sábado, dezembro 29, 2007

Apenas mergulho...

É, ele não vai me ligar hoje.
Nem hoje, nem depois. Ele não é mais feito de matéria, então, ele não tem como pegar no telefone e discar meu número.
Se eu voltar um pouco no tempo, eu consigo ver todas as coisas que fizemos juntos. Tantas coisas foram, que eu não consigo imaginar que o que estou vivendo agora é verdade. Isso é inaceitável, eu não me despedi dele velho, nem um abraço sem graça, como quem sabe que seria o último. Não sei de quem é a culpa, mas eu realmente não gostei disso.
Todas as lágrimas que derramei, e a que derramo agora, tem um pouco de raiva, agonia, e falta de compreensão. Eu tive milhões de chances de não ter conhecido ele, de não ter me aproximado, de tantas coisas outras, e, depois do contrário se mostar correto, a coisa mais absurda acontece. Uma curva em 'S', um carro que vinha descendo a ponte, e uma colisão que destruiu o ser humano que eu mais estimava.
Ha algum eu estava com ele, numa moto, andando num lugar sem nada. O vento batia em meus olhos e eles lacrimavam a todo instante. Depois eu estava na ladeira com ele, vendo estrelas cadentes. Em seguida, na praça, tocando violão, ele cantava e eu tocava. Depois, na fazenda, ouvindo um vinil e vendo a lua.
Aquela risada, aquele rosto. Aquela voz, aquele discurso. Aquilo tudo que eu admirava mas achava que não era tanta coisa assim. Aquele cara que eu traí, que eu briguei, que eu fui grosseiro, e que eu não pedi desculpas.
Ele não é só uma pessoa. Não é só um estado físico morto. Não é uma estatística. Ali é uma memória, um abraço, um beijo, um perdão.
Nada disso faz sentido. A vida nem é tão coerente assim, mas de toda ela, a morte dele foi a mais insensata possível. Não preciso ser o mais sábio ou entendedor de coisas metafísicas para concluir que ele, e toda sua história, não deveriam acabar com o rompimento de uma aorta numa pista oleosa.
Não é assim que as histórias acabam.
Poderia ter sido eu. Preferia que tivesse sido eu.
Todo aquele sangue que escorria pela boca, aqueles olhos azuis, abertos. A sombrancelha enorme que ocupava boa parte do rosto, os pés que, de tão grandes, era a única coisa visível no caixão. Aquela boca aberta e o maxilar quebrado. Os dentes amarelos e o coração que não mais batia. Nada disso deveria existir. Deveria ser só mais um sonho horrível depois de uma noite muito mal dormida.
O que prevalece aqui é a não aceitação. Não posso me esconder, não posso fechar os olhos. Nada é permitido. Não existe fuga, apenas mergulho.
Trocaria tudo, por uma última conversa.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Você, imbecil. Você tem ‘conserto’



1. Foda-se

Em primeiro lugar, foda-se. Isso mesmo, eu, aqui que estou escrevendo, estou exatamente agora mandando você se fuder. Estou sendo áspero porque quero e tenho motivos pra isso. Não sou nenhum “revoltadinho”, “revolucionáriozinho” ou “o cara que gosta de se aparecer”. Não, sou.

Não ligo se você acha isso, mas você merece uma resposta há algum tempo e só hoje minha indignação chegou ao ponto de eu gastar algum tempo lhe respondendo. É com você mesmo que eu estou falando. Você que é cheio de preconceitos e se julga liberal. Você que é cheio de preconceitos e tenta mascará-los numa postura moderada e sem afirmações diretas.

Você, pessoa, deveria se envergonhar de ser assim. A culpa não é exatamente sua, mas você teve instrução suficiente pra conseguir ser melhor que isso.


2. Preconceito (você achava que eu estava brincando só por causa do primeiro parágrafo)

Uma pessoa parecida com você, uma vez, falou pra o filho dela pra parar de andar comigo porque eu fumava maconha.
Sabe qual é o erro nisso tudo? Não é o fato de que eu não fumava maconha. Não era o fato de eu ter cabelo grande e as pessoas associarem isso a narcóticos. O errado de tudo isso é que ela não sabia de nada e julgou que eu não era uma companhia favorável para a formação de seu filho.

Sabe quando foi que eu fumei maconha pela primeira vez? DOIS anos depois. Sendo que eu fumei porque eu quis e mudei completamente minha idéia sobre isso. Sim, mudei, e acho que se não tivesse mudado eu seria igual a você hoje. Não sou Deus nem o dono da verdade, mas se você tiver um pouco de paciência e deixar seu preconceito um pouco longe daqui, você vai entender o que digo.

É de praxe, quando fala-se de drogas dizer “Não é que eu esteja fazendo apologia as drogas, mas...”, sendo que este imbecil sequer sabe o que é apologia. Como você também não sabe pedi ajuda e Aurélio me disse o seguinte:


1. Discurso para justificar, defender ou louvar.
2. Encômio, louvor, elogio.”

Logo, eu ESTOU fazendo apologia a maconha. Estou sim, e tenho plena consciência disso. Faço porque já refleti sobre tudo isso, ao contrário de você, que julga mal minha atitude sem ter construído algum pensamento, sem ter gastado míseros 10 minutos de reflexão. Mediante a tudo isso, volto a repetir o primeiro parágrafo.

3. Liberdade holística e harmonia

E sabe por que eu estou certo em fazer isso? Não é porque estou transgredindo às regras arcaicas impostas por um pacto internacional silencioso. Não é porque a maconha é natural. Não por nada disso. É simples. Os burocratas, os legislativos, a polícia federal, os juízes, todos esses aí, eles são humanos. E, eles comparados a mim, na condição de humanos, só têm uma relação. São exatamente iguais. Não importa se ele tem um braço e eu não, se ele tem uma cor diferente, ou se ele tem um patrimônio maior. Ele é, em relação a mim, igual.

Considerando que, cada um desses aí que, mediante a forte interação social que têm (o que a maioria das pessoas chamam de poder), no fundo no fundo, in natura, não passam de pessoas iguais a mim, NADA, eu disse, NADA, nenhuma coisa, lhes dá o direito de me dizer primeiramente que eu não posso fumar maconha e outra, que eu não posso justificar, defender, ou louvar ela. Não louvo porque não quero, não porque eles dizem que não posso.

Se você não conseguiu entender meu pensamento, pegue agora qualquer objeto cortante e arranque sua cabeça. Você não tem que exatamente concordar comigo, porque isso seria uma imposição, mas o que falo é a única verdade que eu considero universal. Eu sou livre.

Não importa se daqui a um mês eu receberei uma carta com aviso judicial, dizendo que eu serei preso por fazer apologia a maconha. Não me importa se receberei as ameaças mais hediondas que existem, não me importa nada disso. Posso ser preso, sacaneado, morto, estuprado, mas, nada que qualquer ser humano faça contra mim para me calar ou me impossibilitar de viver irá destruir essa verdade, irá dizer que eu não sou mais livre.

Posso ser preso e viver o resto dos meus dias numa solitária. Nem assim eu deixarei de ser livre. A liberdade ultrapassa os valores terrenos. A minha liberdade é uma verdade holística. Eu sou, assim como aquele que me prendeu, um fragmento do universo, e isso nunca vai deixar de ser. Posso ser carbonizado e partido em mil pedaços. Cada pedaço ir para um canto do universo, pois bem, ainda serei parte deste todo.

