágrima que Ele proferiu. Difícil descrever a sensação de alívio. Estava livre. Talvez esta seja a única coisa boa de toda essa história.