sábado, julho 07, 2007

De Volta ao Asteróide B-612



Jamais esquecerei o dia mais triste de toda minha breve existência. A destruição que cada lágrima produzia dentro de mim. A minha incapacidade de acreditar em absurdos. A minha perplexidade de olhar pra você e não dar risada. De olhar pra você e não te achar irresponsável. De não ter nunca mais o desprazer de esperar suas 2 horas de banho. E pior, depois disso ver que seu cabelo continua horrível.
São tantas lembranças que eu me sinto incapaz de chamar isso de texto-homenagem ou despedida. Você sabe que vivemos juntos por alguns anos. Arrisco dizer que em algumas épocas, eu vivia mais com você do que com minha própria família. Se bem que, durante algum tempo você foi minha família. Meu pai, meu filho e meu irmão.
Parece que toda uma vida passou diante dos meus olhos. Vi você crescer. Vi você praticamente deixar de ser um menininho-de-apartamento. Mesmo quando você virou alguém que eu achava fabuloso, continuei te chamando assim, mas era mentira.
Lembro que foi com você meu primeiro porre de vinho. A primeira vez que sentei numa mesa de bar pra tomar cerveja. O primeiro cigarro que consegui tragar. O primeiro baseado que fumei e por sinal, não bateu onda.
Melhor foi aquela madrugada no ‘portal’. Aquela ladeira mágica em Nova Canaã, onde deitamos com 2 garrafas de vinho Dom Bosco e ficamos vendo as milhares de estrelas cadentes que passavam e você me apontava, ou eu apontava pra você. As melhores eram as que nós víamos juntos.
Me arrependo amargamente dos 4 meses que passamos sem nos falar. Eu só queria ter mais um dia pra dizer que amava você, mais uma vez. Pra te dar mais um abraço, igual aquele que você me deu quando eu fui em Vitória da Conquista te chamar na sua sala. De poder tocar só mais uma vez O Ultimo Romance ou Casa pré-fabricada com você. De ficar ouvindo Explosions In The Sky na varanda da casa de sua avó e ficar conversando sobre a vida.
Só mais um dia pra esperar você ficar 2 horas no banho. Pra ouvir seus casos amorosos e contar o meu mais recente (que só lhe contei o princípio). Só mais um diazinho, pra eu dizer que você não é o Rei do Mundo, por me apresentar as melhores bandas existentes (mas você sabe que eu estava mentindo né?).
Só mais um dia pra te mostrar como eu estou conseguindo tocar As Blood Runs Black. Pra mostrar como o meu Harmônico Artificial está progredindo, sendo que o seu supera o meu milhões de vezes e eu nunca disse isso. Queria também que você me ligasse de madrugada mais uma vez, bêbado de preferência, e com sua voz triste me contasse alguma coisa. Depois, mandasse uma mensagem pra meu celular com alguma frase bonitinha que viesse de sua cabeça.
Só queria que você tivesse mais um dia pra eu mandar outra carta (que você não me responderia, provavelmente). Contar-te todos os detalhes da nova fase da minha vida. Eu estive feliz? Sabia? Te contar coisas legais e te mostrar os mais novos textos que eu provavelmente faria. Nenhum seria angustiado.
Lembro que você me disse que estava atrasado nos meus textos e que iria lê-los depois. Nossa última conversa você disse também que iria entrar no msn de novo pra conversarmos. Odeio o fato de que isso nunca vai acontecer.
Vou sentir falta da promoção da Oi, qual você usou por um bom tempo pra ligar aqui pra casa. Vou sentir falta, principalmente, dos seus trocadilhos ridículos e de suas caretas mais ridículas ainda. De você de touca na cabeça, acabando de sair do banho, parecendo um Playmobil e fazendo a brincadeira de mostrar a cabeça na parede, sumir, e mostrar em outro lugar, como se fosse um teletransporte.
Vai ser muito foda ver que não vamos envelhecer juntos (como eu sempre idealizei). Eu vou ter 40 (talvez) e você vai continuar com 19.