E o problema disso tudo sabe qual é? Eu, na condição de um ser humano, igual a você, pensei isso tudo sozinho, e você, enquanto ser humano igual a mim, ficou todo esse tempo me julgando, como se soubesse de alguma coisa.

O que falta em você é a reflexão. Isso é uma crítica sim, mas eu não faço isso sem esperanças, não faço isso porque quero que você seja igual a mim. Faço isso porque quero um mundo melhor pra nós, e, infelizmente, esse mundo não pode ser melhor se você continuar sendo como é agora.

Enquanto você sustentar este mundo qual você acredita em tudo que os ‘socialmente influentes’ te falam e, achar que tudo se resume a dinheiro, o mundo vai continuar esta mesma merda e, você vai continuar sendo esse fragmento do universo que cheira a merda.

A solução não é começar a fumar maconha repentinamente. Se quiser fume, mas isso não é o foco da discussão. Na verdade, seria impossível criar um manual de “atitudes legais para todos”, porque isso, além de absurdo e tendencioso, seria sem graça. Aprender é bom, com os erros principalmente. Mas você sabe, só se aprende tentando (e refletindo).

Se você, na condição de ser humano igual a mim, pelo menos, começar a questionar a maioria de suas ações, as coisas começarão a dar certo. Eu poderia dar mil exemplos, mas eu vou começar com alguns bem fáceis, e depois é com você, ok?

Bem, você poderia começar sendo mais compreensivo com erros alheios, quando você percebo que este ‘alheio’ está se esforçando e merece algum crédito, ou simplesmente porque ele é humano e tem esse direito. A compreensão pode vir com uma cordialidade, então, eu darei o bom exemplo agora. Me desculpe por ter mandado você se fuder, anteriormente, me desculpe realmente, não imaginava que você teria a capacidade de ler até aqui e se esforçar pra melhorar as coisas para nós.

Existe outra coisa simples, que todos nós fazemos e sequer pensamos muito sobre. Sabe o lixo? Aquela coisa que quando você coloca do lado de fora de sua casa você não sente mais nada depois. Sabe? Pois é, pra maioria esmagadora, a responsabilidade com o lixo acaba quando o caminhãozinho de lixo pega e o fedor dele vai junto.

A pessoa que pensa assim é um imbecil, mas, isso tem conserto, assim como o seu preconceito com a maconha.Observe, você comprou o produto ou ganhou, certo? Se aquele produto é um lixo em potencial, esse lixo é seu, ele vai ser seu pra sempre, sabe porquê? No nosso país não existe uma política inteligente sobre o lixo. E sabe porquê? Por que o carinha que foi eleito para resolver isso é igual a você, um imbecil. A sorte é que pelo menos você tem jeito.

Eu vou dizer algo óbvio agora, mas, como você ainda é um imbecil talvez não ache. Boa parte do lixo que você produz é reciclável.

Pense por dois minutos e continue lendo.

Está vendo, agora me diga, se você tem 20 anos de idade, quanto lixo foi que você deixou de reciclar? A culpa não é exatamente sua, mas agora que você já sabe, ela é completamente sua, não importa o que você diga.

Aquele copo de vidro que você quebrou enquanto lavava os pratos (sim, cacos de vidro são recicláveis). As 500 latinhas de cerveja que você consumiu durante sua vida toda, as embalagens de refrigerante que você jogou fora depois do almoço, fora os sacos de supermercado que você guardou pra usar, mas acabou indo pro lixo também.

A lista é enorme, entretanto, você não tem idéia do desperdício que você produziu. Você e seu pai. Sua mãe e toda sua família. Jogando coisas recicláveis no lixão de sua cidade, e tudo isso sabe porque? Porque você, seu pai e sua mãe não tiveram o mínimo de responsabilidade com aquilo que fazem.

Não venha se justificar. Você gosta de lixo? Você come lixo por acaso? Se você gosta de lixo ou come ele, você não é imbecil, você só tem problemas mentais graves ou fetiches incompreensíveis e nojentos (mas isso também é um direito seu). Pois bem, se o lixo é ruim e você sabe disso, como é que você não teve o mínimo de reflexão sobre pra onde ele vai? Por isso você ERA um imbecil, agora você não é mais.

Sabe por quê? Agora, toda latinha de refrigerante que você comprar, você vai ter a inteligência, ou melhor, a coerência de levá-la a um lixo reciclável (aqueles coloridos), que funcione é claro, pois a maioria não serve pra nada, ou você vai vencer a preguiça e procurar a cooperativa da sua cidade (sua cidade tem com certeza, ligue pra 102 ou use a internet) e pedir pra passar na sua casa uma vez por semana ou ainda, levar pra casa e esperar aquele mendigo que você menospreza e que passa com um carro enorme cheio de tralhas, pra ele reciclar e dar o que comer aos seus filhos.

E sabe porque você vai fazer isso? Porque você não é um imbecil, e só os imbecis jogam essas latinhas no lixo normal. Só os imbecis são egoístas o suficiente pra achar que não têm responsabilidade com o que fazem. Você pode fazer o que for, certo ou errado não importa, mas você é eternamente responsável por isso.

Então, você viu como é simples refletir e mudar algo? Pois bem, a parte mais difícil é você se adaptar a tudo isso. Depois, você vai começar a entender porque que a mídia convencional não tem nenhuma valia e porque o sistema político que você vive não presta. Vai entender que você não precisa fazer uma faculdade e se submeter ao vestibular pra ser um ser humano normal, e até, que o dinheiro não é exatamente o que você precisa. Vai entender tantas coisas que vai se emocionar quando pensar sobre. Vai ficar viciado nisso e vai até se arrepender por pensar tanto. Mas, é bem melhor não ser um imbecil certo?

Quando, neste mundo em que vivemos, na condição de que somos humanos e iguais, o número de imbecis for menor, você vai ver uma verdadeira mudança nisto tudo, e, vai se orgulhar por participar disto tudo.

Não importa a língua que você fale, a religião que você siga, e de que planeta você vem. A verdade é que uma sociedade coerente com a nossa situação, enquanto iguais e livres, é um sistema horizontal (em que todos são socialmente iguais) e pronto. É só isso que basta. Você não precisa de um sistema em que alguém pode se favorecer ou controlar as coisas. Você não precisa de nada disso. Sabe o que nós precisamos? Harmonia. É isso que precisamos.

E sabe o que é harmonia? Música. O som e o silêncio abraçados. E sabe o que temos? Só som. Um barulho agoniante que acaba me deixando triste. Mas agora que você mudou um pouco, esse barulho diminui, eu percebi que sim, em breve você perceberá também. Quando seu vizinho mudar também, o barulho diminuirá ainda mais. Quando você não ouvir mais nada, pode ter certeza de que as coisas estão dando certo. Só não se esqueça que seu filho também vai ter que entender tudo isso, senão, nada adiantará e os imbecis surgirão novamente. Não é isso que queremos certo?

Informe-se, pense, duvide e faça. Eles podem te prender, mas, o seu tesouro, a ideologia que está completamente protegida em seu crânio, esta aí JAMAIS poderá ser molestada. E, ela é com certeza mais importante que qualquer cifra que esteja em sua conta bancária. Só os imbecis pensam ao contrário. Cuidado com eles e boa sorte.