Não vou mais poder brigar com Amandinha sobre seu apelido. Ela acha Bebê, ridículo. Eu gosto.
Pior vai ser ouvir Radiohead e não pensar em você. Ouvir Explosions, The Mars Volta, As Bood Runs Black. O cd do Deftones que você me apresentou.
Mogwai, que eu também consegui dormir por 6 minutos de música, achando que tinham se passado 2 horas.
Vai ser foda ver um skate e não pensar em você. Ver um homem alto e não pensar em você. Um tênis gigantesco também. Não poder te chamar bêbaca por causa de você estar sendo feito de gato e sapato por alguma menininha. Vai ser foda ouvir o The Artist In The Ambulance, do Thrice, e não lembrar da gente no grêmio do ISBA, conversando sobre movimento estudantil e pelegagem.
Passar pela pituba e não lebrar de você é impossível. Vitória da Conquista ideem.
Pensar numa Gibson sem você em mente, não existe. Na palheta Big Stubby (joguei uma no seu túmulo, pra você também ter uma minha). Na caixa Marshall que eu comprei e é igual a sua. Nietsche, Schopenhauer. O seu apelido no mIRC de mil anos atrás que você não quis vender e se fudeu por isso, Shotgun.
Aquela tarde horrível no seu prédio. Aquelas tardes. A que você não deixou eu comer a pizza grande e queria me convencer que eu deveria me empanturrar de pizza brotinho. Eu saí estressado de sua casa. E a que íamos tocar juntos e você preferiu ficar na piscina com Ana Clara. Foi por isso que paramos de nos falar, basicamente =/.
Ouvir Fuck The Fashion de Vinny.
Ler o Pequeno Príncipe de novo pra mim será um tormento. Lembrar de como você falava mal do meu primeiro celular, o Patagônia.
Ninguém nunca vai superar a sua risada do msn, maiúscula e minúscula e rápida. Suas goiabices também são inimitáveis.
A palheta que eu te roubei e depois você me deu oficialmente, jamais será perdida (eu ainda me pergunto por que eu não a perdi ainda, depois de 2 anos com ela).
Pegar o ‘Praia do Flamengo’ sem lembrar das nossas gastações no ônibus. Velho, você foi embora sem eu te contar qual o significado de ‘dormir de calça jeans’ que você falou pra mim o ano todo que era maluquice de pessoas stellamarenses.
São tantas coisas nesses anos que eu nem sei mais o que escrever. Eu te conhecia o suficiente pra prever suas ações. Você também.
Eu nunca chorei no seu colo. Você chorou uma vez, incessantemente.
A imagem que vai ficar na minha memória é você fazendo caretas horríveis. Ou você comendo aquela estampa da sua camisa ridícula. De você e seu cabelo todo quebrado.
A praia e um vinho nunca mais terão o mesmo significado sem você.
As discurssões políticas sem você não terão o mesmo sentido. Jogar The Sims e lembrar das suas péssimas imitações serão completamente angustiantes.
Eu nunca te disse isso, mas lembro de uma conversa sobre estar satisfeito com quem somos. Eu estava satisfeito comigo, mas eu achava você uma pessoa invejável. Se eu não pudesse ser eu, eu ficaria feliz em ser você.
Amigo, irmão. Doeu tanto segurar a alça do seu caixão que eu não sinto mais nada. Pensei que depois da morte do meu gato Fidel eu nunca mais choraria. Me enganei absurdamente. Parecia uma criança. Ainda agora, enquanto escrevo, alguma lágrima se dispõe a descer pelo meu rosto e eu sou obrigado a tirar os óculos.
Espero muito que você não tenha simplesmente deixado de existir. Que você olhe pra mim de onde quer que esteja e me conforte agora. Me dê um abraço. Que me veja crescer e ficar velhinho, quem sabe.
Eu quero parar de sofrer, sério mesmo. Quero só lembrar de tudo e dar risada. Rir como você fez naquele dia no ponto de ônibus. Chorou e tudo mais.
Não vou te esquecer não velho. A rosa do pequeno príncipe agora sangra incessantemente. Você ficará em minha mente e ela em minha costas, em breve.
Forte abraço.