Abraço companheiro(a).

sexta-feira, outubro 12, 2007

Purgatório



Não é muito difícil pensar em você todos os dias. Já faz algum tempo que isso vira algo constante e eu chego a pensar que alguma coisa louca anda acontecendo. Os embalos de Explosions In The Sky fazem meu coração dar uma acelerada e minha mente viajar de volta no tempo, até Nova Canaã, mais uma vez.
Gostaria de não sentir tanta saudade. Apesar de tudo, até que me consolo pelo fato de ter uma relação saudável até o fim. Triste fica a Epiphone, órfã, que não tocará mais Karma Police tão melancolicamente.
Fiquei lembrando daquele dia na praça da quadra, em Canaã. Um dia que tiramos muitíssimas fotos com meu antigo celular. Um dia de abraços. Isso foi em 2006. Já faz mais de um ano, mas a idéia que eu tenho é nossa despedida foi naquele momento. Engraçado foi dar risada a vontade, regada a conhaque e a um friozinho característico das 3 horas da madrugada. Nós voltando pra casa de sua avó e andando se equilibrando pelo paralelepípedo.
















Se você atendesse seu telefone agora, com aquele súbito "Alô" bem grave, eu com certeza relembraria as brincadeira no telefone, de te dar algum susto e fazer algum trocadilho com seu nome ou acrescentar o sufixo 'naldo'.
Eu lembro da vida toda. O dia que cheguei na sala e você estava conversando com Yuri. Eu, todo anti-social, sentado no fundo, e você me saudou com um 'I aí véi, deixa eu ver seu violão'. Era engraçado a relação, de longe dava até pra parecer que eu te conhecia a muito tempo.
Nem quero ser poético hoje. Na verdade, não pretendo ser poético quando falar sobre isso. Sentimentos são coisas esquisitas que nenhuma palavra consegue expressar. Eu sinto saudade claro, mas a minha agonia é por não ter você agora pra conversar. Esse ano, nos falamos muito pouco, mas eu sempre quis estar mais perto e te disse isso. Pena não ter dado tempo pra chegar no fim do ano. Quem sabe nós acabaríamos viajando juntos pra algum lugar e eu estaria praticamente satisfeito (ou o mais próximo disso).
Nunca fui muito paciente com você, me perdoe. Eu sou relaxado, isso eu sei, mas parecia que você não queria nada-com-nada e isso me causava alguma agonia. Mas, se era pra você nem completar 20 anos de idade, isso estava mais do que certo e eu sempre estive errado.
Nunca quis te magoar, mas sei que fiz isso algumas vezes. Talvez não tão acentuadamente, mas essas coisas acontecem entre as pessoas e, chegam a contribuir para a relação, até chegar ao ponto em que você me conhece completamente e eu idem. A idéia de não ter aproveitado muito as coisas é deveras agoniante.
Esse ano, a minha impaciência me fez ser um pouco ridículo quando viajamos no reveillon, pra ilha. Nunca assumi isso, mas eu poderia ter sido mais cordial.
Eu sei que um dia morrerei também, e deixarei na terra apenas alguns escritos e algum sentimento no coração de algumas pessoas. A idéia de não existir mais é muito intrigante e eu já não imagino como deve ser isso. Talvez a alma não exista, e tudo isso não passe de uma fuga perante o nada que seremos um dia. Já conversamos sobre isso um dia, e você nunca concordava comigo. Mais um vez, espero que você esteja certo, porque a idéia de que um dia possamos nos encontrar novamente transforma a palavra morte em reencontro, e isso é bom.
Os últimos anos que vivemos juntos eu sempre estive triste, com alguns picos de alegria extremamente breves. Pois, eis que eu chego a entender algo, depois de algum tempo. Geralmente, quando juntos, nós estávamos dando risada. Isso era bastante freqüente. Quando não, estávamos discutindo sobre o mundo e seus percalços. Hipocrisias e agonias. Vez ou outra a tristeza imperava, mas não era nada que durasse tanto.
Eu estou bem, continuo bem, e você não está aqui para ver isso. Na verdade, o fato de você não estar aqui é a única coisa que não torna minha existência plena. A idéia de que você foi um ser humano único, que deveria envelhecer comigo e conversar eternamente sobre tudo era a única coisa que eu acreditava nesta vida. Tantas coisas foram aprendidas, pra no final acabar nisso, eu aqui, sem você.
Enquanto isso, estou aqui esperando o eterno retorno. O dia em que nos encontraremos de novo, no próximo re-play desta vida, em que eu vou poder te abraçar de novo e você vai soltar um sorrizinho enquanto eu entro no busu e volto pra casa. De novo você ficara 2 horas no ponto de ônibus comigo, conversando sobre tudo e esperando mais um Praia do Flamengo. Mais uma vez que tocaremos no colégio, depois de vários ensaios alegres.
O essencial é invisível aos olhos. Eu só consegui entender isso agora.



Anderson Gomes Bastos

sábado, julho 07, 2007

De Volta ao Asteróide B-612



Jamais esquecerei o dia mais triste de toda minha breve existência. A destruição que cada lágrima produzia dentro de mim. A minha incapacidade de acreditar em absurdos. A minha perplexidade de olhar pra você e não dar risada. De olhar pra você e não te achar irresponsável. De não ter nunca mais o desprazer de esperar suas 2 horas de banho. E pior, depois disso ver que seu cabelo continua horrível.
São tantas lembranças que eu me sinto incapaz de chamar isso de texto-homenagem ou despedida. Você sabe que vivemos juntos por alguns anos. Arrisco dizer que em algumas épocas, eu vivia mais com você do que com minha própria família. Se bem que, durante algum tempo você foi minha família. Meu pai, meu filho e meu irmão.
Parece que toda uma vida passou diante dos meus olhos. Vi você crescer. Vi você praticamente deixar de ser um menininho-de-apartamento. Mesmo quando você virou alguém que eu achava fabuloso, continuei te chamando assim, mas era mentira.
Lembro que foi com você meu primeiro porre de vinho. A primeira vez que sentei numa mesa de bar pra tomar cerveja. O primeiro cigarro que consegui tragar. O primeiro baseado que fumei e por sinal, não bateu onda.
Melhor foi aquela madrugada no ‘portal’. Aquela ladeira mágica em Nova Canaã, onde deitamos com 2 garrafas de vinho Dom Bosco e ficamos vendo as milhares de estrelas cadentes que passavam e você me apontava, ou eu apontava pra você. As melhores eram as que nós víamos juntos.
Me arrependo amargamente dos 4 meses que passamos sem nos falar. Eu só queria ter mais um dia pra dizer que amava você, mais uma vez. Pra te dar mais um abraço, igual aquele que você me deu quando eu fui em Vitória da Conquista te chamar na sua sala. De poder tocar só mais uma vez O Ultimo Romance ou Casa pré-fabricada com você. De ficar ouvindo Explosions In The Sky na varanda da casa de sua avó e ficar conversando sobre a vida.
Só mais um dia pra esperar você ficar 2 horas no banho. Pra ouvir seus casos amorosos e contar o meu mais recente (que só lhe contei o princípio). Só mais um diazinho, pra eu dizer que você não é o Rei do Mundo, por me apresentar as melhores bandas existentes (mas você sabe que eu estava mentindo né?).
Só mais um dia pra te mostrar como eu estou conseguindo tocar As Blood Runs Black. Pra mostrar como o meu Harmônico Artificial está progredindo, sendo que o seu supera o meu milhões de vezes e eu nunca disse isso. Queria também que você me ligasse de madrugada mais uma vez, bêbado de preferência, e com sua voz triste me contasse alguma coisa. Depois, mandasse uma mensagem pra meu celular com alguma frase bonitinha que viesse de sua cabeça.
Só queria que você tivesse mais um dia pra eu mandar outra carta (que você não me responderia, provavelmente). Contar-te todos os detalhes da nova fase da minha vida. Eu estive feliz? Sabia? Te contar coisas legais e te mostrar os mais novos textos que eu provavelmente faria. Nenhum seria angustiado.
Lembro que você me disse que estava atrasado nos meus textos e que iria lê-los depois. Nossa última conversa você disse também que iria entrar no msn de novo pra conversarmos. Odeio o fato de que isso nunca vai acontecer.
Vou sentir falta da promoção da Oi, qual você usou por um bom tempo pra ligar aqui pra casa. Vou sentir falta, principalmente, dos seus trocadilhos ridículos e de suas caretas mais ridículas ainda. De você de touca na cabeça, acabando de sair do banho, parecendo um Playmobil e fazendo a brincadeira de mostrar a cabeça na parede, sumir, e mostrar em outro lugar, como se fosse um teletransporte.
Vai ser muito foda ver que não vamos envelhecer juntos (como eu sempre idealizei). Eu vou ter 40 (talvez) e você vai continuar com 19.
Não vou mais poder brigar com Amandinha sobre seu apelido. Ela acha Bebê, ridículo. Eu gosto.
Pior vai ser ouvir Radiohead e não pensar em você. Ouvir Explosions, The Mars Volta, As Bood Runs Black. O cd do Deftones que você me apresentou.
Mogwai, que eu também consegui dormir por 6 minutos de música, achando que tinham se passado 2 horas.
Vai ser foda ver um skate e não pensar em você. Ver um homem alto e não pensar em você. Um tênis gigantesco também. Não poder te chamar bêbaca por causa de você estar sendo feito de gato e sapato por alguma menininha. Vai ser foda ouvir o The Artist In The Ambulance, do Thrice, e não lembrar da gente no grêmio do ISBA, conversando sobre movimento estudantil e pelegagem.
Passar pela pituba e não lebrar de você é impossível. Vitória da Conquista ideem.
Pensar numa Gibson sem você em mente, não existe. Na palheta Big Stubby (joguei uma no seu túmulo, pra você também ter uma minha). Na caixa Marshall que eu comprei e é igual a sua. Nietsche, Schopenhauer. O seu apelido no mIRC de mil anos atrás que você não quis vender e se fudeu por isso, Shotgun.
Aquela tarde horrível no seu prédio. Aquelas tardes. A que você não deixou eu comer a pizza grande e queria me convencer que eu deveria me empanturrar de pizza brotinho. Eu saí estressado de sua casa. E a que íamos tocar juntos e você preferiu ficar na piscina com Ana Clara. Foi por isso que paramos de nos falar, basicamente =/.
Ouvir Fuck The Fashion de Vinny.
Ler o Pequeno Príncipe de novo pra mim será um tormento. Lembrar de como você falava mal do meu primeiro celular, o Patagônia.
Ninguém nunca vai superar a sua risada do msn, maiúscula e minúscula e rápida. Suas goiabices também são inimitáveis.
A palheta que eu te roubei e depois você me deu oficialmente, jamais será perdida (eu ainda me pergunto por que eu não a perdi ainda, depois de 2 anos com ela).
Pegar o ‘Praia do Flamengo’ sem lembrar das nossas gastações no ônibus. Velho, você foi embora sem eu te contar qual o significado de ‘dormir de calça jeans’ que você falou pra mim o ano todo que era maluquice de pessoas stellamarenses.
São tantas coisas nesses anos que eu nem sei mais o que escrever. Eu te conhecia o suficiente pra prever suas ações. Você também.
Eu nunca chorei no seu colo. Você chorou uma vez, incessantemente.
A imagem que vai ficar na minha memória é você fazendo caretas horríveis. Ou você comendo aquela estampa da sua camisa ridícula. De você e seu cabelo todo quebrado.
A praia e um vinho nunca mais terão o mesmo significado sem você.
As discurssões políticas sem você não terão o mesmo sentido. Jogar The Sims e lembrar das suas péssimas imitações serão completamente angustiantes.
Eu nunca te disse isso, mas lembro de uma conversa sobre estar satisfeito com quem somos. Eu estava satisfeito comigo, mas eu achava você uma pessoa invejável. Se eu não pudesse ser eu, eu ficaria feliz em ser você.
Amigo, irmão. Doeu tanto segurar a alça do seu caixão que eu não sinto mais nada. Pensei que depois da morte do meu gato Fidel eu nunca mais choraria. Me enganei absurdamente. Parecia uma criança. Ainda agora, enquanto escrevo, alguma lágrima se dispõe a descer pelo meu rosto e eu sou obrigado a tirar os óculos.
Espero muito que você não tenha simplesmente deixado de existir. Que você olhe pra mim de onde quer que esteja e me conforte agora. Me dê um abraço. Que me veja crescer e ficar velhinho, quem sabe.
Eu quero parar de sofrer, sério mesmo. Quero só lembrar de tudo e dar risada. Rir como você fez naquele dia no ponto de ônibus. Chorou e tudo mais.
Não vou te esquecer não velho. A rosa do pequeno príncipe agora sangra incessantemente. Você ficará em minha mente e ela em minha costas, em breve.
Forte abraço.

Anderson

sábado, maio 12, 2007

Ao Som das Ondas Uma Hesitante Navalha


Por mais que eu critique e até mesmo condene a situação humana, existem coisas qual posso encaixar entre o magnífico e o curioso. Às vezes até beiro a convicção de que não existem problemas e que todas as singularidades da humanidade são o brilho de toda a História.
Claro que sentimentos confortantes passam rapidamente, da mesma forma que acontece com a felicidade. Seria muito conveniente se a imundice se desintegrasse com devaneios noturnos. Eu não consigo me conformar, ainda, e espero que isso não aconteça tão rapidamente.
Estava lembrando sobre uma conversa que tive há um tempo atrás. Me falavam que talvez a mente humana subestime o entendimento. Dizia-se que talvez não tenhamos a capacidade de entender o sentido daquelas já malhadas perguntas (Quem somos? Porque? Onde?) e que eu morrerei com interrogações em minha cabeça (ou pelo menos irei ignorá-las até chegar lá).
Eu creio que consigo entender algumas coisas. Acredito que por mais absurdo seja a vertente do pensamento de uma pessoa, esta poderia chegar a uma conclusão parecida ou entender meu ponto de vista. Acredito também sobre uma mudança. Acredito até que exista uma unidade universal, e que somos as engrenagens, ou seja, cada peça é indispensável. Ainda assim, as interrogações mantêm-se espancando dia e noite minha frágil consciência.
São muitas dúvidas. De início eu gostaria mesmo é de tentar entender meus semelhantes, depois posso pensar no andar de cima.
Não sei porque, mas acabei me lembrando de algo que ouvi sobre uma pessoa chamada Kodak. Se não me engano é o mesmo dos filmes de máquinas de fotografar. Segundo ouvi, ele dizia que ia pra guerra, mas sem armas. Seus soldados diziam palavras de amor e fraternidade. Claro que perdeu a guerra, como era de se esperar, tratando-se dos seres humanos. Mas eu ainda pude sorrir por uns instantes enquanto pensava que em algum lugar existe alguém que imagine que o amor ainda pode salvar-nos.
Sinto muito. Atualmente nenhuma brecha tem sido disponível para o otimismo, por mais fantasioso que ele seja. Mas, se tem algo que se encaixa no extraordinário entre os homens são as relações que eles mantêm entre si. Mais especificamente as relações amorosas. Todas as vertentes, da fraternidade à ágape. E em meio a tudo isso, existe as atitudes equivocadas ou esquisitas, o que me remete às coisas "curiosas".
Sentimentos são estranhos às vezes. Mas as pessoas conseguem ultrapassar e se distanciar absurdamente da linha do entendimento. Por esse motivo mesmo eu vou fazer a minha dedução mais previsivelmente sem sentido que possa ocorrer. Na verdade, eu ainda segmentei a humanidade pra fazer essa observação e, se for pra generalizá-la realmente, ela só equivale a no máximo 40% das pessoas. O sentido do homem é a mulher. Infelizmente.