Anderson

12 comentários:

Anônimo disse...

Um amigo, uma batalha, uma guerra pela paz, um olhar, um sorriso, um joelho hipersensivel, uma cara de irritado, um longo sorriso mais tarde, um caderno riscado por frases celebres e matematica desfalcada, um odio cuidadoso com o mundo, um leão docil que fugiu do adestramento, ainda assim um leão com suas garras prontas pra devorar o mundo, um sonho, um grande sonho, dorme em paz BB!

Unknown disse...

:/

confesso que me emocionou o texto..
Andersson.. no momento em que soube do fato, pensei em vc, no seu sofrimento como amigo, sempre soube que ele era um grande amigo seu. infelizmente isso ocorreu, não se pode nem culpar pelo alcool ou inrresponsabilidade... infelizmente parece q tinha q ocorrer isso.. estou triste :/ so falei com ele 1 fez na vida e foi o sulficiente pra deixar uma avaliação na minha mente, 2 minutos conversando eu saquei.. esse cara eh mto gente boa, tanto é que qdo eu fui falar com paloma sobre seu nick no msn ela me disse, véi, lembre de BB eu falei: sim, aqle alto, loiro gente boa? então veio a noticia :/
isso vai passar, e quando vc tb se for, vcs se reecontraram e darão muitas risadas sobre essa vida ridicula que o mundo vive... espero que vc melhore, mas eu sei q vai ser dificil.

Abraços!

allinne s. disse...

Eu escrevi uma coisa tbm, no dia.Eu não sei,... tudo é muito estranho mesmo. A vida é sempre esse enigma, e a morte essa esfinge. E o nosso coração, pequeno demais pra tanto sentimento.E eu achava ele super bonito, mas nunca falei, tbm o olhar dele p mim era:"Quem é essa doida?" =)Como Drummond escreveu, 'Há feridas, meu bem,que as vzs ñ sara nunca, as vzs sara amanhã'. =)

"E como numa milícia, quando um é baleado, todos são atingidos. Um dos nossos... Por que será que nós pensamos que temos domínio sobre a vida e seus diversos acontecimentos? A vida é tão frágil, tão..."agora" e nada se pode fazer diante dessa realidade tão dolorida. E sempre espera-se que, quem a tem, a vida, cuide com cuidado, dela e dos que estão nela. Mas sempre se esquece. Mas quando um dos nossos se vai, esse detalhe óbvio nos solta ao peito. E esse silêncio que agride, a falta da tua presença,coisas que queimam o peito de quem te ama. E não foi mais uma estatística, o que se foi. Foi mais um universo cheio de sonho e desejo, e que deixou o mundo um pouco mais triste, mais estranho. Mesmo que tenha sido apenas os da tua milícia. E da vida, quem é que sabe? O que pode ser, ou o que não é? Ninguém nunca sabe..."

Abraço, Anderson querido.

Anônimo disse...

Também não consigo conter as lágrimas.
Em pensar que o que eu mais discutia com ele era a incerteza do nosso futuro.
Agora, só agora, consigo compreender que o nosso futuro é mesmo muito incerto, totalmente incerto, a própria incerteza! Gostaria que as provas pudessem ter sido menos duras.
Ele está te olhando, meu querido. Isso é uma certeza! E ele está em você.

Um beijo grande, um abraço BEM apertado...

Mari disse...

Eu soube do incidente, mas não sabia que era seu amigo... sei que minhas palavras são insuficientes para te consolar... eis mais um inverno...

Fiquei bastante emocionada... mas é como eu já havia escrito no meu blog, em um dos textos, "quando a morte chega cedo, muda a ordem das coisas, a gente se assusta. Ela balança a gente porque traz à tona a certeza da nossa finitude(...)Depois que um amigo meu se foi eu conclui o quão a vida é frágil, efêmera e singular, e a gente tem que dar o devido valor à ela... pq um belo dia vc deixa de existir e pronto.

Nao dá pra procurar entender essas fatalidades... não dá! Mas, se tu precisares de mim, tô aí... beijo!

Unknown disse...

Anderson, eu não sei nem o que te dizer. Foi uma perda trágica. Sei que BB era grande amigo seu, e talvez vc n saiba, nem ninguem do isba soubesse, mas o conheço desde o maternal. Sim, ele foi o José do presépio, enquanto eu era a Maria. Sim, como toda criança, a gente brincava de pega pega, e acabava sempre comigo batendo nele... ou com ele me defendendo dos outros meninos.
Queria ter ido ao enterro, uma ultima chance de dizer a ele que mesmo em caminhos tão diversos, ele ainda era meu coleguinha de maternal, alfa, prontidão, 4ª série.
Mas boas lembranças sempre vão ficar. E a lição de que o tempo não perdoa ninguém, quando achamos que temos todo tempo do mundo, o mundo o rouba de nós. Nunca é cedo demais pra dizer o que tem que ser dito, fazer o que tem que ser feito.
Sinto saudades. E me preocupo com a dor da perda dos mais próximos dele. Se puder ajudar em algo, hoje e sempre, estou a disposição.
Beijos

Anônimo disse...