****

"Já fazem alguns anos que eu penso sobre isso. Talvez, na época eu tivesse cerca de 17 anos, quem sabe 16, mas o que importa mesmo é que minha mente e todas as minhas convicções ainda estavam em construção. Um pouco de argila molhada, tomou-se forma pouco tempo depois da ultima vez que nos falamos realmente e alguns pedaços se encaixaram depois.
Não existe a possibilidade, ou a capacidade, de conseguir lhe explicar como me senti nos dois anos seguintes. Você não faz idéia de como tudo aquilo modificou minha vida. Pior mesmo foi quem eu virei.
Com você eu tinha aprendido a ser menos introspectivo. Você bem sabe, eu estava morrendo. Uma hora ou outra eu acabaria sendo alguém frio o suficiente pra nunca mais sentir nada. Ia virar alguém sem expectativas nenhuma, me privaria de todas as necessidades básicas e provavelmente eu seria um suicida efetivo (não que atualmente não me encaixe nesses parâmetros, mas acredite, seria muito pior sem você).
Eu ainda fico me perguntando se você e tudo que consegui sentir não se relacionam apenas no plano imaginário. Não sei, mas de uma forma ou de outra penso que o universo conspirou pra que todas as coisas acontecessem no lugar e hora certa pra que me encontrasse com você (ou comigo mesmo). Foi tudo fruto do acaso, não sei se você se lembra... Acho que eu deveria agradecer isso a alguém, um dia.
Mas, uma pena que todas essas coisas não valerem nada atualmente. Eu e você somos pessoas diferentes. Tanto pelo que éramos individualmente quanto juntos. O mais estranho realmente é que, mais uma vez, tudo que lhe falo não é sobre quem você é, mas sobre quem você foi. E na verdade, quem está falando não sou eu, mas o que restou de quem eu fui.
A musa da tragédia, como lhe chamava, esqueceu de me ensinar o pior sobre as pessoas. Elas mudam. Eu só vim aprender isso depois que outras pessoas como você aparecem casualmente em meu caminho.
Mas ainda assim, eu lhe devo certa gratidão. Não fosse pelo grande vazio que você deixou e, consequentemente, a incapacidade de sentir mais dor, todos os outros relacionamentos teriam sido mais difíceis.
Não sei se cheguei a lhe contar, mas depois daquela noite, eu só consegui chorar novamente dois anos depois, quando consegui meio que te esquecer.
Claro que nem tudo ocorre perfeitamente. Caso fosse, não estaria te contando isso agora.
Olha, eu juro que tentei. Quando você me falou que eu era alguém maravilhoso e que as pessoas só não enxergavam isso, eu juro que tentei acreditar, pensar um pouco a frente e apenas deixar as coisas acontecerem.
Infelizmente eu não sou das pessoas mais pacientes. Depois que você e tudo que supostamente tivemos se foram, o que sobrou me foi tirado aos poucos. Meu sono, meu sossego, meu lar, meus amigos...
Eu ainda consegui gostar de alguém depois. Tive até bons progressos. Ouvia o mesmo que você me dizia sobre ser importante em sua vida, sobre ser correspondido, você sabe.
Mais uma vez, aquele parâmetro importantíssimo foi ignorado. As pessoas mudam. As vezes, drasticamente.
Bem, você já deve estar percebendo que eu não ando muito bem não é? É uma pena que você vá conseguir decifrar o que quero dizer tão tarde.
Não vale a pena. Não é mais nada que tenha a ver com otimismo. Me sinto só realmente. Me sinto decepcionado por não ter virado um morto-vivo insensível. Tudo seria mais fácil e você não precisaria passar por isso.
Sabe? Mesmo estando nesta situação, não me arrependo. Voltaria no tempo pra viver aquilo de novo. A sua atenção e o que você sentia.
Bem... O dever me chama. Lembra-se do local qual marcamos o nosso ultimo encontro? Numa pedra, na praia... É uma pena que isso vá acontecer agora, depois de tanto tempo, e sem você.
E ah, claro. Não posso esquecer de lhe confortar sobre isso. Apesar de tudo, não se culpe. Eu me fiz a pergunta que talvez você me fizesse, se tivesse tempo. "Vale realmente a pena?". E eu me respondi: Não faz falta nenhuma.
Quem você acha que sentirá falta? Meus vizinhos? Parentes? Amigos? Laços convenientes não contam.
Eu falhei em todas as questões. Não tive sucesso com você e com as outras. Não tive sucesso com a humanidade como um todo, eles não me ouvem. Na verdade, eu sequer consegui fazer com que minha voz se ecoasse o suficiente.
Também não quero ficar o resto de minha vida tentando pra ter que anotar mais uma coisa no meu caderno de frustrações.
Na verdade, acho que nem me importo mais tanto com isso. Talvez eu esteja mudando. O que, por sinal, é mais um bom motivo para ir até aquela pedra, hoje.
Eu consigo ver além. E acho que até se eu tivesse comigo uma bomba atômica de poder incalculável, as pessoas não se importariam o suficiente. As pessoas mudam, cada um ao seu modo e ao seu tempo.
Creio ainda que mesmo que eu tivesse uma bomba, e consertasse tudo, ia chegar uma hora que alguém mudaria e todo o trabalho seria em vão.
Os humanos não nasceram pra viver em sociedade. Não nasceram para serem muitos. São conflituosos e absurdamente incompatíveis com a organização.
Isso é um adeus realmente. Queria poder ter mudado como você e ser um pouco menos crítico quanto ao nosso mundo, ou talvez extremista. É uma pena, mesmo.
Esqueça o "E se eu...?". É um questionamento horrível e sem solução. Contente-se com minha convicção. Já foi foda suportar o mundo e suas doenças, sozinho então, fica insuportável.
Amei você. Nos vemos da proxima vez que o universo voltar a ser o que é exatamente como hoje (o eterno retorno, lembra?)."
Mais uma vez dobrou o papel, depois de reler esta espécie de despedida e como de costume, quando ia se dirigindo a caixa de correio, rasgou-a.
Se não era a coragem, era o que? Ele sabia da imutabilidade de sua vida. Via o passado se refletir a sua frente. Via a apatia das pessoas. Porque então adiar isso?
"- Não sei... Mas tenho medo de que não existir seja pior do que isto. Na verdade mesmo, tenho medo de que não exista a inexistência. O que seria potencialmente o maior fracasso de todos."
Mais uma vez, resolveu deixar aquilo de lado. Era a quinta vez esta semana que fazia uma carta e desistia no último instante. Todas as vezes ele escrevia para pessoas diferentes e escolhia critérios diversificados para escolhe-las.
"- Se eu for vencido pelo cansaço, um dia ou eu desisto, ou eu..."
"- Quer saber? Estou determinado a mudar novamente. Talvez eu não precise deixar de existir para morrer. Sim. É isso. Eu só preciso parar de sentir."
Virou a esquina e voltou em direção a casa. Sua mãe o aguardava para lhe fazer o almoço. Resolveu não comer aquele dia. Mais importante que isso era resolver a forma mais coerente de levar sua vida dali em diante, e é claro, sozinho. Viva ao retrocesso!

sábado, abril 28, 2007

Isto não é um texto


Hoje eu não vou escrever. Não ficarei aqui gastando minha madrugada digitando, imaginando que uma possível solução ou conforto magicamente aparecerá neste papel virtual. Não vou, como andei fazendo por tanto tempo, amenizar minhas angústias de maneira fictícia e até ilusória. Não, não vou impregnar este papel de angústias. Talvez nem ele mesmo mereça isto.
Gostaria muito de fazer um texto bonitinho. Gostaria de ter motivos para fazer um texto bonitinho. Até mesmo, gostaria de ter mais do que meia dúzia cenas bonitinhas para simplesmente transpô-las ao papel. Ao invés disso estou aqui, pensando, somente isso.
Ok. Vamos tentar resolver tudo. O problema começa a partir do momento que eu dou importância pra certas coisas, caso contrário, eu nem o sentiria. 2, Que coisas são. As pessoas. Todas? Não. Algumas. Quem? Existem dois tipos. As que eu conheço e as que eu não conheço.
Primeiro, as que eu não conheço. Pessoas de direita, conservadores, alienados por opção, alienados simples, alienistas, egoístas exacerbados, egocêntricos exacerbados, pessoas que não sabem ouvir, oportunistas, falsos, medíocres, preguiçosos ao extremo, comodistas, comodistas ao extremo, infantis, manipuladores, idiotas e por fim os apáticos.
Se eles são um problema é porque fazem algo, isso é óbvio. As pessoas de direita são a favor de absurdos, absurdos porque agem a favor da elite, a elite é a minoria e pensar na minoria é, além de anti-democrático, egoísta. Alienados por opção estão impregnados de conformismo, que por sua vez sustenta os de direita, que sustenta o egoísmo, que sustenta a desigualdade. Os alienados simples são criados pelos manipuladores, que por sua vez são egoístas, já que tendencionam a opinião em favor de seus interesses, o que por sua vez sustenta o oportunismo, que sustenta a falsidade e que é sustentada pelos comodistas ao extremo, preguiçosos, idiotas, apáticos, egocêntricos e egoístas.
Seria muito fácil lidar com essas relações absurdas se elas fossem minoria. Infelismente isso é um absurdo. Digamos que a cada 1 milhão de pessoas, 2 não se encaixam neste perfil, o que é uma merda maior ainda.
Já quanto as pessoas que eu conheço, decidi não alimentar o assunto. Na verdade, decidi parar de pensar nisso. Continuarei aqui, ouvindo Dream Theater e esperando a merda do sono chegar. ♪ Another Day

sábado, abril 21, 2007

Porque Ele não chora?


- Pior que dizer que você não presta é ouvir de suas amigas e amigos a mesma coisa...
Eram quase duas da manhã e a rua movimentada impedia um diálogo coerente. Ela permanecia com sua apatia e Ele transformou toda sua agonia em raiva. Faltava pouco para que aquela rua se enchesse de sangue, muito pouco...
- Eu te disse que isso não ia dar certo, não porque eu queria algo com você mas porque eu sabia disso, eu te avisei...
- Me avisou? Tem mais de um ano que você me enche de falsas esperanças. Seria fácil se eu dissesse simplesmente que eu gosto de você e que isso é infundado. Mas não, você procurou isso, e agora que eu gastei todo esse tempo de minha vida, você, com a maior normalidade do mundo diz que já sabia?
Era triste a cena. O pé dele sangrava incessantemente e ele mal sentia isso. O álcool havia possuído seu corpo de tal maneira que seria impossível sentir qualquer tipo de dor. Nem mesmo a da perda completa daquilo que ele mais almejava.
- E você veio aqui pra que mesmo? Já são duas horas da manhã e eu já estava dormindo.
- Você já se arrependeu de conhecer alguém?
- Você se arrependeu de me conhecer?
- Claro, você não vale o que o gato enterra. Você se sente completamente feliz brincando com as pessoas. Eu já te disse isso, todo mundo diz isso.
- Então tá, você vai passar por mim agora e falar "oi" e pronto.
- Nem isso, eu não quero falar com você nunca mais. Você não merece nem o meu desprezo.

Mais de um mês atrás:

Ele estava completamente livre daquele sentimento vão. Ele a amava, isso era óbvio. Mas esse sentimento era tão infundado, ou melhor, inútil, que ele por tantas vezes se viu sem saída.
Semanas antes ele resolveu se livrar disto. Impensadamente acabou se relacionando da maneira mais intima com uma amiga Dela. Foi estranho:
- Olha, Ela ta ficando com um cara ali ó...
- É, eu já imaginava...
Enquanto conversava com a Amiga, seus olhos mantinham-se fixados e vez ou outras seus narizes tocavam-se.
- Quer saber, eu nem quero ver essa desgraça...
- Hahahaha, para com isso moço!
Por um segundo seus lábios estavam tão próximos que a Amiga resolveu lhe beijar ternamente.
"O que é isso? - Pensou Ele - Eu sinto vontade, não há muito o que pensar sobre, a Amiga vale muito mais a pena do que Ela"
E aquilo aconteceu. Foi completamente impensado, pelo menos da parte Dele. Enquanto se beijavam, Ela passava mal e mantia-se sentada em uma cadeira.
- Peraí, você meio que namora com meu amigo. como que vai ser se ele souber?
- Se ele descobrir não estou nem aí.
Ele foi pra aquela festa imaginando que sua única solução seria gastar toda sua agonia com latas e garrafas. Em momento nenhum imaginou estar naquela situação. Tanto pela sua falta de expectativas quanto pelo desprezo que geralmente lhe era aplicado.
Gastou as todos os últimos minutos com a Amiga. Enquanto isso Ela, sentada em uma cadeira plástica, parecia não estar muito bem. Vez ou outra pensava que Ela iria vomitar. A Amiga chegou a dar-lhe algo para beber e conversar um pouco.
- Desculpa!! Ele é tão legal, desculpa!
- Vocês tão ficando... que engraçado...
Engraçado mesmo era aquela cena. Ela acabou ficando sozinha e foi amparada pela Amiga e por Ele. Ambos foram se dirigir a casa Dela, imaginando o que seria feito em seguida.
- Quer um cigarro? - disse a amiga.
- Pode ser, vamos ficar aqui na calçada...
- Vocês estavam beijando na boca... eu vi. – Disse Ela.
- Eu também, hehehehhe - disse Ele naturalmente.
Fumaram e conversaram sobre qualquer normalidade. Ela, vez ou outra, fazia alguma observação, Ele ria.
Depois de certo tempo, a Amiga resolveu ir ao banheiro. Ela aproveitou o momento para dar a Ele um selinho e justificá-lo com:
- Se ela ver isso vai ficar com ciúmes.
Ele nada respondeu, já entendia sua forma de se relacionar com as pessoas. Era total perda de tempo.
Por três semanas aquela situação se manteve. O único absurdo era a submissão da amiga. O Amigo Dele mantinha uma relação completamente desigual. Ele tinha completa certeza da sacanagem que imperava nisso. Estava disposto a esquecer Ela e continuar se relacionando com a Amiga normalmente, mas isto era impossível. Da mesma maneira que Ele muitas vezes fez escolhas absurdas e cegas por causa Dela, a Amiga fazia igualmente por causa do Amigo.
Findada as três semanas, a Amiga e Ele continuaram se falando com freqüência, mas o meio-romance havia se terminado.
Sozinho e sem muito que fazer a não ser continuar a esquecer Ela, resolveu aleatoriamente beber um litro de vinho sozinho.
Estava na calçada de sua casa, com uma outra amiga conversando. Eis que Ela aparece. Não é nenhuma novidade aquela cena. Ela se mantém a vontade, como se eles não tivessem nenhum problema e nunca houvesse acontecido nada entre eles. O vinho apareceu em cena e a outra amiga acabou indo embora.
Sozinhos, a coisa mudava completamente de figura. Quando o vinho acabou Ela disse algo terno pra ele. Ao abraçá-la, o inevitável aconteceu.
Caiu em tentação mais uma vez. Ela era a serpente e ele estava comendo a maçã naquele instante. Imaginando que se arrependeria de não aproveitar aquele momento, limpou sua mente e continuou a beijá-la.
- Moço, eu já fique com 50 caras, e você é o único que eu digo que amo.
- Eu amo você também. Só tenho medo do...
- Do amanhã, eu sei. Amanhã eu quero ficar com você também...
Aquilo era inalcançável. Tanto pelo cheiro que Ela tinha na boca quanto pelo fato dele ter esperado por tanto tempo para sentir aquilo novamente.
Ela praticamente declarou-se durante toda a noite. A única coisa que Ele imaginava era que desta vez tudo seria diferente. Será que Ela havia mudado? Difícil acreditar. O mais importante era aproveitar o resto da noite que lhes agurdava.
Subitamente a luz que iluminava a calçada se extinguiu. As estrelas mostravam-se mais evidentes e a lua mais clara. Tudo mantinha-se perfeitamente. Uma pontinha de otimismo Lhe preencheu, não acreditava naquilo. Ela realmente lhe amava... A escuridão, eles a sós, o que mais faltava?
Saíram da calçada e foram para a cama. O sono imperava ambos e acabaram dormindo. Era como se um fosse o encaixe do outro. Tão rapidamente o sol se levantou que nem perceberam. Tudo era maravilhoso mas durou pouco tempo. Ela se levantou, foi para casa e Ele foi cuidar dos seus afazeres diários.