Lembrarei das piscinas, das plantinhas do play, dos açais escritos no concreto, das ligações bebadas que eu fiz, das risadas, das lágrimas, e de todas as outras coisas que ainda me ligam à melhor pessoa que eu já conheci.
é inaceitável essa perda tão grande, imensuravel. diego era a última pessoa que podia fazer essa viagem pra tão longe... e é só isso que eu consigo pensar agora.

ele viajou pra bem longe, e a gente não teve tempo pra se despedir.

sinta-se abraçado, as usual.

Guare disse...

Se eu fosse mensurar em palavras a dor que a perda de alguém como ele causa, eu iria além do que meu parco cérebro conseguiria escrever. A vida foi áspera, tivemos arestas que nunca foram aparadas, mas qual relação não as possui? Só lamento não poder ter sido mais eu quando eu fui necessário. Malditas máscaras que me impediram de ter uma amizade plena. Talvez agora, que eu tenha esse peso do arrependimento em minhas costas, eu aprenda a viver mais cada amizade e ser verdadeiro comigo mesmo. É, até na hora derradeira, Bebê me ensinou como viver.

Anônimo disse...

muito lindo :)

Guare disse...

"se não gosta dos cores da vida, IDE A MERDA"

O link não abriu por motivos óbvios. Seja menos específico da próxima vez.

Guare disse...

Cara pessoa:

Eu, sim sou uma pessoa arrogante, quando, apenas, estritamente necessário. A arrogância, diferente do que você deve estar imaginando, não é uma arma ofensiva, e sim defensiva. Impede que erros antes cometidos ocorram novamente. E note que eu apenas transcrevi uma parte do meu post. E se você se sentiu ofendido, pense que foi você que, do nada, chegou dizendo que a banda é uma merda, embora isso não me afete muito.

E quanto ao orkut, não subestime minha inteligência: Eu TENHO uma conta inutilizada. Apenas não compreendi lhufas do link que você postou. Tentei copia-lo e cola-lo algumas vezes e falhei em todas. Ser menos específico é justamente dar um jeito de diminuir aquele calhamaço de letras.

Sou seco com você porque esta é a abertura que você me dá, se me permite dizer isso. Eu admito que fiz merda, o problema é que você nunca adimitiu.

Não tenho intenções de me comunicar por aqui visto que este meio é muito tosco. Se você REALMENTE se sentir tentado a conversar sobre isso, por emeiúl, be my guest.

Aviso que estou confortável do jeito que as coisas estão, e a única razão pela qual comentei aqui no seu blog (vide acima) foi o infortúnio que se abateu sobre nossas duas vidas. Afora isso, seria difícil algo do gênero. De resto, passar bem.

Mas pra não dizer que eu sou esse escroto todo, adorei o nome do teu gato falecido.

Saudações.

Anônimo disse...

Não te conheço, querido, mas a força do acaso me troxe até aqui.
Li todo o seu post. Chorei.
Chorei dada a emoção com que escrevestes e chorei dada a emoção causada pelas lembranças que essas palavras me trazem!
Assim como vc, eu perdi tão cedo um grande amigo, um grande irmão. O maior deles!
Não direi que eu sei o que vc sente, porque cada amizade é diferente e cada sentimento tambem, mas eu sei o que e como é sentir algo mto parecido com isso!
E...estamos travando uma luta parecida, meu querido desconhecido!
"Como aprender a viver sem aquele que sempre nos mostrou o caminho, sem aquele que sempre seguiu o caminho conosco"
Nenhuma palavra que eu disser vai amenizar nada!
Nenhuma historia que eu contar vai fazer diferença!
É o seu peito que está sangrando e palavras não vão estancar essa dor.
Mas se por algum acaso vc precisar de alguem pra qualquer coisa, alguem que vá entender ao menos superficialmente o que sentes, procure-me!
Eu fiz isso uma vez e, certamente, essa foi uma das esperiencias que me ajudou a voltar a respirar...

Espero, sinceramente, com toda minha força vital, que essa dor que te consome possa te esquecer cada vez mais.
Não se engane, essa dor não acaba, mas as vezes, ela esquece de nós por algum tempo.

Não desejo a ninguem, nem ao meu pior inimigo, a dor que sinto!

Um grande, forte e demorado abraço! =)

Patricia!