Esta estranha relação que Ele resolveu se privar (por auto-proteção) manteu-se por mais três dias. Ele entendeu perfeitamente porque não deveria prosseguir com aquilo no mesmo dia em que dormiram juntos. O absurdo foi-lhe esclarecido por uma amiga dela. Ela estava "namorando" com uma outra pessoa.
À noite, Ele chegou a questionar isso. Ela foi passiva, dizendo que o Outro era legal.
"Legal? E tudo aquilo sobre dizer que me amava, ontem? Será que ela realmente se sente bem brincando com as outras pessoas?"
A destruição estava impregnada em seu ser. Ele havia perdido toda sua autonomia, não conseguiria escapar dela tão facilmente assim. Precisaria de tempo e de muitos bons motivos (além dos que ele já sabia).
Depois do terceiro dia Ele afastou-se um pouco. Passou-se uma semana. A Amiga deixou evidente que preferia viver na submissão injusta com o Amigo, mesmo sabendo que a possibilidade dela estar sendo sacaneada fosse grande. Pura alienação.
Caindo em tentação novamente, Ela foi a sua casa. Não chegou a dormir em sua casa, mas não houve pudor em suas atitudes.
- Está vendo como é difícil me afastar de você? Você não ajuda...
- Deixa disso moço.
E esta foi a última vez.

Até o dia fatídico, às duas da manhã, Ele se pôs a avaliar toda a situação. Todos falavam que Ela não merecia metade do que ele sentia. Aquilo era tão evidente quanto o azul do céu. Então porque ele fazia aquilo? Pelo mesmo motivo qual a Amiga mantinha-se submissa. Falta de reflexão e sentimento em demasia.
Era a hora de arrancar o que lhe restava no coração. Passou da hora Dele assassinar aquele assunto. A verdade mesmo era que Ela o usava. Nem se pode afirmar nada sobre a realidade dos sentimentos. Ela provavelmente não queria perder o que Ele sentia e por isso, vez ou outra, dava pequenas doses paliativas para manter a chama acesa.

Foram mais de três grades de cerveja. Ele já estava no nível de começar a falar dos problemas. Quando falou com um amigo seu, este lhe mandou a verdade absoluta.
- Não presta mesmo. Eu fiquei com Ela e foi Ela quem me queixou. Eu não te contei antes porque não sabia que você gostava tanto assim dela.
- Cara, você não é o primeiro que fala isso e não é o primeiro amigo meu que ela fica.
- Ah, aquilo não merece nada não rapaz...
- Filha da puta!
Munido de muita agonia misturada com raiva e arrependimento foi, ás 01:48 para casa Dela. Mandou ainda que ligassem pra Ela e avisassem que estava se dirigindo pra lá.
"Puta que pariu. Tão fácil ser enganado. Ela não sente nada por ninguém. A única coisa que ela não quer é perder a simpatia que os outros têm por ela. Ela não gosta de mim. Ela gosta de minha atenção. Filha da Puta!"
Pedalava agressivamente. Mal percebia que estava descalço e que o pedal estava meio-quebrado. Isso só iria fazer algum sentido depois que o efeito alcoólico cessasse.

- Então ta, você vai passar por mim agora e falar "oi" e pronto.
- Nem isso, eu não quero falar com você nunca mais. Você não merece nem o meu desprezo.
- Ta, então a agora a culpa é toda minha...
- Na verdade, você faz isso com todo mundo. Vou embora daqui e você vai dormir sem nenhum ressentimento, como se eu nem existisse.
- AH! Eu já cansei de não dormir pensando em você!
- Pensando em mim? Filha, você não pensa em ninguém. Você não sente porra nenhuma por ninguém.
- Olha, eu vou entrar viu!
- Pode entrar. Falta de argumentos. Falta de tudo. Você é a desgraça que me fez perder mais tempo do que eu deveria.
- Boa noite viu.
- Boa o caralho!
E voltou da mesma forma que veio. Aquilo estava aniquilado. Pensava não sentir mais nada por Ela, só arrependimento. Quando voltou para a festa, para contar sobre o ocorrido percebeu que havia sangue.
Não havia dor, mas aquilo foi muito bem feito. Nunca havia feito besteiras depois de alguns copos, mas aquela valeu muito a pena. Estava livre e queria muito que Ela sofresse. Não valia a pena gastar mais nada com aquilo.
Estava sozinho novamente. Por já ter se acostumado com aquilo nem fez tanto efeito. A única preocupação é quanto a sua coragem. Será que Ele vai novamente esquecer todas as verdades para novamente sentir a inutilidade que Ela lhe proporciona?
Desta ou de outra maneira, Ela acaba de ser interrada. Pena ter demorado tanto para perceber que nada disso valeu a pena. Por mais feliz que tenha sido, o que Ela sentia (se sentia) não supre metade do Ele quer. E o pior, vai ser tão fácil esquecer isso que é como se eles não se conhecessem.
"Que seja. A satisfação de não me sentir idiota supera a falsa-alegria de estar perto dela. Por mim morre agora. O que realmente importa é não me deixar ser possuído por qualquer sentimento. Esse é o grande mal."
E esta foi a última lágrima que Ele proferiu. Difícil descrever a sensação de alívio. Estava livre. Talvez esta seja a única coisa boa de toda essa história.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Superando a auto-destruição



É foda.
Nesse momento a única coisa que penso é até quando eu vou suportar todos os obstáculos que se têm passado em minha vida. Ou pior, se eu ainda vou conseguir passar por eles. Pedras e mais pedras, o tempo todo.
Se já não bastasse a minha adolescência conturbada (e se eu fosse narrar sobre ela eu teria que dividir esse texto em dois), eu ainda tenho que aturar a dificuldade de me manter constante nessa, teórica, fase de transição entre o carinha de 19 anos e a sua possível vida de adulto.
Eu não imagino, e nem quero, que minha mente e forma como vejo as coisas mude drasticamente. No atual momento eu realmente não quero virar outra pessoa. Pelo menos isso.
Mas na questão felicidade/bem estar, eu esperei (e continuo até hoje) por longos 6 anos por qualquer mudança. E, só pra variar, tudo pende para o pior lado. Fica cada vez mais evidente que o destino é o grande buraco-sem-fundo que está cada vez mais próximo.
Logicamente, não fui eu quem o construí. Mas é inevitável acreditar em outra coisa... Entra ano, sai ano, todos eles repletos de datas comemorativas e floreios que não me animam nem um pouco, e as coisas permanecem iguais. Ou piores, como é o caso atual.
Sempre me vi como uma pessoa sem sonhos. Um anseio aqui, um desejo forte ali, mas nada que possa se encaixar exatamente como sonho. Eu sempre achei isso estranho, mas por um lado até que isso era favorável, já que incrivelmente, no geral, eu não costumo alcançar um objetivo qualquer, ter um sonho seria muito penoso para mim.
Eis que acontece, milagrosamente, ou sacanamente, de ter algo do gênero. E vamos lá, mais uma vez chegar bem próximo do querido abismo.
Quando tinha 15 anos eu vivi a fase mais foda pra mim. Eu depois dos 16, 17, ficava imaginando como foi que eu consegui suportar aquilo tudo. Na época eu até tentei me jogar no buraco de vez, e as coisas estavam tão ruins que a melancolia se confundia com o bem estar, de tão acostumado que eu estava.
Hoje, parece que eu voltei no tempo e sinto a mesma, senão pior, coisa. Diferentemente, tudo se tornou insuportável e eu nem sei mas o que fazer. Antigamente eu escrevia simplesmente por me sentir melhor, mas hoje nem isso adianta.
Como eu disse ontem a uma pessoa. Sempre tive meio que essa reação natural aos problemas, fugir. As coisas parecem se solucionar quando elas não estão lá, ou quando você não está lá com elas. Escrever era mais ou menos assim... Tentar materializar no papel tudo que me aflige e mandá-lo para longe, ou, com a beleza das palavras, fazer parecer que no fundo no fundo, a tristeza tem um quê de poético.
A motivação acabou. E eu tento compreender porque que passo por tudo isso a tanto tempo. É estranho, porque pra tantas pessoas as coisas vêem tão fáceis e o menor desejo meu soa como uma utopia.
De tantas experiências frustrantes eu acabo por me deixar cair. Tenho essa dor de barriga constante que não me deixa descansar um segundo. As vezes eu nem espero mais nada do que quer que seja, já prevendo o fatídico solavanco que acontece constantemente.
Quando eu converso com alguém sobre não estar muito bem, sempre vêem com aquele discurso pré-fabricado da minha falta de otimismo. Mas é fácil, para quem consegue uns vinténs hora ou outra, falar para o pobre coitado que nunca teve, ou que quando tem os perde repentinamente, sem ao menos te-los gasto, que é preciso ter calma e pensar positivamente, pois “dias melhores estarão por vir” é a coisa mais fácil do mundo...
Cansei velho. Estou vendo a vida passar e ando tirando muitas poucas coisas boas dela. Acredito ter tido muita sorte em ter todos os sentidos em ordem (apesar de usar óculos), todos os membros e, até certo ponto, minhas faculdades mentais não estão comprometidas. Mas não quero ficar vivendo de esmolas.
Uma coisa que ultimamente eu tenho pensado, era sobre a obtenção dos objetivos em detrimento do merecimento. É até meio suspeito eu me elogiar, mas eu terei que fazê-lo para fundamentar o que disse. Por incrível que pareça, e mais uma vez, relacionando com os outros seres humanos, eu posso dizer que eu sou uma boa pessoa. Sim, eu realmente acho que sou.
Certo que algumas pessoas não me suportam por eu não obedecer algumas regras pré-estabelecidas ou por a minha falta de vergonha em dizer o que eu realmente acho. Outras acham que eu só faço as coisas para aparecer, tem também os que acham que eu sou idiota e por fim, os que não gostam por não gostar mesmo. Claro que devem haver outros motivos, mas os que eu consigo discernir são esses.
Ser uma boa pessoa, ao meu ver, seria um ponto a meu favor, ou pelo menos algo relacionado a isso. Mesmo ciente de que o universo está predisposto a desorganização, eu não consigo conceber que as coisas se dêem de maneira diferente. Pode parecer que eu estou querendo algo em troca do meu jeito de ser, e talvez até tenha algo a ver com isso, mas é que meu senso de justiça (se é que eu posso chamá-lo assim) me faz crer que se uma pessoa faz algo de bom, que mal há em ser feito algo para ela?
Obviamente que eu não sou assim para receber algo em troca, claro que não. Isso é minha essência. Mas pense comigo, porque que figuras completamente destrutivas, egoístas ou até virulentas conseguem sair-se tão bem consigo mesmas?
Abaixando um pouquinho a escala, as pessoas teoricamente normais, mas que só pensam em suas próprias vidas, porque que pra tantas delas quase não há dificuldade? E bem, porque que eu estou no mesmo caminho a anos, em diração ao nada?
Por fim, nem o sossego do sono tenho mais. Tento dormir a maior parte do tempo, já que pelo menos quando se está desacordado, minha mente descansa e eu não tenho que me afligir tanto com os conflitos já malhados de minha vidinha.
Até isso me dá trabalho, rolo na cama por horas e quando já estou desistindo o sono começa a vir. Alguma vezes dá até pra ver o sol nascer, mas nem isso me alegra mais. O restante do dia eu tento ficar o máximo possível de tempo na cama, e quando isso se torna insuportável eu começo a fazer o que quer que tenha.
E cá estou eu. Escrever não vai melhorar em nada as coisas. Nem o sono chegará por isso. Nem os que me odeiam deixarão de odiar-me. Nem os que eu gostaria que me amem me amarão. E pensar que se eu fosse mais egoísta as coisas possivelmente seriam diferentes.
È um preço alto que se paga por não se importar apenas consigo. Mas o foda mesmo é ter quase que certeza que até o fim dos dias eu serei assolado por esse mal estar. É um câncer em mim que destrói tudo, até os sonhos, e não me deixa em paz, como se eu fosse o merecedor supremo de todas as injúrias.
Talvez os meus fundamentos não tenham sentido algum, mas que eu ando me fudendo nessa história de existir, isso eu estou.
Fazer o que agora? Postar no blog, desligar o computador e começar mais uma longa batalha pelo sono. Pra depois, amanhã a noite, pensar comigo, suportei mais um dia, aleluia! A bela saga do viver de esmolas... Ficar aqui me contentado por existir, porque não faço idéia de como seria se não o fosse (talvez fosse melhor).
E para os que conseguem estar bem consigo mesmo. Parabéns, e agradeça todo dia por você não ser eu. Sinto, apesar de tudo, não querer ser outra pessoa, mas pra ser eu tem que ter uma coragem tão absurda que supera o pular de uma ponte.